Foi com um aviso coletivo, feito por meio de nota, que o operador de furadeira Airton Oribka, 36 anos, soube que a empresa na qual trabalhava há 8 anos faria uma grande demissão. Ele está entre os quase 400 funcionários que foram demitidos na quarta-feira (18) pela Artefama, uma produtora de móveis de São Bento do Sul. O desligamento é um desdobramento das sanções impostas pelo tarifaço estadunidense de Donald Trump (Republicanos).

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Airton conta que já esperava que as demissões fossem ocorrer em algum momento. Entretanto, a notícia ainda pegou alguns colegas de surpresa.

— Desde que aconteceu a taxação das exportações para os EUA, antes a empresa estava bem, mas aí depois a gente já foi vendo que as coisas estavam indo muito abaixo do esperado da empresa, a redução de produtos. Nós, como éramos mais velhos, já sabíamos que iria acontecer [a demissão], mas alguns ficaram surpresos — afirma.

Airton conta que o comunicado sobre os motivos das demissões foi feito por meio de nota. Depois, eles foram sendo desligados um a um. Inclusive, imagens publicadas das redes sociais, mostram a fila de centenas de trabalhadores aguardando o desligamento.

— O sentimento que ficou foi de tristeza. Era uma empresa boa para se trabalhar. É uma pena grandes empresas chegarem nessa situação — opina Airton.

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Agora, o trabalhador afirma que seguirá fazendo trabalhos pontuais, mas que no próximo ano pretende se mudar para Joinville em busca de um novo emprego.

Veja fotos do setor moveleiro em SC

Empresários preocupados

O o presidente do Sindicato de Indústrias da Construção e do Mobiliário (Sindusmobil), Luiz Carlos Pimentel, afirma que a demissão em massa vista em São Bento do Sul é um reflexo do encolhimento do setor depois das novas regras tarifárias impostas pelos Estados Unidos. Mesmo com a tentativa de utilizar diversos recursos, como férias coletivas e redução de jornada, o setor pode não conseguir se sustentar por muito tempo sem o auxílio direto do governo federal para reduzir as taxas.

— Algumas indústrias ainda estão negociando com seus clientes americanos para embarcar produtos ou, até mesmo, renovar alguns pedidos para poder trabalhar dentro do processo de produção. Ao mesmo tempo estão buscando novos mercados dentro do próprio Mercosul, Europa. Mas isso tudo demanda muito tempo e investimento por parte das empresas — afirma.

Pimentel ainda diz que, apesar da pressão de entidades empresariais, o setor não constatou “nenhum avanço diplomático entre o governo brasileiro e o governo americano”.

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— Isso, de certo modo, nos causa angústia e até uma certa indignação. Porque se trata de um dos setores da indústria que mais movimenta a economia da nossa região e, até mesmo, parte da economia do nosso Estado, e por consequência do próprio Brasil. Então, a gente vê com muita preocupação a continuidade desses níveis de tarifa — revela.

Para o presidente do Sindusmobil, a falta de previsibilidade é o que causa mais preocupação aos empresários, principalmente do setor moveleiro da região. Aproximadamente 60% dos produtos da categoria, produzidos no Planalto Norte catarinense, vão para clientes dos Estados Unidos.

— Sem uma previsão de geração de caixa no futuro, as empresas acabam tomando medidas drásticas, que no caso são as demissões. As demissões têm começado a aparecer com o objetivo das empresas salvaguardarem a própria sustentabilidade. São medidas como um último recurso, mas que o empresário acaba tendo, de fato, que tomar esse tipo de decisão — lamenta Pimentel.

Confira a nota completa da Artefama

Prezados srs.,

Indústrias Artefama S.A. comunica que está promovendo uma reestruturação importante para se adaptar às mudanças recentes no mercado internacional, que reduziram de forma significativa nossas vendas.

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Como parte desse processo, será necessário reduzir grande parte de nossa equipe para manter a operação viável e preparar a empresa para um novo ciclo de crescimento. Essa foi uma decisão difícil, mas necessária para garantir que continuemos produzindo e mantendo nossa presença no município.

Estamos reorganizando nossos processos e explorando novos mercados com o objetivo de recuperar gradualmente nossa capacidade produtiva e, assim, voltar a gerar empregos no futuro.

Seguiremos comprometidos com esta comunidade e confiantes de que esse ajuste abrirá caminho para dias melhores.

Atenciosamente,
Indústrias Artefama S.A.

*Com informações de Walter Quevedo, NSC TV.

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