Com 42 acidentes registrados, a trilha da Lagoinha do Leste, famosa pela vista deslumbrante do Pico da Coroa, em Florianópolis, é o percurso com mais ocorrências atendidas pelo Corpo de Bombeiros Militar na região da Grande Florianópolis desde 2016. O número representa 11% de todos os 371 acidentes registrados na Capital, em São José e Palhoça no período.
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Com uma trilha que demora cerca de 2h30 para ser concluída, o trajeto é considerado de média dificuldade, podendo ser feito em trajetos que iniciam de lugares diferentes no sul da Ilha, nas Praias do Pântano do Sul ou do Matadeiro.
Apesar de não haver dados precisos sobre o número de mortes, acidentes fatais foram registrados recentemente na praia. No final de maio, José Maria Alday, turista argentino de 70 anos, desapareceu depois de sair da casa de um amigo, onde estava hospedado na região, e foi visto pela última vez na Lagoinha do Leste, subindo a trilha que leva à Pedra da Coroa.
Uma semana depois, o corpo dele foi encontrado em um costão rochoso entre a Lagoinha do Leste e o Pântano do Sul, sendo um local de difícil acesso. O corpo havia sido visto por um pescador da região, que chamou os bombeiros. Por ser difícil de se aproximar do local com um helicóptero, já que a região de mata possui muitas aves, os bombeiros precisaram chegar até o costão pelo mar e por trilha.
O resgate demorou quase 24 horas para ser concluído e a identificação do corpo só foi confirmada dois dias depois.
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Pedra famosa já foi interditada
Os riscos da trilha não estão só no caminho, mas também em locais famosos pelas fotos radicais. A pedra do Pico da Coroa, um dos pontos mais altos da trilha da Lagoinha do Leste, já chegou a ser interditada por risco de tombamento, em 2024.
A interdição aconteceu pela Defesa Civil do município após uma vistoria que mostrou que a pedra tinha risco de queda. A medida durou alguns dias e foi realizada como forma de prevenção, por ser uma atração muito procurada no verão.
Trilhas com mais acidentes
De acordo com os dados divulgados pelo Corpo de Bombeiros, a região da Lagoinha do Leste permanece com o maior número de ocorrências. Depois, se destacam a Cachoeira do Jarrão, o Morro do Cambirela, ambas em Palhoça, e a da Pedra Branca, em São José.
Cachoeira do Jarrão
Ao todo, são 2,5 km de trilha, que podem ser percorridos em pouco mais de 1h30. Ao longo do trajeto que começa pela marginal da BR-101, várias piscinas naturais transparentes podem ser encontradas, fazendo parte do Parque Estadual da Serra do Tabuleiro. O grande atrativo do local, muito procurado por turistas e moradores da Grande Florianópolis, é uma cachoeira que tem borda infinita.
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Apesar de o local ter uma vista deslumbrante, já foram registradas seis ocorrências na região, segundo o Corpo de Bombeiros Militar. Em 2024, um homem de 24 anos sofreu uma fratura no fêmur e traumatismo crânio após tentar atravessar o rio durante um período de fortes chuvas. No momento do acidente, ele estava acompanhado de uma mulher, de 19 anos, que não ficou ferida. Ambos foram resgatados de helicóptero.
Morro do Cambirela
Considerada uma trilha de dificuldade média para difícil, o trajeto do Morro do Cambirela é percorrido, em média, em três horas, com mais de 7 km de percurso. É considerado o ponto mais alto do município de Palhoça, com 1.052 metros de altitude.
Em 2013, o local ficou conhecido pelo fenômeno de neve, que deixou o morro branquinho, uma raridade na Grande Florianópolis. A altitude foi crucial para que o evento meteorológico acontecesse, mas também é um dos principais motivos de acidentes, já que é necessário utilizar cordas e bastões em alguns trechos.
Já foram registrados cinco acidentes na região, sendo uma delas recentemente, no dia 14 de junho, em que uma pessoa se perdeu durante a trilha.
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Pedra Branca
Com duas horas de percurso, a trilha da Pedra Branca é para quem aguenta trajetos de média complexidade. Localizada em São José, o caminho é composto por diversas subidas íngremes, mas não é necessário utilizar equipamentos e acessórios específicos.
Em 2023, uma jovem precisou ser resgatada de helicóptero após torcer o pé enquanto fazia a trilha. O Corpo de Bombeiros fez o resgate com um equipamento chamado triângulo, para que a vítima fosse içada do local. Ela foi levada para o Hospital Regional de São José. Desde 2016, foram quatro acidentes, segundo o Corpo de Bombeiros.
Veja fotos das trilhas
Resgate pode ser demorado
O motivo para tantos acidentes nestes locais, segundo o Corpo de Bombeiros, é o fato de serem trilhas em locais afastados, com mata mais fechada. Isso também pode dificultar o resgate, já que se tratam de lugares remotos. De acordo com o presidente da coordenadoria de busca e resgate terrestre, major Renan Cesar, as características das trilhas fazem com que as guarnições acabem tendo uma resposta mais lenta, já que é necessário que as equipes entrem nas trilhas.
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— Mesmo com a nossa aeronave, as nossas equipes precisam adentar as matas para fazer as buscas, o que torna a resposta um pouco mais lenta — explicou.
Justamente por se tratarem de áreas remotas, é necessário sempre utilizar equipamentos de localização, como aplicativos com GPS, segundo o major. Além disso, informar pessoas conhecidas e familiares antes de sair para trilhas é essencial.
Roupas adequadas e equipamentos
No inverno, muitas pessoas aproveitam para fazer trilhas. Como recomendação, os bombeiros pedem que os trilheiros busquem usar roupas adequadas, com agasalhos quentes e roupas impermeáveis para caso chova. Além disso, olhar a previsão do tempo antes de sair de casa, verificando as condições climáticas, também é importante.
— Isso pode influenciar demais, com a baixa temperatura, tendo uma previsão de temporais, a sensação térmica baixa consideravelmente, que acaba piorando ainda mais para a sobrevivência da pessoa nesse tipo de ambiente — apontou.
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Ter um lanche na mochila e a garrafa sempre cheia, com outra reserva para caso aconteça uma situação excepcional, também é uma medida que pode ser decisiva em casos de acidentes.
Em caso de emergência, o Corpo de Bombeiros atende pelo telefone 193
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