Era em torno de 4h55min do dia 29 de outubro de 2025, um dia após a megaoperação realizada no Complexo do Alemão e da Penha, no Rio de Janeiro, contra uma facção criminosa. André Coelho, fotojornalista da agência EFE, já estava nas ruas das comunidades para acompanhar a repercussão do que, ao final daquele dia, revelaria a operação mais letal da história do Brasil, com 121 mortes confirmadas, ultrapassando a do Carandiru, em 1992.
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Ao NSC Total, André contou que não esteve nas comunidades no dia da operação, por estar em uma palestra justamente sobre fotojornalismo em áreas de conflito, mas sabia que precisava ir até o local o mais rápido possível. Até aquele momento, 54 corpos haviam sido encontrados, mas o fotojornalista, pelos 30 anos de experiência na área, já sabia que “ainda iam aparecer mais”.
Antes de o dia amanhecer, ele já foi ao local e se deparou com o cenário de dezenas de corpos enfileirados no meio da rua no Complexo da Penha. André imediatamente tirou a câmera da bolsa e começou a fotografar, ao lado de outros fotógrafos. Um carro com alguns moradores, então, trouxe mais corpos.
Foi aí que André entendeu que as pessoas estavam trazendo os mortos pela operação da área de mata, chamada de Serra da Misericórdia. Foi nessa área em que foi formado o chamado “Muro do Bope”, em que o secretário da Polícia Militar do Rio de Janeiro, Marcelo de Menezes, explicou que foi uma estratégia usada pelas forças de segurança para cercar os suspeitos.
Momentos para abaixar a câmera
André conta que já fez diversas coberturas fotográficas de operações policiais, mas a imagem dos 63 corpos enfileirados na rua foi muito impactante.
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— Sem dúvida nenhuma, foi uma das coberturas mais impactantes que já participei. Apesar de violenta, de se tratar de um assunto muito triste, que é a violência, a morte, o tráfico de droga, a pobreza, a opressão, é um assunto histórico, não tem como fugir disso — diz.
Em alguns momentos, André prefere recolher a câmera e não apertar o obturador da câmera. Para ele, imagens muito pesadas e gráficas, não agregam em nada em coberturas desse tipo, e seriam apenas “uma violência gratuita, que não é a maneira que eu trabalho.”
Entre os moradores, André diz que percebe que a vida segue, apesar do sentimento de tristeza entre muitos.
— A rotina não muda entre os moradores. A vida tem que seguir. Todo mundo tem família para alimentar, todo mundo tem um trabalho. E um sinal claro disso, apesar das centenas de mortos, é de que já havia traficantes nas suas posições, armados ocupando aquele território. Então essa é a realidade. Isso não muda — afirma.
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Sobre as fotos publicadas, que comoveram o país, o fotojornalista conta que, no fim, tenta sempre informar e mostrar a realidade econômico-social de algum lugar.
— Muitas pessoas não tem contato com esse tipo de violência porque são privilegiadas. Muitos nunca viram arma, nunca lidaram com uma situação de violência extrema, com a morte violenta. Então, a ideia é mostrar uma realidade do país, a realidade dessas comunidades, que vivem diariamente e lidam com isso.
Megaoperação
Mais da metade dos mortos na megaoperação do Rio de Janeiro já passou por necropsia e começou a ser identificada no Instituto Médico-Legal (IML), de acordo com a Polícia Civil. A ação deixou 121 pessoas mortas confirmadas; entre elas, quatro policiais, que passaram por homenagens de amigos policiais e familiares nos velórios e enterros.
A megaoperação teve como objetivo cumprir mandados de prisão contra integrantes de uma facção criminosa, sendo 30 deles fora do Rio de Janeiro, que estariam escondidos em favelas. A última atualização aponta que 81 pessoas foram presas e 75 fuzis, 2 pistolas e 9 motos foram apreendidos.
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Promotores do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco/MPRJ) e 2,5 mil policiais estão mobilizados na ação para cumprir 100 mandados de prisão.
Veja as fotos do Rio de Janeiro
*Com informações do g1
 
				 
                                     
                            
                            






