Aos 70 anos de idade, Dona Tania Saievicz, moradora de Florianópolis, decidiu fazer algo pela primeira vez na vida: abrir um negócio. A ideia surgiu a partir de uma necessidade. Hoje, ela aproveita um hobbie — a pintura de panos de pratos e outros produtos artesanais — para fechar as contas no fim do mês.
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— Eu sempre tive gosto de fazer as coisas durante a minha vida, mas nunca tive oportunidade. Aí resolvi voltar a estudar, já depois dos 60 anos. E foi ali que me despertou o desejo de desenvolver uma atividade para eu me ocupar, criar e ganhar dinheiro, que era o que eu estava precisando — explica a microempreendedora.
Há dois anos, ela comercializa os produtos que cria em feiras de bairros da capital catarinense. Por trás no negócio, tem muita organização e planejamento.
— Os panos de pratos são baratinhos. As tintas eu uso muito pouco e duram bastante. Então o negócio é baseado nesses cálculos de lucro, gasto e consumo, para eu conseguir tirar o lucro dali e sobreviver — comenta.
Dona Tania faz parte de uma estatística que aumentou na última década no Brasil: o número de idosos abrindo o próprio negócio. Hoje são 4,3 milhões de empreendedores acima dos sessenta anos, segundo o SEBRAE. O número é 34% maior do que em 2020, quando eram 3,2 milhões de empreendedores nesta faixa etária.
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O analista de negócios do Sebrae Santa Catarina, Carlos Kinchescki, diz que empreender nessa fase da vida tem suas vantagens, mas também seus desafios.
— A experiência de vidas eles já trazem. A principal dica que a gente dá é como fazer a gestão. A gente explica, por exemplo, que eles não podem misturar o dinheiro pessoal com o dinheiro da empresa. A gente orienta muito a questão financeira: para eles entrarem num novo negócio, mas com o pé no chão e sabendo o quanto isso está trazendo de benefício para eles — comenta Kinchescki.
Inadimplência entre idosos também cresceu nos últimos cinco anos
O crescimento no número de idosos empreendedores pode ser uma resposta às dificuldades financeiras dessa fase da vida. Entre 2020 e 2025, a quantidade de idosos inadimplentes também cresceu: em 43,16%, segundo o Serasa. Atualmente, são cerca de 15 milhões de idosos endividados no Brasil.
Para o economista Guilherme Alano, o principal motivo que leva pessoas já aposentadas a empreender é a necessidade financeira.
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— Terão, obviamente, os casos a parte. As pessoas que, de fato, não têm essa necessidade e estão buscando uma nova ocupação. Mas esses casos são mais exceções do que a regra. A regra é, na sua grande maioria, pessoas querendo fazer complementação de orçamento — explica o economista.
Uma pesquisa da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (ANBIMA) mostra que, no Brasil, 82% das pessoas não aposentadas ainda não iniciaram uma reserva financeira para a velhice.
Alano explica que começar um investimento ainda na juventude pode aumentar a rentabilidade e os ganhos a longo prazo.
— Quanto antes começar o acúmulo de patrimônio para a aposentadoria, melhor. Porque aí os juros correm ao seu favor. E quanto mais tempo tiver de juros compostos, de juro aumentando o seu patrimônio, mais significativo vai ser o efeito lá na frente — explica.
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Veja fotos dos empreendedores
Apenas 6,8% da população com mais de 18 investe em planos de previdência
Segundo dados da Federação Nacional de Previdência Privada e Vida (FenaPrevi), o Brasil tem atualmente 11,2 milhões de pessoas que investem em planos de previdência, coletivos ou individuais. O número representa 6,8% da população com mais de 18 anos, segundo a última projeção populacional do IBGE.
Amâncio Paladino, diretor da FenaPrevi, explica que uma boa opção de investimento são as Previdências Complementares Abertas. Elas são planos de aposentadoria oferecidos por bancos e seguradoras e que não precisam ser vinculadas a uma empresa específica. O objetivo é complementar a renda do regime geral de previdência social.
— A gente sempre costuma dizer que, quanto mais cedo, melhor. É possível, por exemplo, que os pais ou responsáveis legais, façam planos pra menores de idade. Qualquer pessoa pode investir e com valores que se encaixam no orçamento, seja 50 ou 100 reais, por exemplo — comenta o diretor estatutário da Federação.
A lógica é a mesma de qualquer investimento a longo prazo: quanto mais tempo o dinheiro render no fundo, maior o patrimônio acumulado para o resgate. É o chamado ‘rendimento sobre rendimento’. Dependendo da regularidade e do montante investido, é possível até se planejar para adiantar a aposentaria.
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— O investidor pode definir e combinar isso com a seguradora que provê o plano, seja para se aposentar aos 50, aos 60 ou aos 75. Esse planejamento é pessoal. Hoje em dia, contar com a previdência pública é um desafio. A dificuldade em sustentar o sistema é crescente. É muito recomendado que qualquer pessoa tenha o seu plano de previdência privado, para poder complementar e gerar essa segurança que vai estar sob controle do próprio investidor — afirma Paladino.
Curso gratuito ajuda pessoas acima dos 45 anos a empreender
Em Santa Catarina, há 22 anos, a Universidade do Estado (UDESC) oferece gratuitamente um curso de empreendedorismo e finanças pessoais para pessoas com mais de 45 anos. Claudete Silveira, de 68 anos, é uma das alunas. O que ela aprende na sala de aula, aplica na produção e venda de semijoias em cerâmica que abriu há três anos para complementar a renda.
— Hoje a gente se aposenta aos 60 anos e a gente não sabe qual vai ser a expectativa de vida, quanto tempo a gente vai viver. E durante todo esse período, a aposentadoria vai desvalorizando. Então eu penso que isso vai ser um complemento para o futuro — comenta a aposentada.
O trabalho de produção das semijoias é manual e minucioso. Mas ela comenta que esta é a parte prazerosa do trabalho. E que o mais difícil é cuidar das finanças do negócio.
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— A gente tem que se preocupar com cada detalhe. Eu compro, por exemplo, um esmalte e eu sei que eu tenho que economizar esse esmalte, saber utilizá-lo nas peças e saber quanto custa cada pincelada que eu der numa peça. Graças ao curso da UDESC, eu acabei fazendo uma planilha de custos, para saber por quanto que eu preciso vender cada peça para ter lucro e não ficar com dívidas — explica.
Para os alunos mais novos do curso, as aulas são uma oportunidade de planejar um futuro mais saudável financeiramente.
— Quanto antes, melhor, mas nunca é tarde para começar a fazer um planejamento e um melhor aproveitamento das entradas de capital — explica o professor do curso, Geison de Paula.
Em duas décadas, o curso da UDESC já formou mais de 500 alunos. Na próxima turma, um dos formandos será o Natalino, que, aos 77 anos de idade, faz o curso pensando no futuro.
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— É muito importante ter a dimensão dos custos e da ideia de poupar, de estabelecer uma reserva para a vida, porque a vida continua. Eu tenho um conceito comigo: a vida todos os dias nos ensina algo diferente, algo melhor, para aprimorar a nossa própria vida — diz, com brilho nos olhos, o aposentado.
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