Funcionárias da empresa Soluções em Serviços de Alimentação (Sepat), que faz a nova gestão terceirizada das merendas nas escolas municipais de Joinville, reclamam de condições de trabalho nas unidades educacionais, incluindo sobrecarga e número insuficiente de funcionários. Elas conversaram de modo exclusivo com a reportagem do A Notícia. A prefeitura de Joinville diz que fiscaliza o contrato e as responsabilidades da empresa, que negou falta de funcionários no momento.

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Umas delas é Renata*, que trabalha em uma escola com cerca de 800 alunos, divididos em dois turnos, do bairro Floresta. De acordo com a funcionária, ela e apenas mais uma colega de trabalho precisam fazer diversas funções: lavar, cortar e preparar alimentos, gerenciar o estoque, limpar o refeitório e servir os estudantes.

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Com início de trabalho às 7h e fim do expediente às 16h48min, ela expõe que na última semana a dupla precisou preparar um cardápio com lentilha, arroz, carne e vários tipos de salada para servir às 9h45min. O buffet ainda deveria contar com farofa de cenoura. Para o opção ficar pronta, foi necessário ralar manualmente oito quilos do legume, que foram servidos nos turnos da manhã e tarde.

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— Não tem processador, já imaginou fazer isso tudo em duas pessoas? É cansaço físico e mental. Não tem tempo suficiente — reclama.

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Fabíola* é merendeira da Sepat em um Centro de Educação Infantil (CEI) da Zona Leste de Joinville, mas está afastada do cargo por questões físicas, como tendinite e bursite. Com a mesma jornada de trabalho que a de Renata, ela conta que precisava fazer a limpeza do local, inclusive, no mesmo horário que preparava as refeições. Em uma situação, a funcionária conta que precisou cortar 20 quilos de tomate manualmente.

— Tudo sem processador e se não fizéssemos, levaríamos advertência. As crianças nunca ficavam sem comida porque a gente se arrebentava para dar conta. Gostava de cumprir o compromisso, mas é onde eu fiquei doente — aponta.

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As duas mulheres ainda citam a falta de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) nas escolas. Entre as demandas estão a falta de sapato, uniforme, avental adequado para usar no fogão e luvas, por exemplo. 

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— As funcionárias falam que não tem EPIs, que nunca foi fornecido. Mas falam que sempre estão em falta. Quando a gente pede, nunca tem — desabafa.

Procurada pela reportagem do AN, a prefeitura de Joinville diz que o contrato firmado com a Sepat estabelece quantidade mínima de cozinheiras por unidade, levando em conta o número de refeições servidas. A empresa pode avaliar a necessidade de aumentar o quadro de profissionais. O contrato ainda prevê que ela deve manter todos os padrões de qualidade e segurança na produção de alimentos.

O contrato entre a prefeitura e a Sepat prevê que o número de cozinheira é calculado conforme as refeições servidas. Desta forma, a quantidade de profissionais varia entre 1 a 4 nos Centros de Educação Infantil (CEIs) e de 1 a 3 nas escolas.

A prefeitura ressalta que todas as unidades contam com equipamentos industriais remanescentes do modelo de gestão anterior, cedidos pela secretaria de Educação em regime de empréstimo com a Sepat para serem mantidos e devolvidos na mesma condição ao final do contrato. 

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“Contratualmente, é exigida uma lista mínima de itens disponíveis na unidade para uso nas preparações. O processo de preparação dos alimentos é de responsabilidade da empresa contratada, sendo que a avaliação da necessidade de complementação de equipamentos, além do mínimo contratualmente exigido, é parte dessa atribuição”, cita a prefeitura. 

Já a Sepat, também por meio de nota, diz que atende na íntegra o número de funcionários previstos no contrato firmado com a prefeitura de Joinville. Além disso, aponta que entre as funções previstas das cozinheiras está a limpeza do local de preparo das refeições.

“A gestão e operacionalização dos serviços são acompanhados pelo quadro de nutricionistas da empresa, as quais se identificarem a necessidade de ajustes no quadro de colaboradores, imediatamente comunicarão a empresa para os ajustes necessários ao melhor atendimento da rede municipal de ensino de Joinville”, diz o texto.

Rotatividade por causa de atestados

Uma das merendeiras ouvidas pela reportagem conta que já ficou afastada por questões físicas e, de volta à função no começo de outubro, fala que se pegar novos atestados ou não fizer todos os serviços “leva advertência” ou é remanejada para outra escola — mais longe de casa. 

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Os relatos mostram que a rotatividade entre as funcionárias ocorre por conta dos atestados, fazendo com que as trabalhadoras mudem de local de trabalho quando voltam ao serviço. 

A prefeitura de Joinville pontua que a secretaria de Educação não recebeu relatos de penalidades ou direcionamentos do local de trabalho por parte das funcionárias. 

A Sepat, por sua vez, ressalta que não existe qualquer tipo de punição por apresentação de atestados médicos, e que os funcionários são alocados, na medida do possível, em escolas próximas às suas residências para facilitar a logística dos postos de trabalho.

*Nomes fictícios foram utilizados para preservar a identidade das fontes

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