O impacto negativo das medidas tarifárias impostas ao Brasil pelos Estados Unidos começa a ser visto em Santa Catarina. Nesta quarta-feira (17), cerca de 400 funcionários foram demitidos por um empresa de móveis de São Bento do Sul, cidade do Planalto Norte do Estado. Especialista afirma que a continuidade do tarifaço, anunciado pelo presidente estadunidense Donald Trump em julho, pode trazer consequências ainda maiores para a região.
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Para o presidente do Sindicato de Indústrias da Construção e do Mobiliário (Sindusmobil), Luiz Carlos Pimentel, a falta de previsibilidade é o que causa mais preocupação aos empresários, principalmente do setor moveleiro da região. Aproximadamente 60% dos produtos da categoria, produzidos no Planalto Norte catarinense, vão para clientes dos Estados Unidos.
— Sem uma previsão de geração de caixa no futuro, as empresas acabam tomando medidas drásticas, que no caso são as demissões. As demissões têm começado a aparecer com o objetivo das empresas salvaguardarem a própria sustentabilidade. São medidas como um último recurso, mas que o empresário acaba tendo, de fato, que tomar esse tipo de decisão — lamenta Pimentel.
Veja fotos do setor moveleiro em SC
Empresários preocupados
O presidente do Sindusmobil afirma que a demissão em massa vista em São Bento do Sul é um reflexo do encolhimento do setor depois das novas regras tarifárias impostas pelos Estados Unidos. Mesmo com a tentativa de utilizar diversos recursos, como férias coletivas e redução de jornada, o setor pode não conseguir se sustentar por muito tempo sem o auxílio direto do governo federal para reduzir as taxas.
— Algumas indústrias ainda estão negociando com seus clientes americanos para embarcar produtos ou, até mesmo, renovar alguns pedidos para poder trabalhar dentro do processo de produção. Ao mesmo tempo estão buscando novos mercados dentro do próprio Mercosul, Europa. Mas isso tudo demanda muito tempo e investimento por parte das empresas — afirma.
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Pimentel ainda diz que, apesar da pressão de entidades empresariais, o setor não constatou “nenhum avanço diplomático entre o governo brasileiro e o governo americano”.
— Isso, de certo modo, nos causa angústia e até uma certa indignação. Porque se trata de um dos setores da indústria que mais movimenta a economia da nossa região e, até mesmo, parte da economia do nosso Estado, e por consequência do próprio Brasil. Então, a gente vê com muita preocupação a continuidade desses níveis de tarifa — revela.
Demissão de 400 funcionários
Funcionários que chegaram para trabalhar na Artefama, empresa de móveis em São Bento do Sul, durante a quarta-feira (17), foram surpreendidos com a notícia de uma demissão em massa. A empresa informou que os desligamentos chegam a mais de 100, enquanto o Sindusmobil fala em quase 400 demissões.
Nas redes sociais, a Artefama informou que “será necessário reduzir grande parte de nossa equipe para manter a operação viável e preparar a empresa para um novo ciclo de crescimento. Essa foi uma decisão difícil, mas necessária para garantir que continuemos produzindo e mantendo nossa presença no município.”
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Também comentaram que estão reorganizando processos e explorando novos mercados com o objetivo de recuperar gradualmente a capacidade produtiva e, assim, voltar a gerar empregos no futuro.
Esta foi a primeira demissão coletiva registrada depois de uma projeção divulgada pela Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina (Fiesc) na última semana. O estudo demonstrou que o setor de móveis de madeira pode ser um dos mais afetados pelo tarifaço. Considerando os demais segmentos da indústria catarinense, mais de 20 mil empregos podem ser perdidos em um cenário mais crítico, segundo o levantamento.
Negociações entre Brasil e EUA
O governo federal dispôs algumas alternativas para apoiar as empresas afetadas pelo tarifaço. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) anunciou, no dia 13 de setembro, o pacote “Brasil Soberano”, que tem o objetivo de reduzir os impactos das tarifas de 50% sobre os produtos brasileiros aplicadas por Donald Trump.
Entre as ações implementadas pelo governo, estão uma linha de crédito de R$ 30 bilhões para empresas que perderam competitividade no mercado externo e a abertura de ampliação de compras governamentais.
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O governo de Santa Catarina também anunciou um pacote de medidas financeiras para ajudar as empresas catarinenses. Entre elas, a postergação do pagamento do ICMS em 60 dias por três meses. São 295 empresas, 73 mil empregos e um impacto de R$ 36 milhões por mês.
Entretanto, Pimentel destaca que a alternativa não resolve o problema em sua raiz, já que, a princípio, o tarifaço seria mantido pelos próximos meses.
— Claro que ajudam em um primeiro momento, dão um fôlego, só que não resolve a questão, o problema. É difícil. As demissões em si elas tendem a ocorrer de fato, sabe? Não tem muita saída para algumas empresas se não fazer ajustes no seu quadro de colaborador, nos seus custos, essas coisas todas. Ao mesmo tempo, elas estão buscando novos mercados, estão tentando desenvolver produtos, buscando outras alternativas, mas não é uma coisa assim para se resolver num intervalo tão curto de tempo — diz o presidente do sindicato.
Confira a nota completa da Artefama
“Prezados srs.,
Indústrias Artefama S.A. comunica que está promovendo uma reestruturação importante para se adaptar às mudanças recentes no mercado internacional, que reduziram de forma significativa nossas vendas.
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Como parte desse processo, será necessário reduzir grande parte de nossa equipe para manter a operação viável e preparar a empresa para um novo ciclo de crescimento. Essa foi uma decisão difícil, mas necessária para garantir que continuemos produzindo e mantendo nossa presença no município.
Estamos reorganizando nossos processos e explorando novos mercados com o objetivo de recuperar gradualmente nossa capacidade produtiva e, assim, voltar a gerar empregos no futuro.
Seguiremos comprometidos com esta comunidade e confiantes de que esse ajuste abrirá caminho para dias melhores.
Atenciosamente,
Indústrias Artefama S.A.“
*Com informações de Walter Quevedo, NSC TV.
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