Durante os primeiros oito meses deste ano, 1.136 pinguins foram encontrados mortos no Litoral catarinense, entre as cidades de Itapoá e Governador Celso Ramos. Apesar de expressivo, o número segue dentro da normalidade, de acordo com especialistas, e a previsão é de que aumente até o final da temporada migratória em outubro. A morte dos animais, porém, pode ser motivada por diversos fatores, sejam naturais ou a partir da ação humana.

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Temporada migratória

Entre maio e outubro, os pinguins-de-magalhães realizam uma superviagem, saindo da Patagônia, na Argentina, em direção ao litoral do Sul e Sudeste do Brasil. Os estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina são os mais visitados pela espécie e podem ser vistos quase que diariamente em praias da região. Em grande parte, os animais que vêm à costa brasileira são jovens e realizam o percurso pela primeira vez.

— Esses animais têm um desafio na vida que é fazer essa migração anual para a região brasileira. Nesse desafio, eles têm um gasto energético muito, muito alto, eles nadam milhares de quilômetros — explica o oceanógrafo Jeferson Dick.

O que explica morte de pinguins em SC

Coordenador da Unidade de Estabilização de Animais Marinhos da Universidade do Vale do Itajaí (Univali), Dick relata que os animais podem encontrar diversos obstáculos durante a temporada migratória, como falta de alimentação e condições climáticas inadequadas.

— A gente acabou de passar por um ciclone, vai passar por outro ciclone, tudo isso aumenta o gasto energético dos animais. Quando eles ficam debilitados, devido ao alto gasto energético, eles ficam muito magros, perdem muita massa corporal. Acaba abrindo portas para outros tipos de infecção. Infecção parasitária, por exemplo, infecção bacteriana e isso pode criar uma septicemia no animal e levar ele a óbito. É o que está acontecendo muito e o que acontece ao longo de vários anos — afirma o especialista.

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Dick ainda pondera que diversos outros fatores podem contribuir com a situação, como o aquecimento global que gera mudanças climáticas.

— A perda de habitat, porque a gente também tem ocupado bastante nossos oceanos. A sobrepesca de peixes pequenos, peixes pelágicos, pode estar diminuindo o estoque pesqueiro para esses animais se alimentarem — menciona.

Ainda segundo o especialista, outro importante motivo que causa a morte da espécie é o emalhe em redes de pesca, provocado por pesca em locais irregulares na costa catarinense. Dick afirma que todas as possíveis explicações são monitoradas para que, ao longo do tempo, seja analisada qual o grau de impacto na morte dos pinguins-de-magalhães na região.

Os encalhes da espécie começam em meados de junho, podendo se estender até outubro. O oceanógrafo esclarece que no final do período de migração os especialistas poderão comparar os números e analisar se o resultado de 2025 ainda está dentro da normalidade.

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Além dos animais encontrados mortos, outros 77 foram avistados ainda com vida. Entre Itapoá, São Francisco do Sul, Balneário Barra do Sul e Araquari foram 33 animais resgatados. Porém, apenas nove sobreviveram e receberam atendimento veterinário no Centro de Reabilitação de Fauna da Universidade da Região de Joinville (Univille).

Pinguins encontrados em Florianópolis

Mais de 130 pinguins foram encontrados mortos ao longo das praias de Jurerê Internacional e Jurerê Tradicional, no Norte de Florianópolis, na manhã desta quarta-feira (20). As aves foram recolhidas pelas equipes da R3 Animal, organização não governamental (ONG) responsável pelo resgate, reabilitação e reintrodução de animais marinhos que chegam fragilizados.

A entidade reitera que o encalhe em massa neste época do ano não é considerado um fenômeno atípico, isso porque a temporada migratória movimenta os animais marinhos para o litoral catarinense em busca de águas mais quentes para reprodução.

Veja as fotos dos animais em Jurerê

Mais de 80 pinguins mortos em São Francisco do Sul

Já na manhã de segunda-feira (18), mais de 80 pinguins-de-magalhães foram encontrados mortos na areia da praia do Ervino em São Francisco do Sul, no Litoral Norte de Santa Catarina. O Projeto de Monitoramento de Praias Bacia de Santos (PMP-BS), executado pela Univille, foi acionado para realizar o recolhimento dos animais.

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— Os encalhes registrados na manhã de segunda-feira, dos 80 pinguins, é um número chocante para todos nós, mas é um cenário que a gente tem observado ano após ano, nessa época do ano, entre outono e inverno — afirma a coordenadora do PMP-BS, Jenifer Vieira.

Veja imagens do encalhe na cidade

De acordo com a especialista, exames de necropsia mostram que a morte desses animais, ao longo dos anos, é causada principalmente por afogamento, quadro associado à captura acidental em rede de pesca.

— Esse é um dado bem alarmante, a gente precisa ficar atento e observar nas praias quando a gente tem redes de pesca irregulares. Neste caso, fazer as denúncias para os órgãos responsáveis pela fiscalização do nosso litoral, para que a gente diminua esse tipo de encontro dos animais em vida livre com as redes de pesca irregulares — alerta.

O que fazer ao encontrar espécie na praia

Caso um pinguim vivo seja encontrado nas praias de Itapoá, São Francisco do Sul, Balneário Barra do Sul ou Araquari, o PMP define as seguintes orientações:

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  • Entrar em contato com a equipe especializada do PMP-BS / Univille: 0800 642 3341 / (47) 3471 3816 (base) / (47) 99212 9218 (WhatsApp);
  • Enviar a localização e se possível, fotos e/ou vídeo do animal;
  • Manter os animais domésticos afastados;
  • Devido ao risco de transmissão de doenças (ex: gripe aviária), não manusear o animal
  • Se possível, realizar a salvaguarda do animal (mantendo distância mínima de 5m) até a chegada dos profissionais da equipe.

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