Na delação premiada tornada pública nesta quarta-feira (19), o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do governo de Jair Bolsonaro, descreve que três grupos diferentes frequentavam o entorno do ex-presidente após o resultado das eleições de 2022.
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Um deles é descrito como mais conservador e defendia que o ex-presidente desmobilizasse os protestos montados após o resultado da eleição e se transformasse no líder da oposição. Já um grupo mais radical passou a articular uma tentativa de golpe. A divisão dos núcleos colocou em lados diferentes até mesmo os filhos de Bolsonaro — Flávio estava no primeiro grupo, enquanto Eduardo é colocado na ala dos mais radicais, favoráveis à ruptura democrática.
As informações fazem parte dos depoimentos prestados por Mauro Cid e que ajudaram a formatar a denúncia apresentada esta semana contra Bolsonaro e outros 33 investigados por crimes como golpe de Estado e abolição violenta do Estado democrático de direito.
Os conservadores
Cid descreve a existência de um grupo mais conservador, de linha política e que aconselhava Bolsonaro a atuar para ser um grande líder da futura oposição. Segundo o militar, esse núcleo orientava o então presidente a “mandar o povo para casa”, pondo fim aos protestos nas ruas e em frente aos quartéis nas semanas seguintes à vitória de Lula no segundo turno. Neste grupo estariam o senador Flávio Bolsonaro, o advogado-geral da União Bruno Bianco e o ex-ministro da Casa Civil Ciro Nogueira.
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Os moderados
Um segundo grupo é descrito por Mauro Cid como mais “moderado”. Eles estavam descontentes com o caminho vislumbrado para o Brasil, com o que chamavam de abusos jurídicos, mas segundo o ex-ajudante de ordens “entendiam que nada poderia ser feito diante do resultado das eleições”, que “qualquer coisa em outro sentido seria um golpe armado”, podendo representar um regime militar com duração de mais 20 ou 30 anos.
Segundo o militar, esse grupo temia que Bolsonaro pudesse ser influenciado por pessoas mais radicais a “assinar uma doideira” — que poderia ser a minuta do golpe idealizada e encontrada com pessoas próximas a Bolsonaro.
Deste segundo grupo faziam parte o general Freire Gomes, então comandante do Exército e o general Paulo Sergio, à época ministro da Defesa.
Ainda dentro desse núcleo mais moderado havia uma ala que defendia que Bolsonaro deveria sair do país. Essa era a tese defendida por Mauro Cid e pelo atual senador Magno Malta, que chegou a ser do grupo mais radical, mas depois passaria a ter defendido a saída do país. O argumento também era defendido por pessoas como o empresário do agronegócio Paulo Junqueira, que chegou a bancar uma viagem de Bolsonaro ao exterior.
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Veja quem era quem no entorno de Bolsonaro
Os radicais
O último grupo descrito na delação de Mauro Cid é o dos radicais. Uma parte desse grupo defendia a busca por indícios de supostas fraudes nas urnas eletrônicas, o que poderia justificar um questionamento do resultado das eleições e da posse de Lula.
Essa ala pressionaria o Ministério da Defesa em busca de elementos que pudessem pôr em dúvida a credibilidade das urnas — naquele ano, as Forças Armadas atuaram no papel de observadores do processo eleitoral. Essa parte tinha o endosso de lideranças como o general Eduardo Pazzuelo, ex-ministro da Saúde da gestão Bolsonaro, e do presidente do PL, Valdemar Costa Neto.
Outra parte deste grupo era ainda mais extremista e segundo Cid seria “a favor de um braço armado”, pretendendo “de alguma forma incentivar um golpe de Estado” e defender que Bolsonaro “assinasse o decreto [do golpe]”.
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Segundo Mauro Cid, esses radicais acreditavam que em caso de um golpe Bolsonaro teria o apoio do povo e dos Colecionadores, Atiradores e Caçadores (CACs), que poderiam atuar como uma “tropa civil em caso de um golpe”. Cid também afirma que a ala “romantizava” o artigo 142 da Constituição Federal como fundamento para uma ruptura democrática.
O grupo dos mais radicais seria formado pelo deputado federal Eduardo Bolsonaro, pelo ex-assessor internacional do ex-presidente, Felipe Martins, pelo ex-ministro Onix Lorenzoni, pelo ex-ministro Gilson Machado, os atuais senadores Magno Malta e o catarinense Jorge Seif, além da primeira-dama Michelle Bolsonaro e do general Mario Fernandes.
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