Reconhecido pelos mais de 40 anos dedicados a projetos sociais voltados para comunidades em situação de vulnerabilidade, o padre Vilson Groh, morador de Florianópolis, relembrou em entrevista ao NSC Total o encontro emocionante com o papa Francisco em 2016 e refletiu sobre a importância do pontífice para a igreja católica e para o mundo durante os últimos 12 anos à frente do Vaticano. Francisco, de 88 anos, morreu nesta segunda-feira (21).
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Natural de Brusque, padre Vilson Groh chegou a Florianópolis para estudar Teologia na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) em 1978, quando tinha um pouco mais de 20 anos. À época, ele decidiu construir sua trajetória de fé na luta por justiça social e se estabelecer no Monte Serrat, na periferia da Capital. Em 2011, ele criou o Instituto Pe. Vilson Groh.
Entretanto, foi em 2016 que o Padre Vilson saiu de Florianópolis para se encontrar com o papa Francisco em Roma. A audiência privativa entre os dois ocorreu após um jornalista do Vaticano contar a história do padre da capital catarinense para o líder da igreja católica.
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— A minha audiência com o papa foi muito bela. O papa no final abençoou e falou que deveríamos continuar com esse trabalho e me disse: “o seu trabalho é junto aos pobres, é na periferia. Seu trabalho é construir as pontes na vida de uma cidade, de um país, que é o que eu faço”. Sou muito grato a essa visita. Para mim, quando me encontrei com o papa Francisco, era como se me encontrasse com o rosto de Jesus — conta padre Vilson.
Os padres voltaram a se encontrar em 2022, durante uma audiência geral do Vaticano. Desde então, segundo Vilson, eles se correspondem por cartas.
Como foi o encontro do padre Vilson e papa Francisco
Os 12 anos de papado de Francisco sob o olhar de padre Vilson
Nascido na Argentina, Francisco foi eleito papa em 13 de março de 2013, após a renúncia do papa Bento XVI. Ele é o primeiro Bispo de Roma a ser membro da Companhia de Jesus (Jesuítas) e o primeiro pontífice não europeu em mais de 1.200 anos, além de ser o primeiro papa a utilizar o nome de Francisco, em homenagem a São Francisco de Assis, considerado padroeiro dos pobres. Seu nome de batismo é Jorge Mario Bergoglio.
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O papado de Francisco foi marcado nos últimos 12 anos pelo combate à pedofilia dentro da igreja católica, acabando com o “sigilo pontifício”, usado por líderes eclesiásticos como um código de confidencialidade de abuso sexual, e pela permissão para que padres ofereçam a benção para casais do mesmo sexo. O papa também instituiu medidas para frear a corrupção nas contas do Vaticano e tornou a agenda ambiental uma prioridade para a igreja.
— Papa Francisco, ele traz de volta, e de uma forma muito concreta, uma igreja que olha para as periferias geográficas. Traz para o centro das discussões a problemática da fome, das guerras e tem feito enormes diálogos entre países em guerra, como Gaza e a Ucrânia. Ele é uma presença dialogante. Ele tem trabalhado muito a questão em relação a grandes documentos que dão essa linha de caminho, de humanização, porque ele é um grande humanista — explica padre Vilson.
Além de questões relacionadas à guerra e à fome no mundo, papa Francisco trouxe para a igreja católica um olhar de defesa dos direitos dos imigrantes, da natureza e das mulheres.
— Ele tem um coração grande de defesa dos direitos dos migrantes. A questão da mãe natureza e do cuidado com a mãe natureza. […] Um homem que elevou a presença das mulheres. Hoje creio que nós temos mais de 50 mulheres trabalhando no Vaticano em postos chaves.
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Em 2021, o pontífice alterou o Código de Direito Canônico para permitir que as mulheres pudessem ler textos e distribuir a comunhão na missa.
Durante os últimos 12 anos em que esteve à frente do Vaticano, o papa defendeu três dimensões: que todos têm o direito à Terra, que todos têm o direito a um trabalho digno e que todos tenham direito a um teto. Outra característica de Francisco durante o seu papado é a renovação do conclave, como explica o padre Vilson:
— É um homem que tem renovado também o conclave. Ele tem trazido cardeais das diversas pontas do mundo, de diversos setores oprimidos, de lugares que nunca eram vistos. É um homem que tem uma coerência. O olhar dele pelo mundo e pelas periferias do mundo é muito forte. E não está só olhando, mas indo às periferias.
 
				 
                                     
                            
                            



