Nas 40 edições da Oktoberfest Blumenau, dezenas de personagens fizeram parte da trajetória de sucesso que transformou uma simples festa na maior celebração da cultura alemã das Américas. Alguns deles não estão mais entre nós, mas o legado permanece vivo, como por exemplo na música inconfundível de Helmut Högl, o maestro cobiçado do passado. Do Vovô Chopão ao Planetapeia, confira algumas memórias da “Oktôba”, a festa de todos os blumenauenses.
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Saiba tudo sobre a Oktoberfest Blumenau 2025
O “impossível” Helmut Högl
O ex-prefeito de Blumenau, Dalto dos Reis, participou da saga para trazer o cantor alemão Helmut Högl para a segunda Oktoberfest Blumenau, em 1985.
— Ele era tipo uma celebridade na Europa, e não queria vir de jeito nenhum para este “fim de mundo” — conta Dalto.
A sorte é que Högl era casado com uma brasileira, a verdadeira heroína dessa história, que o convenceu a embarcar nessa aventura.
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Chegando a Blumenau, Högl ficou de queixo caído com a recepção. Diferentemente da festa de Munique, onde o pessoal só queria saber de comer e beber enquanto ele tocava, aqui a galera prestava atenção de verdade.
E depois do último show daquela edição da Oktober, enquanto Dalto já bolava um plano mirabolante para convencer Högl a voltar no ano seguinte, o cantor o puxou para um canto e, com um português enrolado, disparou:
— Eu só queria te pedir uma coisa: que amanhã você me convidasse para voltar.
E assim, Högl virou figurinha carimbada da festa, voltando todos os anos até meados dos anos 1990. Em 1988, ele presenteou a cidade com o primeiro grande hino da festa: “Hallo, Blumenau!” Um verdadeiro clássico tocado até hoje nos palcos da Vila Germânica!

A história do Vovô Chopão
A história do Vovô Chopão, personagem icônico da Oktober, começou a ser desenhada no final da década de 1970. Luiz Cé, o criador, já percebia o potencial turístico de Blumenau e a necessidade de um personagem que pudesse interagir com os visitantes. A inspiração veio da observação de que os avós, ao contrário dos pais, tendem a ser mais permissivos com as crianças.
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— Eles fazem tudo que os pequenos querem, né? Ao contrário do pai, da mãe, que são mais rígidos, os avós fazem tudo — comenta Cé.
Em 1980, o Vovô Chopão já era parte do material de divulgação de Blumenau. Em 1984, com a Oktoberfest, o personagem ganhou ainda mais destaque. Luiz Cé foi convidado a criar o cartaz oficial do evento, que se repetiria nas primeiras edições da festa.
Depois, foi criada a primeira roupa do Vovô Chopão. A fantasia, feita pela mãe de Luiz Cé, incluía um arco de ferro para dar volume, uma touca de palhaço com lã para o cabelo, um nariz de isopor e um bigode de lã. Assim, o Vovô Chopão ganhou vida e se tornou uma presença marcante na Oktoberfest Blumenau.
O coral masculino que virou “queridinhos”
Ah, a Oktoberfest! Uma festa tão dinâmica que até um coral masculino centenário, o Liederkranz (fundado em 1909!), que antes só cantava o Hino Nacional na abertura, resolveu inovar. José Carlos Oechsler, o maestro do grupo, levantou a ideia:
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— Poxa, a gente se encontra toda semana, canta, depois senta em volta das mesas e continua cantando… Por que não levar isso para o palco?
E assim nasceram os Velhos Camaradas. A ideia era recriar aquele clima boêmio, onde amigos se encontram, a música rola e, de repente, todo mundo está cantando junto. O palco virou um bar, com mesas e tudo, esperando os “clientes” — que, na verdade, eram os próprios Velhos Camaradas. E o público? Comprou a ideia rapidinho, para a surpresa de todos!
Hoje, a banda virou uma das vedetes da festa, e é responsável pelos shows de abertura e encerramento.
O maestro e sua turma ainda trouxeram duas ideias que se tornaram parte da Oktober. Primeiro, inspirado nas festas alemãs, onde se desenterra e enterra um caneco, José Carlos pensou em fazer o mesmo aqui.
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— Mas como vamos enterrar o caneco? No dia seguinte já vai estar desenterrado — pensou, na hora, o maestro.
A solução? O Krug Platz, ou Praça do Caneco, uma casinha de cristal dentro do Parque Vila Germânica onde o copo fica guardado o ano inteiro.
Outra ideia foi fazer a simbólica sangria do primeiro barril de chope, que costuma molhar boa parte da plateia com o líquido precioso antes do show de abertura dos Velhos Camaradas.

Um Planetapeia repentino
— Eu brinco que um dia eu fui proibido de entrar na festa e hoje eu sou proibido de sair — conta, rindo, Nerino Furlan.
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O pai do Planetapeia, uma das atrações mais icônicas da Oktoberfest Blumenau, adora relembrar como essa aventura começou. Em 1987, na terceira edição da festa, ele e mais três amigos pegaram uma bicicleta de quatro lugares e foram direto para a concentração do desfile na Rua XV de Novembro.
— Fomos barrados, tipo penetras! Aí eu fui falar com um guarda no cordão de isolamento e dei a desculpa que estávamos atrasados. Ele levantou a corda e entramos pela porta dos fundos!
Poucos anos depois, Nerino tirou do papel o projeto da Centopéia Clássica, um brinquedo modular feito com triciclos conectados que já desfilou na Oktoberfest de Munique, na Alemanha, e em vários outros países. Novas atrações foram surgindo, e hoje são dezenas de invenções, garantindo a alegria da galera!

Tradição não se compra
No começo dos anos 1990, Victor Sasse, então prefeito de Blumenau, já tinha a visão de que a Oktoberfest não era só mais uma festa. Ele era tão ligado às raízes alemãs que foi o primeiro a hastear a bandeira da Alemanha ao lado da brasileira na prefeitura, mesmo com alguns achando que ia dar bafafá.
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— Disseram que isso irritaria a comunidade. Mas é uma festa tradicional alemã, por que nós não vamos prestar também uma homenagem às origens? — argumenta o ex-prefeito, que também reforça o papel dos clubes de caça e tiro para manter as tradições na cidade:
— O cerne do êxito da Oktoberfest são os clubes, porque não se faz uma festa como a Oktoberfest só com bebida: se faz com tradição e cultura — afirma Sasse.
Essa paixão pela tradição continuou em 1995, quando Norberto Mette, ex-secretário de Turismo, teve uma ideia genial: dar entrada gratuita para quem fosse com traje típico. A intenção era dupla: incentivar a produção dos trajes (que antes eram feitos por poucas senhoras e hoje viraram negócios por toda a cidade) e criar um novo atrativo. Deu tão certo que os trajes viraram notícia nacional e reacenderam o amor do blumenauense pela festa.
— Com o estímulo ao uso dos trajes típicos e outras ações, mudamos o sentimento do blumenauense em relação à Oktoberfest. E foi aí que o colorido das roupas destacou a festa pelo Brasil inteiro — comenta Mette.
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Com informações de Vila Germânica na cessão das entrevistas à reportagem. Colaborou Leo Laps.
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