Um empresário do interior de São Paulo diz ter recebido um pedido de propina, tratada como doação, de R$ 100 mil de um dos pastores presos na última quarta-feira (22) pela Polícia Federal por suspeita de corrupção no Ministério da Educação. A denúncia dele deu início à operação Acesso Pago, que prendeu o ex-ministro Milton Ribeiro.
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O denunciante se trata do empresário e radialista Edvaldo Brito, de Nova Odessa (SP), que relatou detalhes do caso em entrevista ao Fantástico (TV Globo). Ele disse ter estado à frente da organização de um encontro em que prefeitos da região puderam buscar recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE).
— Eu descobri que o ministro tinha um gabinete itinerante. Os técnicos do FNDE iam para um determinado município, organizavam um evento em parceria com os municípios, e aí todos os outros municípios eram atendidos — afirmou ao Fantástico.
Na ocasião, Edvaldo buscou os pastores Gilmar Santos, presidente da Convenção Nacional de Igrejas e Ministros das Assembleias de Deus no Brasil, e Arilton Moura, diretor do Conselho Político da mesma convenção, responsáveis por mediar encontros deste tipo e garantir a ida do então ministro da Educação ao interior paulista.
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O empresário diz ter sido recebido pelos dois pastores em um hotel em Brasília, para ter a confirmação da visita dos técnicos do FNDE. Na sequência, os investigados pediram ao denunciante que fosse novamente à capital do país, mas agora acompanhado do prefeito de Nova Odessa, para que gravassem um vídeo com Milton Ribeiro, o que se cumpriu. Foi depois disso que Arilton fez o pedido de dinheiro.
— O próprio Arilton disse: ‘Olha, eu preciso que você faça uma doação. É para uma obra missionária’. Eu falei: ‘Tudo bem. E de quanto é essa doação?’. Aí ele falou: ‘Ah, por volta de R$ 100 mil reais é a doação’. Eu falei: ‘É muito. Eu não tenho. Eu não tenho condição. Mas eu tenho amigos, pessoas, empresários que costumam investir na obra e que eu vou pedir a doação’ — afirmou Edvaldo.
O empresário, que tem três comprovantes de depósitos realizados a pessoas ligadas ao esquema, disse não ter suspeitado de início que se tratava de propina, até que Arilton passou a exigir também compras de passagens. O evento aconteceu em agosto do ano passado, quando o pastor pediu mais dinheiro.
Edvaldo diz que denunciou o caso antes ao próprio ex-ministro, que se mostrou assustado na ocasião e encaminhou ele à Controladoria-Geral da União (CGU). Depois disso, no entanto, Ribeiro participou de novos encontros mediados pelos pastores.
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A PF viu como indício de envolvimento dele no caso a venda de um carro pela ex-esposa do ex-ministro para a filha do pastor Arilton, no valor de R$ 50 mil.
Presos na operação da semana anterior, os dois pastores e o ex-ministro estão soltos e respondem ao caso em liberdade.
Ao Fantástico, o pastor Gilmar Santos disse não se lembrar de Edvaldo Brito nem ter conhecimento de que ele teria pago passagens aéreas. Afirmou ainda que valores doados ao seu genro foram revertidos em bíblias de distribuição gratuita.
O pastor Arilton Moura disse que só se manifestaria nos autos dos processos.
Já a defesa do ex-ministro afirmou que Milton Ribeiro não cometeu qualquer ilicitude e que comprovará a lisura da venda do carro identificada pela PF. Disse ainda que ele ou qualquer outra pessoa não teria poder para privilegiar alguém no ministério, uma vez que há um procedimento formal que regula benefícios.
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