Catarina Kasten era uma jovem cheia de sonhos. Aos 31 anos, vivia com o marido em uma casa com vista para o mar na Praia do Matadeiro, enquanto fazia mestrado em Estudos Linguísticos e Literários, na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), e planejava cursar doutorado no exterior. O casal havia comprado um terreno na Praia dos Açores e iria começar a construir um novo lar em janeiro.
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Mas todos os planos foram interrompidos. Na manhã da última sexta-feira (21), a professora de Inglês saiu de casa para ir a uma aula de natação, na Praia da Armação, quando foi surpreendida por um desconhecido na pequena trilha que liga as duas praias. Catarina foi estuprada e assassinada. O corpo dela foi encontrado no mesmo dia, em uma área de mata perto da trilha. O suspeito confessou o crime e foi preso.
Agora, o marido de Catarina, Roger Gusmão, tenta processar tudo o que aconteceu.
— Ela faz muita falta. Não fecha às vezes, não dá para acreditar. É tão rápido — relata.
Roger pretende criar um memorial para Catarina no terreno que o casal comprou, nos Açores. O artista plástico Alucinandinho, do qual os dois eram fãs, se ofereceu para criar uma escultura para o local.
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— Vou montar um memorial que vai ficar lá por uns anos, não sei quantos, não sei ainda de nada do meu futuro agora — diz Roger.
Veja fotos da jovem
Espírito livre
O casal estava junto há cerca de quatro anos, após os dois se conhecerem em uma aula de surf no Campeche.
— Catarina na época tinha que dar aula pra pagar o aluguel, ficava muito apertada. Eu disse: “Não precisa ficar apertada, eu tenho dinheiro, bora comigo”. E ela disse “então eu vou”, e ela foi. E ficou.
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Juntos, os dois viajaram o mundo. Passaram por cidades da Argentina, Chile, da Costa Rica e do Panamá, enquanto eram nômades digitais. Decidiram voltar para Florianópolis há cerca de um ano.
— Viajamos por um ano e pouco e aí ela falou: “Quero voltar e fazer mestrado”. Estávamos em Bocas Del Toro, Panamá, morando em uma casa em cima da água. Íamos de caiaque nos corais no horário de almoço — relembra o marido.
Segundo Roger, Catarina gostava de morar perto da natureza.
— Depois que a gente parou de viajar, ela queria muito que a gente conseguisse ficar nessa casa que outrora era apenas de temporada. (…) Catarina era uma florzinha. Meiga, doce, adorava a roça também.
Professora dedicada
Catarina trabalhava dando aulas particulares de inglês e era uma professora dedicada, segundo o marido. Antes de começar a estudar Letras-Inglês na UFSC, ela chegou a cursar Engenharia de Produção na mesma universidade.
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Segundo o marido, Catarina decidiu virar professora influenciada pela mãe, que também dava aulas de Inglês. A jovem trabalhou em escolas particulares e em um jardim de infância. No final deste ano, candidatou-se a vagas temporárias de professora em uma escola municipal no Sul da Ilha.
— Catarina aplicava a metodologia do Paulo Freire com afinco. Tenho vários cadernos de anotações de alunos, as características deles, como eles pensam, porque de acordo com Paulo Freire, você tem que aprender o contexto de cada pessoa para poder ensiná-la. Então, se os alunos gostavam de um seriado, ela ia lá e assistia também.
Segundo o marido, Catarina pretendia fazer doutorado, depois que a casa nos Açores ficasse pronta. O plano do casal era seguir viajando pelo mundo.
— Íamos viajar no doutorado dela. Ela tinha o sonho de fazer uma parte [do doutorado] fora — conta Roger.
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Manifestações
Colegas, professores, familiares e amigos de Catarina se reuniram em um ato na UFSC, na tarde de segunda-feira (24). A homenagem aconteceu no Centro de Comunicação e Expressão (CCE), onde foram colocados cartazes com frases como “Justiça por Catarina Kasten”, “Basta de feminicídio”, “Catarina presente”, “Nem uma a menos” e “Somos todos Catarina”.
Durante a homenagem, pessoas próximas de Catarina lamentaram a morte dela e cobraram por justiça.
— Você tinha sede de vida, mas também sabedoria para aproveitá-la devagarinho — falou a professora Alinne Fernandes, coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Inglês (PPGI), ao ler uma carta escrita pela orientadora de mestrado da jovem, Priscila Farias.
— A gente precisa discutir sobre violência de gênero, a violência contra as mulheres — falou a estudante Eliani Ventura, colega de mestrado de Catarina.
Após as falas, o grupo saiu em cortejo pela UFSC e percorreu locais frequentados por Catarina. Ao final, o grupo plantou três mudas de flores e uma muda de manacá da serra, árvore nativa da Mata Atlântica, em frente à lanchonete do Centro de Comunicação e Expressão.
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Veja fotos do ato na UFSC
Caso segue para promotoria de Justiça que atua no Tribunal do Júri
Em depoimento à Polícia Civil, o suspeito confessou o crime e relatou que voltava de uma festa quando avistou Catarina e cometeu o crime. O caso agora segue para a 36ª Promotoria de Justiça da Capital, com atuação no Tribunal do Júri.
O promotor de Justiça Cristian Richard Stahelin Oliveira, que atendeu o caso, disse que o caso lhe causou perplexidade.
— Como Promotor de Justiça plantonista esse caso causou perplexidade e indignação. A vítima foi brutalmente assassinada enquanto se encaminhava para uma atividade de lazer, em plena luz do dia e num local público. O Ministério Público de Santa Catarina está empenhado, com toda a sua energia, através dos Promotores e Promotoras de Justiça, a combater toda e qualquer forma de violência de gênero — afirmou.
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