Com mais de 250 linhas de ônibus disponíveis, o Sistema Integrado de Mobilidade é responsável por conduzir a população de Florianópolis. A fim de melhorar o serviço ofertado, a prefeitura anunciou que o sistema receberia novas rotas a partir do dia 6 de outubro. No entanto, a chegada de novos horários não apagou a necessidade das linhas extintas.

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Encerradas em 2020, as linhas de ônibus que operavam no sentido Continente até a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) levavam inúmeros passageiros diariamente. Na época, em razão da pandemia de Covid-19, todos os horários foram cancelados por um período. Mas, desde o fim do estado de calamidade pública, as linhas em questão nunca retornaram ao sistema.

Usuários relatam a falta que os horários fazem e falam sobre as adaptações que foram feitas ao longo dos anos.

— Senti muita falta da linha [Abraão-UFSC] depois que as aulas da UFSC foram restabelecidas. Eu acho que não só atendia os estudantes, mas também muita gente que morava na região continental e precisava fazer algum tipo de serviço, alguma coisa nos bairros Trindade, Córrego Grande — relata João Marcelo, morador do bairro Abraão.

Ao NSC Total, o Consórcio Fênix — responsável pelo Sistema Integrado de Mobilidade — informou que ao menos 240 mil pessoas utilizam as 253 linhas de ônibus diariamente, em Florianópolis. São cerca de 5 milhões de passageiros por mês na capital catarinense, em trajetos que somam 3,5 milhões de quilômetros no período.

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Atualmente, quem realiza o mesmo trajeto deve utilizar ao menos duas linhas diferentes. No caso dos moradores do bairro Coqueiros, é necessário pegar o 665-Abraão e seguir até terminal localizado no Centro. Chegando ao local, é necessário pegar alguma outra linha que leve até a universidade, como o 188-Ticen-UFSC, por exemplo.

Veja fotos dos ônibus em Florianópolis

Quanto tempo leva o trajeto?

— Depois que o Abraão-UFSC acabou, eu passei a utilizar as duas linhas do Continente, tanto o Abraão quanto o Itaguaçu. No Ticen, eu pegava ou UFSC-Semidireto, que depois virou Ticen-UFSC, ou pegava alguma linha do Volta ao Morro. Com certeza a experiência se tornou pior, principalmente nos horários de pico. Eu passei a trocar os meus horários de aula inclusive na UFSC para não pegar ônibus de manhã cedo — completa.

Usuários relatam que com as linhas, agora extintas, o trajeto durava menos tempo.

— Eu usei a linha Abraão-UFSC de 2017 a 2020. O trajeto dele, na ida, demorava cerca de 30, 35 minutos devido à quantidade de paradas que ele fazia, né? Ele fazia várias paradas, mas o fato de ser uma linha direta já economizava muito tempo de conexão no Ticen. Com o novo trajeto que faço, a viagem aumentou para cerca de 50, 55 minutos, até uma hora — conta João Marcelo.

Além do Abraão-UFSC, as linhas Capoeiras-UFSC e Jardim Atlântico-UFSC também foram encerradas.

— Bem antes da pandemia, em 2009 e 2010, eu utilizei muito o Capoeiras-UFSC, porque eu tinha consultas no HU [Hospital Universitário]. Eu frequentei muito a linha, ainda que não era do consórcio, e gastava menos tempo e menos dinheiro, porque naquela época não usava o Passe Rápido — relata Gabriel, morador do bairro Capoeiras.

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O que pedem os usuários das linhas?

— Eu sinto que deu uma economizada boa no [tempo do] trajeto, depois que começou a ter o binário, né? Mas ainda assim existem gargalos ali, principalmente antes da subida do Pantanal. Eu não entendo até hoje porque que não tem faixas BRT. Elas são essenciais para gente ter um deslocamento mais rápido de ônibus e optar para deixar de usar veículos individuais, né? — propõe João.

O binário em questão foi inaugurado no primeiro semestre de 2023, nos arredores da UFSC. Desde então, usuários têm pedido pela inclusão de novos sistemas semelhantes em outras regiões de Florianópolis.

— A gente organizou um abaixo-assinado. Conseguimos 542 assinaturas… Eles negaram. Conseguimos outro com 625 assinaturas… Negaram de novo. Nos últimos meses a gente vem recebendo uma recusa tamanha, sempre dizendo que não tem necessidade, porque a frota atual permite uma ligação, conexão e tal, mas seria muito bom se elas voltassem — conta Gabriel.

O abaixo-assinado chegou no Ministério Público (MPSC), em 2024. No entanto, o órgão afirmou que não é comprovada a necessidade do retorno das linhas de ônibus.

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O que diz a Prefeitura de Florianópolis?

Ao NSC Total, a Secretaria Municipal de Infraestrutura e Manutenção da Cidade afirmou que as linhas extintas não devem retornar ao sistema de transporte público.

A pasta justificou que os trajetos extintos atendiam “um número reduzido de pessoas”, visto que não atravessam áreas com maior demanda na região continental. Além disso, explicou que o sistema de transporte de Florianópolis funciona, especialmente, através da integração de linhas via terminais, que “amplia a cobertura da rede e reduz o custo aos usuários”, segundo a prefeitura.

Aos antigos usuários das linhas extintas, a secretaria recomenda a utilização da linha Ticen-UFSC. A pasta afirma que o trajeto é composto por mais horários quando comparado às antigas linhas, que em média possuíam três horários por dia — de manhã, de tarde e de noite.

Por outro lado, a prefeitura reiterou que planeja melhorar o trajeto com obras futuras. Em especial, a pasta citou o sistema BRT previsto, que deverá ligar o Ticen até o Titri, localizado nas proximidades da UFSC. As obram devem iniciar ano que vem, segundo a secretaria.

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Outras melhorias no transporte público de Florianópolis foram citadas pela pasta, como a nova linha direta entre o Tisan e o Ticen; o novo cartão turista destinado aos visitantes; e os ônibus circulares que vão atuar na SC-401, em razão das obras na rodovia. No entanto, as mudanças não afetam diretamente o trajeto entre Continente e UFSC.

Estratégia voltada para os custos do transporte

Procurado pela reportagem do NSC Total, o professor Daniel Pinheiro, do Departamento de Administração Pública (Esag) da Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc), contestou as falas da prefeitura, mas concordou com a necessidade do sistema BRT.

— O sistema integrado de Florianópolis é pensado muito mais por uma estratégia de custos do transporte, de quem vai ofertar, do que necessariamente para o usuário. Temos um transporte relativamente caro, pouco confiável e pouco adaptado à vida da cidade: se você tem duas grandes universidades dentro da Ilha, você precisa de um deslocamento focado nisso — disse.

Em relação ao trajeto entre a região continental e a UFSC, o professor explicou a necessidade de linhas de ônibus entre os dois pontos.

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— Sobre o trajeto entre o Continente e a UFSC, eu já percorri muito quando cursava o doutorado e pegava, justamente, o Abraão-UFSC. É interessante a existência de um transporte direto do continente para esses pontos mais intensos da cidade. Então, se eu tenho grandes deslocamentos para algum lugar (como a SC-401, as pontes, a UFSC), eu preciso ter linhas para que eu possa desafogar o trânsito desses locais, incentivando as pessoas a usarem o transporte público. Se a gente pegar o caso de Curitiba, eles também fizeram integração entre terminais, mas também há linhas por níveis. Então, existe aquela linha local de bairro, existem linhas que fazem um percurso médio e outras que fazem um grande percurso, e tudo isso é integrado. É um caso de sucesso — explicou.

Quanto ao BRT, o professor apoiou a ideia da prefeitura, mas alertou para alterações necessárias.

— Eu acho que pode ser interessante, mas temos que lembrar que a lógica do sistema não é simplesmente colocar o ônibus ligando terminais, como hoje se tenta colocar, né? Temos ônibus que, inclusive, são modelos próprios para esse sistema BRT rodando em Florianópolis, mas que não estão no sistema BRT, que significa, exatamente ônibus de trânsito rápido. Para ele fazer a ligação entre dois pontos, você precisa ter vias exclusivas. E a gente não tem essa estrutura. Seria interessante implementar o sistema de BRT para que ele fizesse exatamente isso: grandes viagens.

Confira na íntegra a nota da Prefeitura de Florianópolis

O sistema de transporte da Capital funciona através da integração de linhas via terminais, aumentando a cobertura e reduzindo custos aos usuários. A escolha por linhas diretas, se dá em trajetos estratégicos, em que haja benefício direto para o maior número possível de passageiros. Os antigos trajetos das linhas citadas atendiam um número reduzido de pessoas, uma vez que não passavam por áreas com maior demanda no Continente, além de impedir o uso por usuários que gostariam de parar na região central, fazendo a integração com outras rotas. Cabe salientar ainda que os horários eram mais restritos em relação às linhas atualmente disponíveis, que integram ao 188-Ticen-UFSC, atendendo mais estudantes. Com as linhas existentes são várias as possibilidades de itinerário e horários em operação na região, podendo ser conferidas no site do Consórcio Fênix.

O BRT ligará o TICEN ao TITRI passando na frente da UFSC (Edu Vieira), facilitando a conexão com o Continente. Obras devem iniciar ano que vem.

Em relação ao transporte coletivo, além do BRT, existem projetos de faixa exclusiva de ônibus na saída do TITRI e na saída do TICEN, visando acelerar o trajeto dos ônibus nesses locais. Ainda, nos próximos meses devem ingressar na frota mais veículos com ar-condicionado, assim como os 7 novos ônibus modelo 2025 com ar-condicionado que entraram na frota em outubro/2025. Na temporada de verão, alguns dos destaques estão abaixo:

O tradicional Domingo na Faixa, dia em que o transporte público da cidade é gratuito, será nos meses de janeiro e fevereiro, totalizando 8 domingos de gratuidade. O sistema contará com ônibus extras nos terminais para os momentos de maior pico, principalmente nos dias de grandes eventos.

A nova linha direta entre o TISAN e o TICEN, que deverá usar a faixa exclusiva da SC-401, vai cobrir um trajeto estratégico. Será um meio de conexão rápida tanto aos passageiros que saem da região de Santo Antônio de Lisboa, quanto aos que chegam até o bairro através de linhas que circulam nos principais balneários da região Norte.

Para os turistas, está sendo desenvolvido um novo modelo de cartão de transporte. A venda do cartão turista deve ser descentralizada, podendo ser adquirido na rede hoteleira, supermercados e outros pontos de referência, como os Centros de Atendimento ao Turista. O novo modelo de cartão terá cerca de 20 variações, cada uma contendo uma imagem representativa de Florianópolis, tornando-se uma espécie de souvenir. A ideia busca desestimular o uso de dinheiro no acesso aos ônibus, agilizando a utilização do transporte público.

O município prepara também a oferta de ônibus circulares para atender as marginais da SC-401, na área onde hoje existem as passarelas sobre a via. As estruturas serão retiradas e substituídas em virtude das obras na rodovia. As linhas circulares farão a conexão temporária aos passageiros, permitindo que cheguem de forma prática e segura aos pontos de embarque disponíveis.

*Sob supervisão de Giovanna Pacheco