Quando se pensa em tecnologia, o que vem à cabeça? Provavelmente uma sala cheia de pessoas em frente aos computadores, onde a linguagem de programação predomina. E é assim mesmo em uma empresa que desenvolve sistemas no Centro de Blumenau. Porém, o cenário mudou um pouco e ganhou um novo formato há dois anos, quando a instituição resolveu contratar o primeiro colaborador com deficiência auditiva.
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O que parece ser apenas parte do processo de atendimento da legislação, que estabelece cotas para pessoas com deficiências dentro de corporações, virou muito mais do isso: antes da chegada de Jean Carlos Paes, aproximadamente 40 profissionais dos mais variados setores aprenderam a Língua Brasileira de Sinais (Libras).
Foi a primeira oportunidade que o assistente de infraestrutura teve, desde que entrou no mercado de trabalho, de atuar em um lugar em que os companheiros de profissão passaram por preparação para recebê-lo. Quem conta isso é o colega Daniel Henrique Minella, que apreendeu rápido a se comunicar na nova linguagem e hoje é quase o intérprete da empresa. Paes passou por outros empregos, mas a maioria no setor de expedição.
Para quem sempre ajudou a formatar os computadores dos parentes, trabalhar com o que ele ama é sinônimo de orgulho.
– Nas outras empresas eu tinha muita dificuldade, fiquei isolado porque ninguém tentou aprender Libras para se comunicar comigo – diz o funcionário de 32 anos.
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A empresa em que Paes trabalha, a HBSIS tem atualmente nove funcionários com algum tipo de deficiência. A meta é chegar a 25 até setembro deste ano. Para cada novo colaborador, um desafio e um aprendizado diferente, avalia a gerente de Desenvolvimento Humano Organizacional, Michelle Tribess.
É que na visão da empresa, a admissão tem que ser mais do que um fator de lei. Tem que garantir que o cidadão seja de fato incluído, produtivo e sinta que o que faz tem valor agregado à organização.
– Nosso propósito é garantir cidadania às pessoas que vêm para cá. – reforça Michelle, dando destaque ao lado humano.
Mudança cultural e qualificação
O movimento das empresas para o processo de inclusão é gradativo, aponta Thaís Tavares Pompeo, do setor de educação inclusiva do Sesi. Os números do Ministério do Trabalho e Emprego reforçam a urgência dessa evolução. Em Blumenau, 125 empresas têm porte que exige a contratação de pessoas com deficiência. Estima-se que 2,2 mil deveriam estar empregadas na cidade nesses moldes, mas o número aproxima-se a 800. A consultora pontua que para avançar e superar os dados é preciso promover uma mudança cultural nas organizações, em que elas observem a competência e não a deficiência no momento da contratação.
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Responsável pelo programa de Desenvolvimento de Competências em Pessoas com Deficiência, Thaís conta que muitas vezes as empresas chegam até a instituição relatando que não encontram mão de obra para atender o que preconiza a legislação, e daí surgiu a iniciativa de formar profissionais para suprir a demanda do mercado.
Curso gratuito facilita o processo de inclusão
A primeira turma, em 2017, contou com 18 pessoas. Dessas, 13 chegaram ao fim da formação com emprego garantido. O segundo grupo passou por qualificação esse ano e mais três turmas estão programadas para ocorrer até setembro. Duas delas com vagas abertas para quem tiver interesse: uma na área de cooperativa de crédito e outra na saúde.
–É gratuito para as pessoas, pois as empresas custeiam tudo. Elas não têm a obrigação de contratar, mas se o aluno não é admitido por uma instituição, nós indicamos a outras – explica Thaís.
O presidente do conselho Municipal dos Direitos da Pessoa com Deficiência (Comped), Marcelo Krause de Matos, vê com bons olhos a iniciativa.
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– As empresas estão percebendo a importância de incluir essas pessoas e vendo que elas podem ser tão produtivas quanto as que não têm limitação – pontua Marcelo, apostando na inserção.
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