A Lagoa da Conceição voltou a registrar sinais de poluição. Desde sábado (11), moradores perceberam uma camada de espuma escura com coloração amarronzada na Lagoa de Baixo, localizada entre a Rua Osni Ortiga e o Canto da Lagoa. O fenômeno despertou atenção nas redes sociais e levou a coletas de água pelo Instituto do Meio Ambiente de Santa Catarina (IMA/SC), que investiga as causas.

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De acordo com o secretário municipal de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, Alexandre Waltrick Rates, a hipótese inicial é de que a mancha tenha sido causada pela falta de oxigenação e acúmulo de matéria orgânica aliados às altas temperaturas.

Veja fotos da mancha

Apesar de surpreender os moradores da região, essa não é a primeira aparição de sinais de poluição no cartão postal da ilha.

Veja histórico de poluição na Lagoa da Conceição

2025 – Grande concentração de cocaína na lagoa

Em fevereiro deste ano, cocaína foi encontrada na Lagoa da Conceição. Segundo uma pesquisa desenvolvida pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), as concentrações estavam entre as mais altas reportadas no mundo, o que impactava a fauna e flora locais. Além da droga, o estudo também encontrou cafeína, diferentes tipos de medicamentos antibióticos e analgésicos.

No mês do ocorrido, a Secretaria do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Capital afirmou que os “resultados refletem os impactos das atividades humanas sobre o meio ambiente”. Já a Casan disse que a condições aconteceram por causa do “crescimento populacional e o descarte inadequado de esgoto”.

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Estudo revela amostras de cocaína, antibióticos e cafeína na Lagoa da Conceição, em Florianópolis
Estudo revelou amostras de cocaína, antibióticos e cafeína na Lagoa da Conceição (Foto: Alexandre Vieira, Divulgação DCF)

2021 – Rompimento de lagoa da Casan

Em janeiro de 2021, o rompimento de uma lagoa artificial de tratamento da Companhia Catarinense
de Águas e Saneamento (Casan) provocou alagamentos, destruição de casas e contaminação da água. O acidente lançou aproximadamente 180 milhões de litros de efluentes na Lagoa da Conceição, arrastando carros e inundando a Avenida das Rendeiras.

O caso resultou em inquérito policial e na aplicação de multa de R$ 15 milhões à companhia por crime de poluição ambiental. Relatórios técnicos da UFSC apontaram que o evento causou zonas mortas na lagoa, com queda drástica dos níveis de oxigênio e mortandade de organismos aquáticos.

Pesquisadores também alertaram que a recuperação ecológica do ecossistema levou mais de dois anos, e que os impactos ainda podiam ser observados até 2023.

Água encobriu a Avenida das Rendeiras e desaguou na Lagoa da Conceição
Água encobriu a Avenida das Rendeiras e desaguou na Lagoa da Conceição (Foto: Diórgenes Pandini/DC)

2021 – Mortandade de peixes e mau cheiro

No mesmo ano, outro episódio chamou atenção dos moradores: centenas de peixes, crustáceos e moluscos apareceram mortos entre os dias 23 e 25 de fevereiro. O mau cheiro e a mudança na coloração da água levaram órgãos ambientais a restringirem o banho e o consumo de pescados.

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Cerca de 180 pescadores e 14 restaurantes tiveram as atividades interrompidas. As causas foram investigadas pelo IMA, Floram e Polícia Ambiental, que coletaram amostras para apurar a origem da contaminação.

Na época em que os peixes foram encontrados mortos na Lagoa, análises da água apontaram para a incidência da Fibrocapsa, uma alga tóxica nunca antes vista em SC.

O IMA confirmou que a microalga encontrada era tóxica para a fauna aquática. Mas, em abril do mesmo ano, o instituto divulgou que também foi verificada baixa concentração de oxigênio dissolvido na água, o que deixou dúvidas sobre a causa da morte dos peixes.

Relembre imagens

Janeiro de 2020 – Manchas escuras

No dia 5 de janeiro de 2020, moradores e turistas registraram manchas amareladas e escuras nas águas próximas ao centro da Lagoa. De início, a Casan mandou técnicos, verificou o sistema de esgotamento sanitário da região e as estações de bombeamento, mas afirmou que tudo estava funcionando normalmente.

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Alguns dias depois, o Laboratório de Ficologia (Lafic) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e a Casan identificaram que a mancha, acompanhada por mau cheiro, provavelmente foi causada por esgoto irregular.

Mancha na Lagoa da Conceição em janeiro de 2020 (Foto: Arquivo pessoal)

Maio de 2020 – Novas manchas escuras

Quatro meses depois, o mesmo caso foi percebido. Na ocasião, a Fundação Municipal do Meio Ambiente (Floram) afirmou que a espuma pode ter sido causada por vazamento na rede de esgoto da Casan, onde foi identificado um “ponte de fuga”.

De acordo com a direção de Saneamento da Prefeitura, o problema foi identificado nos canos que saíam da rede doméstica do bairro.

Vistoria foi feita após o aparecimento de manchas e espuma (Foto: Leonardo Sousa, PMF)

2016 – Coliformes fecais acima do limite

No final de janeiro de 2016, uma análise feita pela ONG Sea Shepherd Brasil revelou índices de coliformes fecais até mil vezes acima do limite permitido, confirmando despejo de esgoto doméstico no local.

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Os testes mostraram também níveis preocupantes de nitrogênio amoniacal e baixa concentração de oxigênio dissolvido, que não prejudicam a balneabilidade, mas podem trazer riscos à vida aquática na Lagoa da Conceição.

Além dos altos níveis de coliformes, fatores representaram risco à vida aquática (Foto: DC, Arquivo)

O que diz a Casan sobre as manchas atuais?

“A CASAN informa que o efluente tratado pela Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) da Lagoa da Conceição não é lançado diretamente na Lagoa. As imagens que mostram a presença de espuma podem estar associadas a ligações irregulares de esgoto na rede de drenagem pluvial, uma situação que não está sob responsabilidade direta da Companhia. No domingo (12) pela manhã, após a ciência do fato, todas as estações elevatórias foram vistoriadas e nenhum problema foi encontrado na infraestrutura da Casan.

Companhia atua de forma colaborativa com os órgãos competentes, como a Floram e a Vigilância Sanitária, que são responsáveis pela fiscalização dessas ligações, e está em contato para auxiliar na identificação da origem do lançamento e contribuir com as medidas necessárias.”

O que diz a a prefeitura?

A Prefeitura de Florianópolis, por meio da Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, esclarece que este é um fenômeno natural. A proliferação de algas observada na Lagoa da Conceição é potencializado pelas altas temperaturas e pela elevação na concentração de fosfato na água. O calor intenso ainda favorece o crescimento das algas, enquanto o aumento de nutrientes, como o fósforo, estimula ainda mais esse processo. Amanhã, equipes da Blitz Sanear e do Instituto do Meio Ambiente (IMA) irão até o local para verificar a situação e avaliar possíveis medidas de monitoramento e controle ambiental.

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*sob supervisão de Giovanna Pacheco

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