O número de mortes da megaoperação no Rio de Janeiro chegou a 132 após moradores do Complexo do Alemão levarem ao menos 74 corpos para a Praça São Lucas na manhã desta quarta-feira (29). Os novos óbitos não constam ainda no balanço oficial do governo do estado, de outras 54 mortes, e devem passar por perícia para confirmar a relação com a operação deflagrada nesta terça-feira (28).

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Os cadáveres foram retirados da mata da Vacaria, na Serra da Misericórdia, onde ocorreram os confrontos mais violentos entre policiais e traficantes na megaoperação, e foram levados pelos moradores ao longo da madrugada desta quarta-feira com ajuda de caminhonetes. Através de fotos, é possível ver uma fila de cadáveres sobre o asfalto da comunidade. Os próprios moradores retiram os corpos dos veículos.

Segundo apurações do O Globo, o clima é de tristeza na comunidade. Moradores se aproximam dos mortos e levantam os lençóis e cobertores que os cobrem para ver os rostos e reconhecê-los. No entorno, dezenas de pessoas observam a cena e apontam para os corpos, enquanto outros limpam as lágrimas. Em dado momento, os moradores rezaram um Pai Nosso.

— Como pode destruir tantas famílias, tantas vidas? E ficar por isso mesmo? — disse uma mãe ao O GLOBO, enquanto passava a mão no rosto do filho morto.

Muitos dos mortos tinham feridas de bala e alguns estavam com o rosto desfigurado.

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ONU diz estar “horrorizada”

A Organização das Nações Unidas (ONU) se declarou “horrorizada” com a megaoperação no Rio de Janeiro nesta terça-feira (28). Por meio da rede social X, o Escritório de Direitos Humanos também pediu investigações “rápidas e eficazes” sobre o caso.

“Estamos horrorizados com a operação policial em andamento nas favelas do Rio de Janeiro, que supostamente já resultou na morte de mais de 60 pessoas, incluindo 4 policiais. Esta operação mortal reforça a tendência de consequências letais extremas das operações policiais nas comunidades marginalizadas do Brasil. Lembramos às autoridades suas obrigações sob o direito internacional dos direitos humanos e pedimos investigações rápidas e eficazes”, diz a publicação.

Ainda nesta quarta-feira, o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se reúne com o ministro da Justiça Ricardo Lewandowski para falar sobre a operação do Rio de Janeiro. Nesta terça-feira, o ministro informou que não recebeu nenhum pedido de ajuda do governador do Rio, Cláudio Castro (PL), para a ação.

A Secretária de Segurança Pública do Rio de Janeiro afirmou que a operação foi planejada com muita antecedência. Ao menos cinco unidades de Atenção Primária foram fechadas, segundo a Secretaria Municipal de Saúde.

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Megaoperação

De acordo com números do Palácio Guanabara, esta é considerada a operação mais letal da história do estado, com 64 mortes, divulgadas oficialmente pelo governo do estado, nesta terça-feira. Nesta quarta, o governador Cláudio Castro (PL-RJ) confirmou oficialmente 58 mortos, sendo que eram 54 criminosos. Ele não esclareceu por que o número do balanço de ontem foi alterado. Entre os seis feridos estão duas pessoas apontadas pela polícia como suspeitos.

Entre os mortos estão quatro policiais civis, três policiais militares, dois homens apontados como traficantes vindos da Bahia e quatro moradores. Ainda, três inocentes foram atingidos: um homem em situação de rua, atingido nas costas por uma bala perdida ; uma mulher que estava em uma academia e também foi ferida, mas já recebeu alta; e um homem que estava num ferro-velho.

A megaoperação tem como objetivo cumprir mandados de prisão contra integrantes de uma facção criminosa, sendo 30 deles fora do Rio de Janeiro, que estariam escondidos em favelas. A última atualização aponta que 81 pessoas foram presas e 75 fuzis, duas pistolas e nove motos foram apreendidos.

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