Um agente público investigado na Operação Mensageiro teria pedido dinheiro para o dono da empresa pivô do suposto esquema de propina com o argumento de custear um evento em Lages, na Serra catarinense. A informação é citada em vídeos de depoimentos e delações dos processos a que a reportagem da NSC teve acesso. Por uma decisão judicial, a reportagem não pode identificar os nomes nem as imagens dos delatores dos processos.

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Uma das investigadas afirma em depoimento que o pedido teria partido do então secretário da pasta de Águas e Saneamento de Lages (Semasa), Jurandir Agustini. Segundo ela, o agente público teria questionado se a empresa Serrana Engenharia não poderia “ajudar” com o pagamento de R$ 100 mil para custear despesas de um suposto encontro de policiais civis femininas, que ocorreria na cidade.

— Se a empresa, se a Serrana poderia me ajudar, que vai haver um evento das policiais civis femininas, se ele pode me ajudar com R$ 100 mil — contou.

O depoimento conta que os representantes da empresa Serrana teriam achado o valor do pedido muito alto, e mandaram avisar que só pagariam metade da quantia: R$ 50 mil.

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Diferente do que costumava ocorrer nas entregas de propina investigadas na operação, desta vez os valores não foram levados pelo empresário apontado como o “mensageiro”. O dinheiro teria sido colocado em um envelope amarelo fechado com fita adesiva e enviado em um malote da própria empresa, endereçado a uma funcionária da companhia em Lages. Ela teria sido avisada por telefone de que receberia “relatórios” enviados pelo dono da empresa. Nesse caso, coube à funcionária entregar os valores ao secretário.

— Eu peguei aquele envelope, com medo, porque sabia que estava errado o que eu estava fazendo, entrei no Semasa, perguntei para o secretário da recepção se o secretário estava, entrei e disse: “estou com o envelope ali no carro”. Ele disse: “ah, pode trazer aqui”. Eu voltei no carro, entreguei, deixei em cima da mesa e saí — narra a funcionária.

A investigação até o momento não aponta se a quantia foi destinada ao evento das policiais. Procurada pela reportagem da NSC, a organização negou ter recebido esse dinheiro. Disse que o evento é “pequeno e simples”, e que os patrocínios foram todos inferiores a R$ 5 mil, apenas para brindes e ajuda de custos, sem nenhum valor pago pela empresa Serrana Engenharia.

Assista a trechos do depoimento da Mensageiro

A Operação Mensageiro

Como a reportagem da NSC contou em março deste ano, a investigação da Operação Mensageiro indica que a Serrana teria pago até R$ 2 milhões ao prefeito e a secretários de Lages durante cerca de dois anos.

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Em todas as cidades, a investigação estima que o suposto esquema teria movimentado cerca de R$ 100 milhões em propina. Já o lucro da empresa pivô do caso teria chegado a R$ 430 milhões.

No total, 16 prefeitos já foram presos preventivamente. Dois foram autorizados pela Justiça a passar para o regime de prisão domiciliar, incluindo o prefeito de Lages, Antônio Ceron (PSD).

Contrapontos

A defesa da Serrana Engenharia informou que todos os esclarecimentos e manifestações vão ser feitos exclusivamente nos respectivos processos da Operação Mensageiro.

Os advogados de Jurandir Agostini informaram que vão continuar respeitando o sigilo judicial da investigação, e que o assunto vai ser tratado entre a Justiça, o Ministério Público e as partes. Mas afirmou que Jurandir se declara inocente.

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A defesa do prefeito de Lages, Antônio Ceron, afirmou que ele, “em total respeito à Justiça”, “vem cumprindo de forma fiel e exemplar as medidas cautelares impostas”.

*Com informações de Juan Todescatt, da NSC TV.

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