Leonardo Ulrich Steiner, natural de Forquilhinha, no Sul de Santa Catarina, é um dos cardeais brasileiros que participam do conclave para eleger o novo santo padre da igreja católica. Com 74 anos, ele é apontado como um dos favoritos a suceder o papa Francisco. Atualmente ele é o arcebispo de Manaus, no Amazonas, mas a caminhada religiosa iniciou em uma colônia no interior catarinense como coroinha. 

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Nascido em 6 de novembro de 1950, Steiner viveu a infância na colônia de Forquilhinha, com uma família grande, de 16 irmãos. Em meio a uma realidade de interior, ele brincava de pés descalços, fazia as tarefas de casa e ia para o colégio das Irmãs Escolares de Nossa Senhora, onde estudou até frequentar o seminário.

Batizado como Ulrich pelos pais Leonardo e Carlota Arns, o cardeal decidiu adotar o nome do pai, para facilitar a comunicação e a pronúncia, ainda quando estava em São Félix do Araguaia, no Mato Grosso. Ele foi o quinto cardeal catarinense, entre os seis, a ser nomeado à Igreja Católica e, nesta quarta-feira (7), participa do conclave para eleger um novo papa. 

Segundo especialistas do Vaticano, ele é um dos dois cardeais brasileiros favoritos ao posto de pontífice. Para a irmã de Dom Leonardo, Alice Steiner Dal Toé, de 86 anos, esse é um reconhecimento pela caminhada do irmão no sacerdócio. 

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— A possibilidade de ele se tornar papa é algo que, para nós, como família, é uma grande graça e um testemunho de sua fidelidade e entrega à sua missão — celebra.

A origem da família Steiner

A família Steiner teve origem no estado da Renânia-Palatinado, na Alemanha. Em 1863, Max Joseph Steiner emigrou para o Brasil acompanhado do pai, Peter Joseph Steiner, já viúvo da esposa Gertrud Kraus. Em solo brasileiro, Max se casou com Emma Rödius, imigrante de Hilden, cidade alemã. Mais tarde, o casal teve Georg Steiner, avô paterno de Dom Leonardo. 

Segundo Gustavo Dal Toé, sobrinho neto do cardeal catarinense, o idioma alemão sempre esteve presente na família, desde os primeiros anos de vida de Leonardo e Carlota, pais de Dom Leonardo. 

— Todos os filhos nascidos antes da Segunda Guerra Mundial falavam alemão como língua materna, incluindo Alice Steiner Dal Toé (avó de Gustavo). No entanto, com a entrada do Brasil na guerra, o uso do idioma sofreu forte repressão, especialmente em colônias de imigrantes oriundos de países do Eixo; Forquilhinha foi uma delas, com a prisão de três pessoas — conta Gustavo.

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Ele complementa que os filhos mais novos do casal já foram alfabetizados em português. No entanto, o contato com o idioma alemão permaneceu vivo por meio de cânticos, conversas informais e atividades escolares.

A infância do cardeal catarinense 

Alice Steiner conta que Leonardo e todos os irmãos tinham suas responsabilidades na propriedade onde moravam. Eles tiravam leite das vacas, cuidavam das galinhas e até colhiam frutas frescas para a mãe preparar o tradicional schmier, uma geleia.  

— Depois de cumprirem com as tarefas e os estudos, podiam jogar bola e brincar com os primos, correndo soltos pelos quintais e campos da colônia. Porém, quando os sinos da igreja anunciavam as 18 horas, era tempo de encerrar as brincadeiras. Ele e meus outros irmãos sabiam que precisavam ir buscar os bezerros no pasto e retornar para casa — relata. 

Era Alice a responsável por preparar as refeições com os ovos fervidos e o pão de milho, que eram distribuídos para os irmãos menores. Ela ainda relembra que as crianças tomavam banho em uma sanga que corria atrás de casa. Os cacos de telha eram utilizados para limpar os pés sujos após as brincadeiras na rua. 

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— A família era grande, dezesseis filhos, mas havia muito respeito e obediência aos mais velhos. Hoje, olhando para trás, posso dizer com certeza: ele foi uma criança verdadeiramente feliz — completa. 

Como hobby, Ulrich tinha — e tem — gosto pelo canto, em especial pela música Imaculada, além da canção Maria Zu Lieben, entoada inteiramente em alemão. 

Veja fotos da infância e juventude de Steiner

O caminho religioso até o Conclave

Para a família Steiner, devota do catolicismo, rezar o terço todas as noites era uma tradição. Eles cultivavam uma forma de piedade, o Andacht, uma devoção contemplativa. 

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Desde jovem, Dom Leonardo demonstrava admiração pelos padres que pregavam na igreja onde a família frequentava, auxiliando inicialmente como coroinha. Segundo Alice, ele acompanhava o Frei Everaldo Allkemper em viagens de charrete pelas comunidades do interior, evangelizando pessoas que viviam mais afastadas.

Além dele, outros dois irmãos seguiram a vida religiosa, foram eles o Frei Wilson Steiner, que ingressou na Ordem dos Franciscanos, além da Irmã Esther Steiner, que se consagrou na Congregação das Irmãs Escolares de Nossa Senhora.

— Na primeira missa de nosso irmão, Frei Wilson Steiner, Dom Leonardo, ainda um garotinho, chamado carinhosamente por todos de Uli, saiu de nossa casa paterna como coroinha, ao lado do irmão Otmar, também como coroinha, e da irmã Edeltraut — relembra Alice. 

Leonardo estudou filosofia e teologia no convento dos Franciscanos de Petrópolis e é bacharel em filosofia e pedagogia pela Faculdade Salesiana de Lorena. Steiner também é doutor em filosofia pela Pontifícia Universidade Antonianum, em Roma.

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Ainda em Forquilhinha, ele foi ordenado sacerdote em janeiro de 1978. Após a ordem, devido à formação em pedagogia, atuou em diversos projetos de educação. Entre 1999 e 2003, foi secretário-geral do Pontifício Ateneu Antoniano, em Roma. Ao voltar ao Brasil, foi nomeado vigário da Paróquia do Senhor Bom Jesus, em Curitiba, no Paraná.

Em 2005, ele foi nomeado bispo pelo Papa João Paulo II e assumiu a Prelazia de São Félix do Araguaia, no Mato Grosso. Em 2011, foi eleito secretário-geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e bispo auxiliar da Arquidiocese de Brasília pelo Papa Bento XVI.

Cardeal Steiner é arcebispo de Manaus (Foto: Arquidiocese de Manaus)

Em 2019, Steiner se tornou arcebispo de Manaus e, três anos depois, foi nomeado cardeal pelo papa Francisco. Steiner e outros dois cardeais catarinenses votam no Conclave, nesta quarta-feira (7), na Capela Sistina do Vaticano, na Cidade do Vaticano.

De Roma, no último domingo (4), o cardeal enviou um comunicado à Arquidiocese de Manaus: “Pude rezar diante do corpo de Papa Francisco em nome de todos. Muitos me haviam pedido que rezasse. Todos foram lembrados”. Ele ainda pediu orações por todos os cardeais eleitores, “para que nos deixemos guiar pelo Espírito Santo”.

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