Os calendários foram criados como uma forma de organizar a rotina civil de sociedades com base na passagem do tempo, demarcadas pelos movimentos do Sol e da Lua. Enquanto a luz solar orientou a noção de dia, a Lua e suas fases ajudaram a definir o conceito de mês. A delimitação do ano surgiu em sociedades agricultoras, que utilizavam as estações para determinar momentos de plantio e colheita. 

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Enquanto a observação dos astros trilhou o caminho para a organização social do tempo, a explicação de como chegamos no modelo que usamos atualmente é um pouco mais complexa. Hoje, sabemos que o dia possui 24h, mas a realidade é que o tempo real de rotação da Terra no próprio eixo é bem específico – 23 horas, 56 minutos e 4,9 segundos. Enquanto isso, a Lua possui um ciclo médio de 29,5 dias e o Sol tem um ano trópico de 365 dias, 5 horas, 48 minutos e 45,3 segundos. 

Assista ao vídeo sobre a origem do calendário

Calendários antigos

Egípcio

O primeiro calendário egípcio exemplifica como o tempo social se confundia com o tempo real, resultando em problemas para àquela sociedade. Inicialmente, os egípcios possuíam um calendário de 360 dias e o ano se dividia em três estações de acordo com as cheias do Rio Nilo. Como o ano real possui 5 dias, 5 horas, 58 minutos e 45,3 segundos a mais que o ano egípcio, ao longo do tempo isso fez com que as estações socialmente demarcadas não correspondessem à realidade. Por exemplo, na estação de cheias, o Nilo ainda estava com nível de água baixo. 

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Romano

Em Roma, o primeiro calendário criado também resultou em problemas similares ao egípcio. Isso porque ele tinha 304 dias, divididos em 10 meses. Os quatro primeiros meses tinham nomes de deuses e os outros eram numéricos. 

  • 1º Martius (Marte)
  • 2º Aprilis (Apolo)
  • 3º Maius (maior em latim, dedicado à Júpiter)
  • 4º Junius (Juno)
  • 5º Quintilis (nº ordinal)
  • 6º Sextilis (nº ordinal)
  • 7º September (nº ordinal)
  • 8º October (nº ordinal) 
  • 9º November (nº ordinal) 
  • 10º December (nº ordinal)

Percebeu alguma semelhança com nosso calendário? Isso não é à toa, mas, ainda há mudanças importantes pelo caminho. 

Em Roma, para resolver a situação da organização temporal ser diferente da passagem do tempo astronômica, foi criado o calendário de Rômulo — similar ao calendário grego. Ele possuía 355 dias e era dividido em 12 meses. O primeiro mês passou a ser Januaris, dedicado a Jano, deus das mudanças. O último mês tornou-se Fevereiro, em homenagem a Februa, deus da morte e purificação. 

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  • 1º Januaris (Jano)
  • 2º Martius (Marte)
  • 3º Aprilis (Apolo)
  • 4º Maius (maior em latim, dedicado à Júpiter)
  • 5º Junius (Juno)
  • 6º Quintilis 
  • 7º Sextilis 
  • 8º September 
  • 9º October 
  • 10º November 
  • 11º December 
  • 12º Februarius (Februa)

A diferença de 10 dias, 5 horas, 48 minutos e 45,3 segundos entre ano trópico (astronômico) ao calendário romano resultou em uma nova alteração. A cada dois anos, era adicionado um mês no meio de fevereiro. Ele tinha 22 ou 23 dias e era chamado de Mercedonius. Não bastasse essas modificações regulares, a depender de interesses políticos, esse mês adicional era alongado e o ano ficava maior. 

Nesse cenário, Júlio César, imperador romano, convocou o astrônomo grego Sosígenes para compreender a dimensão do problema: o calendário estava 67 dias adiantado. Então, para retomar a sincronização do calendário com tempo real, em 46 a.C, Júlio César ordenou que fossem acrescentados 90 dias ao ano. Isso ficou marcado como o Ano da Confusão, porque teve um total de 445 dias. O maior de todos os tempos. 

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Juliano

No ano seguinte, 45 a.C., teve início o calendário juliano. Na nova organização, Fevereiro se tornou o segundo mês do ano. 

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  • 1º Januária (Jano)
  • 2º Februarius (Februa)
  • 3º Martius (Marte)
  • 4º Aprilis (Apolo)
  • 5º Maius (maior em latim, dedicado à Júpiter)
  • 6º Junius (Juno)
  • 7º Julius (Júlio César)
  • 8º Augustus (César Augusto)
  • 9º September (nº ordinal sem correspondência real)
  • 10º October (nº ordinal sem correspondência real)
  • 11º November (nº ordinal sem correspondência real) 
  • 12º December (nº ordinal sem correspondência real)
representação do calendário juliano
Calendário juliano, com representação dos meses. (Crédito: Rupert Shepherd)

O calendário juliano possui uma organização igual ao que usamos atualmente — desde ordem dos meses a quantidade de dias em cada um deles. Mesmo assim, ele precisava de ajustes porque tinha um tempo adicional de 11 minutos e 14 segundos em relação ao ano trópico. Com isso, a cada 128 anos, um novo dia tinha que ser acrescentado ao calendário. 

Esse fato gerou preocupações de um conflito político-religioso. Isso porque a Páscoa era comemorada no primeiro domingo após a Lua Cheia, durante o equinócio de primavera, no hemisfério norte. Em longo prazo, a adição de um novo dia modificou a data do solstício de primavera e, consequentemente, a celebração da Páscoa. 

Cerca de 1459 anos depois, o problema foi tratado no concílio de Constança (1414) e Basileia (1436 e 1439). Mesmo assim, nenhuma solução foi encontrada. Só em 1582 o Papa Gregório XIII criou o calendário gregoriano — o mesmo que usamos hoje. 

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Calendário gregoriano

O calendário gregoriano leva o nome do Papa Gregório XIII porque, em 1576, ele foi responsável por reunir uma comissão de matemáticos e astrônomos, responsáveis por buscar uma solução para o calendário juliano. Seis anos depois, em 1582, utilizando dados dessa comissão, Gregório XIII expediu a bula Inter Gravíssimas, que indicava as regras do novo calendário, 

Novo calendário gregoriano impresso em Roma em 1582. (Crédito Luigi Giglio/Biblioteca do Vaticano)

Do momento em que o calendário juliano foi implementado (45 a.C) a quando o Calendário Gregoriano foi criado (1582 d.C), 10 dias adicionais já haviam sido criados. Para resolver a disparidade temporal, a norma do novo calendário foi dar um “salto no tempo”. Na prática, o dia após a quinta-feira, 4 de outubro de 1582, se tornou sexta-feira, 15 de outubro do mesmo ano. 

Adesão ao calendário Gregoriano

A medida não foi facilmente aceita, mesmo entre os países cristãos. As únicas nações que aplicaram a mudança de forma imediata foram Itália, Espanha e Portugal. Houve resistência em países protestantes e, também, em povos de religião ortodoxa. A Rússia, Grécia e Turquia, por exemplo, seguiram utilizando o calendário juliano até o início do século XX. 

Atualmente, o calendário gregoriano é usado em escala global, o que minimiza possíveis desencontros em relações internacionais. Mesmo assim, há diversos países que mantêm, paralelamente, seus próprios calendários para celebrações e ritos religiosos. 

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Outros calendários 

Chinês

Esse é o caso do calendário chinês, que é um dos mais antigos, com início em 2637 a.C. Enquanto o gregoriano é utilizado no dia-a-dia pelos chineses, o calendário ancestral marca eventos culturais. Por isso, o Ano Novo Chinês acontece em uma data diferente do Revéillon. Esse calendário é lunissolar — utiliza Lua e Sol para demarcar o tempo. 

Islâmico

O calendário Islâmico (ou hegírico) teve início em 622 d.C e se organiza com base na Lua. Com 12 ciclos lunares, esse calendário — com aproximadamente 354 dias — é marcado por celebrações como ramadã e Ano Novo Islâmico. De forma paralela, os países que seguem essa organização temporal, também utilizam o calendário gregoriano para relações internacionais e comerciais. 

Etíope

O calendário Etíope segue organizações similares à última versão do calendário Juliano, ou seja, um calendário solar. Mas com uma diferença: ele calcula que o nascimento de Cristo foi sete anos antes do que o gregoriano marca. Por isso, está sempre sete anos antes do calendário que utilizamos. 

Esse cálculo, inclusive, está correto, mas corrigir o calendário gregoriano seria muito turbulento, então a mudança nunca foi realizada. Outra diferença do calendário etíope é que a primeira hora do dia começa no momento em que o Sol nasce.

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Juche

O calendário Juche é utilizado na Coreia do Norte e teve início em 1912 d.C, com o nascimento de Kim II-Sung como marco temporal. Ele é solar e segue uma organização igual ao gregoriano, com exceção para a marcação dos anos, 

Maia

Os Mais organizaram o tempo social em três diferentes calendários. Há o Haab, que possui 365 dias e é similar a um calendário solar, mas sem anos bissextos. Além dele, há o Tzolk’in, utilizado apenas para datas religiosas e sem nenhuma relação com os astros. Ele possui 280 dias e é dividido em 20 meses. 

Calendário maia é composto por grifos e cada símbolo corresponde a uma unidade temporal. (Crédito: Maunus/Domínio Público)

Por fim, os Maias possuem o Conta Longa, com unidades temporais crescentes. A cada 20 dias completa-se um mês e o ano ocidental é formado por 18 ciclos mensais, mas o ano maia é composto por 20 meses. O marco inicial do Conta Longa é 11 de agosto de 3114 a.C e a representação física é de 5200, apesar de não existir duração limitada. O fim desse período aconteceu, segundo pesquisadores, em 21 de dezembro de 2012.