O prontuário do menino de 10 anos que ficou gravemente ferido após ter contato com um resíduo depositado por uma empresa que tem fábrica em Três Barras, no Planalto Norte de SC, aponta que ele sofreu “queimaduras com produto químico”. Com exclusividade, a reportagem do A Notícia teve acesso ao documento emitido pelo Hospital Infantil Joana Gusmão, de Florianópolis, onde o garoto está internado desde o dia 20. Em primeiro contato, a Mili alegou que o produto trata-se de um calcário para recuperação da acidez de solo e não confirmou a existência de químicos na composição. Procurada novamente pela reportagem, a indústria não se manifestou.

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Desde que deu entrada no hospital, a criança já passou por avaliação de diferentes médicos e todos apontaram o mesmo diagnóstico inicial. A ficha médica também descreve a medicação prescrita durante o período e, assim como havia citado a mãe, a lista conta com remédios de alto poder analgésico, como a morfina, por exemplo.

O menino está na unidade de queimados do Infantil de Florianópolis, que é referência no Estado, e, entre as recomendações, está a “necessidade de cuidados de alta complexidade” por conta da gravidade das queimaduras de terceiro grau do qual foi vítima. Ele já passou por duas cirurgias, uma delas com duração de seis horas, e permanece em observação sem previsão de alta.

A Polícia Civil confirmou que abriu um inquérito para investigar o caso e que uma equipe foi ao local do acidente, ainda na semana passada, para coletar amostras da substância responsável pelos ferimentos e um laudo pericial deve indicar qual o tipo do produto.

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Até que saia este resultado, portanto, de acordo com o delegado Nelson Nadal, não há nenhum tipo de impeditivo para distribuição do resíduo por parte da indústria. Por nota, a companhia informou que passaria a alertar os agricultores que recebem o produto sobre o ocorrido.

Empresa diz que produto é similar a calcário, mas família questiona

A Mili, fabricante brasileira do setor de higiene e limpeza, admitiu que o produto que feriu a criança saiu das instalações da empresa e alegou que o resíduo não deveria oferecer risco às pessoas. A indústria disse, por nota, que o produto, “similar ao calcário”, é usado por agricultores para a correção da acidez do solo e foi estudado pela Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri), além de aprovado pelo Ministério da Agricultura. No entanto, não informou qual a origem desta substância, que tem aparência semelhante à areia.

Pela gravidade dos ferimentos, porém, os familiares questionam a versão da empresa. Segundo a advogada Mariana Freitas Fiedler, a fabricante alega ter autorização para repassar a substância para agricultores, mas em nenhum momento deu explicações sobre estar o depositando em uma área de livre acesso.

Além disso, a defesa alega que, mesmo contendo esta autorização, esses resíduos devem passar por um processo de retirada de produtos químicos e radioativos para que possam ser transferidos a terceiros.

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Mariana ainda havia dito que, após o primeiro contato oferecendo auxílio, a Mili não prestou nenhuma ajuda até o momento e, “visto que a empresa está inerte quanto ao ocorrido, não se vê outra alternativa se não a via judicial”. Mas, após a reportagem publicada pelo AN, a família diz que os advogados entraram em contato com a defesa do menino e se disponibilizaram a cobrir todos os gastos.

Relembre o caso

O acidente aconteceu na tarde do dia 17 de maio. Sabrina Cornelsen, 35, mãe da criança, conta que, neste dia, dois amiguinhos do filho foram à casa da família convidá-lo para brincar. Apenas o pai estava no local e foi ele quem autorizou a saída. Os três, então, seguiram de bicicleta e pararam no terreno em que em este resíduo é despejado, próximo de um lago.

Sabrina disse à reportagem que o filho adora mexer na areia e, como viu algo semelhante, se aproximou do material e afundou os pés, quando teve queimaduras instantâneas. Ele foi socorrido por um dos meninos que estava com ele, que o ajudou a retornar para casa.

Conforme a reportagem do Jmais, que esteve no local, o produto realmente se parece com uma areia, tem cheiro de cinzas e, quando em contato com algo, levanta fumaça. O veículo ainda flagrou, logo após o ocorrido, três caminhões despejando mais da mesma substância no terreno. Ainda segundo o jornal local, semanas antes, um cachorro morreu por ter tido contato com o mesmo produto.

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Sabrina, que estava em uma escola que trabalha como professora, soube da situação quando o filho já estava sendo atendido no posto de saúde. Para ela, a atitude da empresa representa um “descaso ambiental e com a vida com a vida das pessoas”, já que antes do menino ficar gravemente ferido, o terreno não era cercado.

— Teve que acontecer uma coisa dessas com meu filho pra isolarem o local. E e nenhum momento a empresa nos auxiliou. Apenas entrou em contato e mais nada. Graças a Deus temos bons amigos e familiares que estão nos apoiando nesse momento tão difícil — destacou em entrevista.

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