Dois jovens relatam uma ação “desumana” da Guarda Municipal após serem atacados com spray de pimenta na saída do Carnaval de rua no Centro de Florianópolis, na madrugada da última segunda-feira (3). O caso aconteceu na Avenida Hercílio Luz, quando os guardas dispersavam os foliões após o horário limite determinado pela prefeitura para a a continuidade das festas. A prefeitura alega que o casal teria “desrespeitado uma ordem”.

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Gabriel Leonel, de 32 anos, relata que ele e o namorado andavam em direção à casa onde moram, a duas quadras dali, também na Av. Hercílio Luz, quando foram atacados repentinamente com o spray.

“Tentei dizer que morávamos ali em frente, porém já vieram gritando, nos atacando com spray de pimenta e nos barrando de seguir na avenida”, disse ele, no boletim de ocorrência ao qual o NSC Total teve acesso.

Um vídeo registrou o momento em que o casal chega perto dos guardas, mas são impedidos de seguir em frente. Um dos agentes grita:

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— Não quero saber. Vão tudo pra lá, porr* — exclama, enquanto espirra spray de pimenta no rosto do casal.

As imagens mostram os jovens se movendo para o lado após serem atingidos. Em seguida, um segundo agente empurra o casal para trás e ensaia uma agressão com cacetete. Os dois dão meia volta, com as mãos no rosto.

O vídeo também mostra a ação da Guarda Municipal naquele local. É possível ver um dos agentes espirrando spray de pimenta contra outro grupo de pessoas, a alguns metros de onde o casal foi agredido. Outro guarda aparece dando um tiro de bala de borracha contra o chão. Também ouve-se bombas de efeito moral. As imagens não serão reproduzidas nesta matéria para preservar as identidades dos envolvidos.

Ação “desumana”

Na ocasião, a Av. Hercílio Luz estava sendo fechada para passar por uma limpeza, de acordo com a Secretaria de Segurança e Ordem Pública de Florianópolis. A prefeitura alega que o casal teria desrespeitado uma ordem dada a todos os foliões para que seguissem em outra direção.

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Questionada sobre qual o protocolo da Guarda Municipal em casos de dispersão, a pasta disse que os agentes primeiro usam comandos e, em caso de desrespeito ou resistência, empregam uso da força ou de recursos como spray de pimenta.

Segundo Gabriel, os agentes não fizeram nenhum aviso para eles de que a via estava bloqueada.

— Não tivemos nenhuma oportunidade de fala. Já chegaram gritando e jogando spray — diz o jovem.

A secretaria também diz que, momentos antes do vídeo, foliões que estavam no local arremessaram objetos cortantes contra os agentes. Gabriel nega que isso tenha acontecido:

— Nós dois éramos as únicas pessoas naquela calçada. Eles poderiam ter nos abordado verbalmente, que iríamos acatar e mudar a rota. Mas agir de forma agressiva, como se fôssemos animais, foi totalmente desumano.

Boletim de ocorrência

Gabriel registou um boletim de ocorrência após o caso. O NSC Total procurou a Polícia Civil para verificar se uma investigação será aberta sobre o caso, mas não obteve retorno.

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Na quinta-feira (6), o vereador de Florianópolis Leonel Camasão (PSOL) enviou uma notícia de fato sobre o caso ao Ministério Público de Santa Catarina (MPSC) apontando supostos crimes de abuso de autoridade e de injúria qualificada por homofobia. O parlamentar também pediu que o MP apure outros casos de repressão.

Dois dias antes, na terça (4), Camasão protocolou um requerimento para convocar o comando da Guarda Municipal para prestar esclarecimentos ao Plenário da Câmara Municipal sobre eventual abuso de autoridade e uso desproporcional da força contra foliões no Carnaval.

Veja a nota da prefeitura na íntegra

A Prefeitura de Florianópolis reforça que, conforme portaria publicada em 24 de fevereiro de 2025, todas as festividades de Carnaval na cidade devem seguir os horários estabelecidos para blocos, arenas e eventos em espaços públicos, garantindo a ordem, a segurança da população e a limpeza urbana.

No entanto, há registros de desrespeito e resistência, incluindo agressões e arremesso de objetos cortantes contra os profissionais responsáveis pela segurança. Todos os blocos e festas foram previamente informados sobre as normas e os horários limites.

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De acordo com a ocorrência, as guarnições estavam direcionando os foliões para uma mesma rota, e, embora alguns questionassem a orientação, a maioria acatou as instruções. A Guarda Municipal de Florianópolis (GMF) esclarece ainda que não houve uso de força física, apenas comandos verbais e equipamentos de dispersão, como spray de pimenta.

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