Santa Catarina viu o número de casos e de mortes por leptospirose aumentar no último ano. A quantidade de pessoas que contraíram a doença saltou 23% de 2021 para 2022 e houve crescimento de 40% nas mortes no mesmo período.

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Dados da Diretoria de Vigilância Epidemiológica (DIVE) mostram que entre 1º de janeiro de 2021 e 27 de fevereiro deste ano, pelo menos 362 pessoas receberam diagnóstico de leptospirose no Estado, das quais 27 morreram. Os números são considerados altos e se fala em “doença negligenciada”.

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Roger Tarsell Karsten, de 37 anos, já tinha ouvido falar da doença, mas nunca imaginou que iria contrair tampouco os efeitos da leptospirose. Após cinco dias com dores no corpo, com resultado negativo para dengue e febre que chegou a 41°C, o morador de Pomerode, no Vale do Itajaí, foi parar na UTI.

Os sintomas foram os mais variados: ele teve dor muscular, febre alta, falta de apetite, calafrios, tremores, hemorragia pulmonar e comprometimento da função do fígado e rins.

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— O susto maior foi receber a notícia que deveriam induzir o coma para tratamento. Fiquei no respirador mecânico, recebi transfusão sanguínea, transfusão de plaquetas, hemodiálise e monitoramento constante — conta o paciente.

A leptospirose é epidêmica nos períodos de chuva no Brasil, de acordo com o Ministério da Saúde, pois a doença se propaga mais durante alagamentos. A explicação é simples:

A gente pega leptospirose principalmente na água ou solo contaminado. Então se eu tenho um ferimento na pele, por exemplo, o leptospira, que é uma bactéria transmitida principalmente na urina do rato, pode entrar na pele e fazer a doença — explica a infectologista Sabrina Sabino, que tem visto o número de casos crescer no consultório.

Roger desconfia ter contraído a doença quando ajudou a limpar um salão usando chinelo.

A médica Fernanda Rios, de Blumenau, que também travou uma batalha contra a leptospirose, não sabe como acabou infectada. Ela não teve contato com água em inundações, mas sabe que a doença pode ser sido contraída de outras formas.

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Uma delas é que a água contaminada ou a própria urina do rato esteva presente em algum algum produto com que teve contato. Por isso resolveu redobrar os cuidados, por exemplo, com latinhas de refrigerante e cerveja, que as pessoas costumam levar à boca às vezes direto na embalagem.

A preocupação faz sentido, pois a doença pode deixar sequelas graves. Roger começou o processo para recuperar a força muscular ainda durante a internação, que durou 12 dias. Ele tinha dificuldades até para atividades simples, como segurar um garfo. A leptospirose atacou o sistema muscular dele.

— Após dois meses e meio dos sintomas iniciais, ainda sinto cansaço e tenho alguns lapsos de memória. Ainda devo fazer um acompanhamento em três meses, para verificar a evolução dos pulmões — afirma.

Mapa mostra número de casos por cidade em SC

De 1º de janeiro de 2021 a 27 de fevereiro de 2023, a quantidade de casos confirmados de leptospirose em Santa Catarina chegou a 362, segundo a DIVE. A doença é de notificação compulsória. Ou seja, o médico precisa informar a prefeitura da cidade onde o paciente recebeu o diagnóstico, mesmo que isso tenha ocorrido na rede particular.

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Joinville lidera esse ranking com 31 casos no período. Blumenau e Florianópolis aparecem na segunda posição empatados, com 19 infectados cada.

O Ministério da Saúde afirma que, entre os casos confirmados, o sexo masculino com faixa etária entre 20 e 49 anos estão entre os mais atingidos, embora não exista uma predisposição de gênero ou de idade para contrair a infecção. 

SC já teve três mortes pela doença em 2023

Em dois anos e dois meses, Santa Catarina registrou 27 mortes por causa da leptospirose. O número passou de 10 em 2021 para 14 no ano passado. Agora, 1º de janeiro a 27 de fevereiro de 2023, já foram três. Uma em Concórdia, outra em Itapoá e mais uma em Joinville.

— É um número alto e a gente acredita que possa haver outros casos que foram a óbitos e não chegaram a ser diagnosticados porque o diagnóstico é mais difícil — frisa a infectologista Sabrina Sabino.

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O Vale do Itajaí e a região Norte do Estado empatam em quantidade de óbitos, com nove em cada área. Joinville, porém, é a cidade catarinense com mais óbitos, totalizando cinco no período analisado.

De acordo com o Mistério da Saúde, a doença apresenta uma letalidade média de 9%. Entre os casos considerados graves, é de 40% a chance de o quadro evoluir para óbito.

Em Santa Catarina, fica abaixo disso, em 7%, afirma Ivânia Folster, gerente de Zoonoses da Diretoria de Vigilância Epidemiológica (DIVE). Ainda assim, segundo ela, o percentual é considerado alto pelo governo do Estado, que atua com capacitação dos profissionais para o diagnóstico e tratamento adequado, bem como à comunidade, para os cuidados e buscar ajuda imediatamente.

— A leptospirose é uma doença negligenciada no sentido de que ela está aí a muito tempo e precisa de ações no ambiente além da área da saúde, como saneamento, que pode influenciar bastante nessa transmissão também — pontua.

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A recomendação é evitar contato com água ou lama de enchente, não deixar acumular lixo e manter terrenos limpos, recomenda a gerente. Isso porque se o roedor tem acesso a comida e abrigo, haverá proliferação do animal no local e por onde onde ele passar e urinar pode deixar a leptospira.

Diagnóstico e tratamento

O intervalo de tempo entre a transmissão da infecção até o início das manifestações dos sinais e sintomas pode variar de 1 a 30 dias, mas normalmente ocorre entre 7 a 14 dias após a exposição a situações de risco. O diagnóstico primeiro é clínico, explica a infectologista Sabrina Sabino. Isso porque o resultado dos exames, tanto PCR quanto de sorologia, costuma demorar e é preciso intervir antes do agravamento do quadro. O tratamento começa com antibióticos.

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