O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou, neste sábado (20), que uma intervenção militar na Venezuela seria uma “catástrofe humanitária”. A declaração foi feita durante a Cúpula do Mercosul, em Foz do Iguaçu, durante o discurso na abertura da reunião dos chefes de Estado.

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Lula fez referência à escalada de tensões entre Estados Unidos e a Venezuela. Nos últimos dias, aviões estão sobrevoando o litoral do país sul-americano perto de Caracas, enquanto o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, já afirmou que não descarta a possibilidade de uma guerra contra a Venezuela.

— Passadas mais de quatro décadas desde a Guerra das Malvinas, o continente sul-americano volta a ser assombrado com a presença militar de uma potência extrarregional. Os limites do direito internacional estão sendo testados, uma intervenção armada na Venezuela seria uma catástrofe humanitária para o hemisfério e um precedente perigoso para o mundo — disse.

Acordo Mercosul-UE

O presidente Lula também falou sobre o acordo previsto entre o Mercosul e a União Europeia. A previsão era de que a assinatura do acordo ocorresse neste sábado, mas o ato foi adiado e, agora, deve acontecer apenas em janeiro.

— Ao cabo de 26 anos de negociações, esperávamos assinar finalmente a associação com a União Europeia. Desde 2023 trabalhamos para garantir que o acordo contribuísse para o desenvolvimento econômico do Mercosul, sem afetar políticas industriais e de incentivo a inovação e sem prejudicar setores sensíveis — iniciou Lula.

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O chefe de Estado citou a aceitação de cotas para produtos agropecuários e o estabelecimento de um mecanismo de salvaguardas agrícolas para que o acordo tivesse consenso entre europeus.

— Chegamos a um entendimento vantajoso para os dois lados, tínhamos em nossas mãos a oportunidade de transmitir ao mundo uma mensagem importante em defesa do multilateralismo e fortalecer nossa proteção estratégica em um cenário global cada mais vez mais competitivo. Mas, infelizmente, a Europa ainda não se decidiu — disse.

O que prevê o acordo UE–Mercosul

O acordo comercial entre a União Europeia e o Mercosul prevê a redução de tarifas e regras para ampliar o comércio entre os dois blocos, após mais de 25 anos de negociações. O texto chegou a ser firmado politicamente em 2019, mas desde então passou por revisões e só agora entrou na fase decisiva de aprovação pelos países europeus.

Nesta semana, o Parlamento Europeu aprovou salvaguardas agrícolas que passaram a integrar o acordo. O mecanismo permite que a União Europeia suspenda tarifas reduzidas sempre que houver risco de prejuízo ao mercado europeu, especialmente em produtos considerados sensíveis, como carne bovina, aves e açúcar.

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As novas regras facilitam o acionamento dessas salvaguardas. A Comissão Europeia poderá intervir se o preço de um produto do Mercosul for ao menos 5% inferior ao da mesma mercadoria na UE e se o volume de importações isentas de tarifas aumentar mais de 5%.