Cinco minutos. Esse foi o tempo entre o marido de Ivania Tassi, de 44 anos, gritar para a família sair de casa e uma avalanche de lama, água, pedras e galhos de árvores atingir a residência onde moravam no alto do Morro do Pico, em Rodeio. O imóvel, antes um reduto de paz para o casal com o filho, hoje está destruído e sem condições de abrigar ninguém.
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Na manhã desta quinta-feira (19), ainda bem abalada, a moradora tentava salvar o que era possível, como o álbum de casamento, cheio de recordações que antecederam os momentos de medo.
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A costureira lembra como se tivesse ocorrido há poucos minutos aquelas quatro horas de horror. O relógio marcava 19h15min, a chuva ainda não era tão forte, mas ao tentar sair da casa, o marido dela percebeu que já não conseguiria passar pela ponte que dava acesso à estrada. Voltou e decidiu ir a pé olhar como estava um pouco mais para cima do morro.
— Ele só berrou: “Vocês dois, subam, porque vai cair tudo”. Era muita coisa descendo — conta.
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A luz caiu. A família ficou no escuro apenas ao som da chuva, agora forte, e da correnteza da água que descia por vários caminhos que se abriram ao longo dos terrenos.
— Vinha água de todos os lados. Na frente, atrás, e a gente ali em um cantinho abraçados, rezando, para não morrer. Se a gente ia para lá, morria, se vinha para cá, morria — relembra.
Nesta manhã, ao voltar para ver se era possível recuperar algo, Ivania encontrou o quadro da Virgem Maria, mãe de Jesus, pendurado na parede. Apesar de sujo de lama, estava intacto e ela recolheu. Com lágrimas no rosto mostrou à reportagem do Santa que ali ficava o quarto do filho, de 18 anos. Algumas paredes do cômodo se foram com a força da água.
Veja ainda: Lama, tristeza e esperança: o recomeço dos moradores de Rodeio após tragédia
A geladeira e o sofá acabaram entre árvores no meio do terreno. O carro na garagem ficou envolto em muitos centímetros de lama. Em outras partes da casa nem é possível entrar de tanto material represado dentro. Só dá para ter ideia do quanto há de destroços quando um cachorro aparece em cima do telhado. Nos fundos ficaram vários troncos de árvores acumulados, permitindo ao cão chegar ao topo da casa com facilidade.
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As memórias fortes ainda recentes de Ivania não a permitiram dormir bem até agora. O sentimento que ficou, conta a costureira, é de medo. Ali, apesar de ser um imóvel da família, ela não quer mais morar.
— Perdemos tudo, claro. É de uma vida inteira, mas o importante é que eu, meu marido, meu filho, estamos vivos. E agora fica a amizade, a ajuda. Gente que nem conhecíamos se oferecendo para ajudar. Talvez aos poucos vamos entendendo o que aconteceu — desabafa.
A casa de Ivania fica a cerca de 100 metros acima de onde moravam pai e filhas que tiveram a casa arrastada por um deslizamento. Geovani Tabaldi de Oliveira, de 30 anos, e Melyssa de Oliveira, de 4 anos, foram encontradas no amanhecer de quarta-feira (18).
A caçula, de um ano e meio, seguia desaparecida até as 15h30min desta quinta (19) e equipes de resgate tentavam encontrá-la em meio aos escombros. A casa onde estavam foi arrastada por 700 metros e desapareceu.
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Outro morador, Reinaldo Lamim, de 41 anos, que tentava cruzar o rio com a família, morreu e também teve o corpo localizado no fim da quarta. O sepultamento ocorreu na manhã desta quinta.
Um homem de 51 anos segue desaparecido. Totalizando cinco mortes relacionadas ao temporal.
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