O prefeito de Blumenau Egidio Ferrari (PL) vetou um pacote com três projetos de leis relacionados à população LGBTQIAPN+. A justificativa inclui falas sobre a “defesa da família em sua concepção tradicional” e a “preservação de princípios de bons costumes”. Todos os projetos tinham sido aprovados pela Câmara Municipal em julho.

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Os projetos de lei vetados eram de autoria do vereador Jean Volpato (PT), com coautoria do vereador Bruno Cunha (Cidadania), que se manifestaram contra o veto nas redes sociais. A Câmara de Vereadores tem a opção de derrubar os vetos, o que poderia fazer com que os projetos de lei fossem promulgados, ou de aprovar os vetos do prefeito e fazer com que esses projetos sejam arquivados.

Os demais vereadores ainda não se manifestaram publicamente até o momento de publicação desta matéria.

Saiba quais foram os projetos vetados

Foram vetados: o projeto de lei 9190/2025 institui a Semana Municipal de Conscientização e Combate à Violência contra a População LGBTI+. O objetivo seria de promover o respeito à diversidade sexual e de gênero, ampliar o diálogo e combater o preconceito e a discriminação, conforme consta no documento da proposta.

O projeto de lei 9212/2025 aborda o uso do nome social e o reconhecimento da identidade de gênero no âmbito da administração pública municipal. O texto propõe que haja, nos registros de sistemas de informação e documentos oficiais, um campo para informar o nome social, acompanhado do nome civil apenas para fins administrativos internos.

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Já o projeto de lei 9213/2025 propõe um Plano Municipal de Políticas Públicas para a População LGBTQIA+. O objetivo seria de criar diretrizes voltadas à promoção dos direitos, cidadania e inclusão, com base nas discussões realizadas em conferências municipais temáticas e nas diretrizes nacionais e estaduais.

A implementação seria feita “de forma gradativa, transversal e integrada entre os órgãos municipais competentes, sob a coordenação da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social, em conjunto com o Conselho Municipal de Direitos Humanos”, como explica o documento.

Repercussão

No mesmo dia do veto, o vereador Jean Volpato divulgou um vídeo nas redes sociais em que repudiou o veto e chamou de “ato vergonhoso”. O vereador Bruno Cunha também se manifestou nas redes sociais e chamou a justificativa dos vetos de “infeliz”.

A ONG Mães do Amor, que é uma organização em defesa de direitos das pessoas LGBTQIA+, publicou uma nota de total repúdio ao veto do prefeito Egidio Ferrari e pede para que os vereadores da Câmara derrubem os vetos do prefeito. O instituto destacou que os direitos humanos são garantias constitucionais, e “não são concessões do poder público”.

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“Ao afirmar que tais iniciativas contrariam ‘a defesa da família tradicional’ e ‘os bons costumes’, o prefeito desrespeita a Constituição Federal, que garante igualdade, dignidade, cidadania e não discriminação a todas as pessoas. Manter esses projetos é reafirmar que Blumenau é uma cidade comprometida com a igualdade, o respeito à diversidade e a dignidade humana, e que não tolera retrocessos em matéria de direitos fundamentais”, declarou o instituto na publicação.

“Blumenau é plural. Blumenau é diversa. A proteção à população LGBTQIA+ é um dever do Estado e um valor da democracia”, conclui a ONG em uma nota oficial de repúdio.

O que diz a justificativa do prefeito

O documento que comunicou os vetos afirma que o prefeito Egidio Ferrar entende que “suas proposições contrariam diretrizes fundamentais e os valores expressos no Programa de Governo da Coligação ‘Proteger e Servir’, que baliza a atual gestão municipal e, embora possam não representar a forma de pensar de outros segmentos sociais, foi validado pela maioria da população”.

“A administração municipal, respaldada pelo sufrágio universal e pela decisão das urnas eleitorais, pauta suas ações na defesa da família em sua concepção tradicional e na preservação de princípios de bons costumes, essenciais para a coesão social de nossa comunidade”, afirma sobre os projetos de lei que promovem o uso do nome social, reconhecimento da identidade de gênero e Semana Municipal de Conscientização e Combate à Violência contra a População LGBTI+.

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“Especificamente quanto ao Projeto de Lei nº 9212/2025, observo que a priorização do nome social e o reconhecimento de ‘identidade de gênero’ no âmbito da oficiais, não condiz com a estrutura de governo que pretende implementar. A adoção irrestrita de tais conceitos, ao invés de fortalecer a segurança jurídica e a clareza administrativa, pode gerar incertezas e conflitos com a primazia do nome civil, que é a identificação legal e universalmente reconhecida do indivíduo”, continua.

Sobre o projeto que propõe uma semana municipal de conscientização, o prefeito declarou que “o combate à violência e à discriminação seja um objetivo inerente a qualquer administração pública séria e comprometida com o bem-estar de seus cidadãos”. Porém, também comunicou que “a instituição de uma semana específica focada na ‘diversidade sexual e de gênero’, tal como definida no projeto, também se alinha com a promoção de uma ‘ideologia de gênero'”.

O plano municipal de políticas públicas para a população LGBTQIA+ teve veto integral por razões “de natureza jurídica, por inconstitucionalidade, e de mérito, por contrariedade ao pensamento coletivo majoritário” e seria inconstitucional por “usurpar a competência privativa do Poder Executivo”, segundo o documento. Ainda consta na mensagem de veto que o projeto de lei tem “insegurança jurídica” por não ter detalhado um plano definido e que “uma legislação deve ser clara e precisa em seu escopo, garantindo a previsibilidade e a segurança jurídica”. 

O prefeito destacou, mais uma vez, os pilares do Programa de Governo da Coligação “Proteger e Servir” e menciona duas cláusulas como argumento: “Estabelecer diretrizes que impeçam a abordagem da ideologia de gênero no ambiente escolar” e “Fortalecer regras para que conteúdos que atentem contra a lei, a moral e os bons costumes sejam vedados em atividades culturais”. 

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“A criação de um plano específico, nos moldes propostos pelo Projeto de Lei, sem alinhamento com as prioridades e a visão de gestão eleita, desconsidera o pacto firmado com a sociedade e pode gerar despesas não planejadas, comprometendo a execução de outras políticas públicas essenciais e prioritárias para o desenvolvimento do Município e o bem-estar de toda a população”, concluiu o prefeito Egidio Ferrari.

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