Um prédio histórico de Joinville comprado pelo governo municipal petista em 2012 nunca foi usado pela prefeitura e agora está sendo demolido. A construção original ao lado da Rua das Palmeiras é de 1890 e já abrigou desde hotel e marcenaria até uma loja de autopeças. Adquirido por uma empresa da cidade, em 1990 a estrutura começou a passar por obras que, por motivos desconhecidos, nunca foram concluídas. Vazio há mais de três décadas, um passo mais concreto para dar finalidade ao edifício foi dado pela atual gestão: transferir a Secretaria de Educação para o espaço.

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Quando adquirido pela prefeitura, há 11 anos, o valor pago pelo imóvel foi de R$ 6,5 milhões que, com juros corrigidos pelo IGP-M (Índice Geral de Preços – Mercado), equivalem atualmente a R$ 16,7 milhões — o que corresponde ao percentual de 158% acima do recurso desembolsado à época.

Apesar do valor expressivo, a estrutura passou pelos governos de Carlito Merss (2009-2012) e Udo Döhler (2013–2020) e chegou à quarta gestão municipal sem uma ocupação. Em 2023, os trabalhos para tornar o local a nova sede da Educação começaram e, com isso, Adriano Silva deu andamento ao propósito inicial da aquisição.

Reforma do prédio, que estava paralisada desde 1990, deve ser concluída em 2024 (Foto: Prefeitura de Joinville/Divulgação)

Marquinhos Fernandes, ex-secretário de Educação no governo PT, afirma que o objetivo da compra foi, de fato, criar um espaço de referência para a pasta, já que o prédio em que era comportada a Secretaria de Educação não oferecia acessibilidade e nem conseguia “atender dignamente” os servidores e a comunidade.

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Rua das Palmeiras: Testemunhas da história de Joinville

Além da Educação, pretendia-se que o prédio também comportasse um centro de formação para professores da rede que contasse com laboratório de informática e mídias digitais, além de biblioteca especializada. Conforme Marquinhos, essas iniciativas estavam dentro de um projeto maior do PT de revitalização da área que, do ponto de vista histórico e patrimonial, é uma das mais importantes da cidade.

A implantação desta estrutura se daria por etapas, explica, desde a aquisição do prédio (que, após negativa da Câmara de Vereadores em 2011, foi aprovada no ano seguinte), passando pela reforma até a instalação dos serviços. No entanto, as obras não saíram do papel.

— Para cada etapa tem uma série de procedimentos burocráticos a serem executados e isso leva um tempo considerável. Esses fatores não permitiram a concretização do projeto, que não teve continuidade nos governos que se sucederam — justifica o ex-secretário.

Reforma inacabada e novo projeto

A reforma deste prédio começou em 1990 e nunca foi concluída. Como, até então, tratava-se de uma propriedade privada, não há documentado os motivos que levaram à paralisação das obras. Agora, mantendo a ideia inicial, o governo Adriano Silva trabalha para instalar o Centro de Inovação da Secretaria de Educação de Joinville no espaço.

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Prédio passa por reforma e obra deve ser entregue em 2024 (Foto: Arquivo AN)

A maior parte da estrutura, de 1,9 mil m², está sendo demolida, mantendo-se preservadas apenas duas paredes entre as ruas Rio Branco e Três de Maio, que datam da construção original. Elas serão mantidas por estarem no entorno do Museu Nacional de Imigração e Colonização, um imóvel tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

O novo projeto tem investimento de R$ 7,7 milhões e o espaço contará com auditório para até 320 pessoas, salas para equipe administrativa, quatro salas multiuso, estúdio de gravação, sala de metodologias ativas, laboratório maker, laboratório de ciências e ateliê de artes, além de espaços para café e exposições.

A ideia é que o Centro de Formação e Inovação abrigue toda a equipe responsável pela formação continuada dos professores e profissionais da rede municipal de ensino e que seja usado para formação e experimentação em tecnologias e práticas inovadoras. Há a possibilidade ainda de receber alunos para projetos e atividades que contribuam para o desenvolvimento de novas metodologias.

De hotel referência a prédio desocupado

Ao final do século 19 e início do século 20, com os lucros adquiridos com o comércio de erva-mate, a então Colônia Dona Francisca passava por um momento de expansão econômica e muitas edificações começaram a ser construídas, desde o ramo industrial e armazéns a prédios públicos.

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No final da atual Rua Sete de Setembro existia também um porto de embarque de passageiros para São Francisco do Sul e, em função deste crescimento portuária, a região foi urbanizada e ruas foram abertas no entorno dos lotes adquiridos pelo Príncipe de Joinville, onde já existia, desde 1870, o Casarão que atualmente abriga o Museu Nacional de Imigração e Colonização.

Prédio foi construído em 1890 para abrigar hotel e marcenaria (Foto: Arquivo Histórico de Joinville/Divulgação)

O prédio histórico da Rua das Palmeiras foi construído 20 anos mais tarde, em meio ao processo imigratório da cidade. O alemão Johann Adolf Müller foi o responsável pela construção do Hotel Müller, que funcionava junto de uma marcenaria, profissão de registro do empreendedor.

Johann chegou a ser vereador e morreu em 1930, deixando o ramo hoteleiro nas mãos de dois de seus sete filhos. De acordo com registros do Arquivo Histórico de Joinville, o hotel foi um dos primeiros da cidade e, durante o princípio do século XX, era uma referência em estadia.

Em 1951, ano do centenário da cidade, o adensamento das edificações é ainda maior e Joinville passa a abastecer, com seu pólo industrial, os grandes centros consumidores nacionais. O aumento populacional fica ainda mais evidente, principalmente na região central, e novos tipos de atividades passam a ser praticados.

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Neste cenário, o prédio deixa de ser Hotel Müller e marcenaria e passa a ser usado como loja de autopeças, oficina mecânica e sede da Sociedade Amigos de Joinville, que organizou os festejos dos 100 anos.

Já na década de 1990, o prédio começou a passar por reforma, mas a obra nunca foi concluída. Por fim, em 2012, o imóvel foi comprado pela Prefeitura de Joinville e, após um hiato de 32 anos, deve ter sua reabertura em 2024, com a conclusão da construção do Centro de Formação da Secretaria de Educação.

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