A catarinense Barbara Zandômenico Perito vive uma verdadeira guerra judicial, iniciada pelo pai da filha dela, um empresário italiano que ajudou a disseminar uma onda de difamação internacional. Barbara chegou a ser acusada de integrar uma seita de mulheres que engravidam para extorquir homens estrangeiros e lucrar com pensões alimentícias. O caso foi divulgado pelo Fantástico no domingo (12).
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Nunzio Bevilacqua, advogado e empresário com negócios no Brasil e ex-namorado de Barbara, foi à mídia italiana dizendo que a gravidez da brasileira era fruto de “orgias e ritos satânicos”. Ao Fantástico, ela afirmou:
— Eu não faço parte de seita nenhuma. Não existiu golpe de nenhum tipo. Existia um relacionamento que não deu certo e, desse relacionamento, existe uma criança, que é saudável, minha filha, filha dele, que vive e está aí. É isso que existe nessa história.
O relacionamento
Tudo começou em 2021. Barbara mora em Tubarão, no Sul catarinense, é descendente de italianos e ensina a língua para brasileiros, além de dar aulas de português para estrangeiros. Cidadã italiana, ela disse inclusive que já havia conhecido a Itália.
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Nunzio se matriculou para aprender português com ela. A relação que era profissional foi ganhando contornos pessoais, e logo eles engataram em um relacionamento. Barbara conta que desde o início já era apresentada por ele como namorada.
— Eu achei isso um pouco estranho, mas também não comuniquei a ele. E acabei sendo, né? — disse.
O relacionamento evoluiu, mas Barbara notou diferenças entre eles que não se resolveriam. Pensou em terminar o namoro, mas depois de uma viagem com Nunzio pelo Brasil, descobriu estar grávida.
— Ele ficou superfeliz — relembra a professora. No entanto, ainda durante a gravidez, Nunzio voltou para Roma, e insistia para que a catarinense se juntasse a ele na Itália. Em um vídeo compartilhado nas redes sociais, ela contou que o italiano tinha um plano de vida no país europeu, que a incluia. O nome do bebê estava escolhido, assim como os padrinhos (pessoas que ela não conhecia). O quarto da criança também estava em andamento na casa dele.
Eles se afastaram. Barbara preferiu ficar no Brasil, perto da família, já que era a primeira gravidez dela. Nunzio, no entanto, não aceitou bem a decisão.
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— Ele me ligou um dia perguntando se tudo bem se ele não participasse da criação dela, não registrasse e não ajudasse financeiramente. Eu falei: “Isso aqui não está certo. A gente precisa fazer o que é certo: registrar, acertar a convivência, acertar a pensão” — conta Barbara.
Difamação
O fim do relacionamento marcou o início da onda de difamação, que chegaria à RAI, a maior rede de TV da Itália. Repórteres da emissora chegaram a vir para o Brasil, abordaram Barbara e a filha, já com dois anos, na rua.
O italiano dizia a imprensa italiana que havia uma organização criminosa no Brasil que enganava homens europeus, principalmente italianos, para extorquir dinheiro deles. O empresário chegou a dar entrevistas, e disse ter recebido uma denúncia anônima: “A gravidez de Barbara seria fruto de orgias e ritos satânicos brasileiros que alimentavam uma fábrica de crianças sobrenaturais para lucro com pensões alimentícias”.
A filha de Barbara nasceu em julho de 2022. Nos meses seguintes, Nunzio solicitou um exame de DNA, feito em um laboratório escolhido por ele, em São Paulo, segundo o ex-advogado dele no Brasil, Matheus Livramento. O resultado deu positivo para a paternidade, mas o empresário alegou que o teste havia sido manipulado pela “seita”. Um segundo teste foi solicitado, mas o pedido foi negado pela Justiça.
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— Ele criou uma narrativa como se no Brasil tudo fosse possível — contou Barbara. — Seita religiosa, que é uma organização criminosa, em que as mulheres engravidam de um santo por meio de uma fertilização. Ou seja, todas as crianças são filhas do mesmo santo, do mesmo guru. E, depois de dois anos, se a gente não alcança o objetivo, as crianças são vendidas.
A narrativa envolvia Barbara, o Ministério Público de Santa Catarina, grupos religiosos, médicos, políticos e até familiares de Barbara. Agora, a defesa dela pede que Nunzio seja responsabilizado pelo crime. Há um processo criminal instaurado na Justiça Federal que apura os supostos crimes de calúnia, difamação e perseguição, “todos praticados por meio da internet, em contexto violência doméstica”.
— Ele atenta contra o Ministério Público, ele atenta contra a Igreja Católica, contra outras religiões, contra uma pessoa que tem direitos, que é a Barbara, e mais ainda: contra a filha dele, uma menor de idade — diz Vitor Poeta, advogado de Barbara.
A Justiça concedeu à Barbara medidas protetivas que impedem Nunzio de se aproximar dela e de familiares, mantendo uma distância de ao menos três quilômetros entre eles. O italiano também não pode contatar nem Barbara, nem os familiares dela, por qualquer meio.
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Nunzio Bevilacqua não tem advogado constituído no processo criminal brasileiro. O Fantástico foi atrás dele onde ele mora, em Roma, mas ele não quis falar sobre o caso. Roberta Rei, jornalista do canal Itália 1, reconheceu a situação, e disse que um novo teste de DNA poderia encerrar o assunto. A emissora não se manifestou.
A filha de Barbara tem três anos atualmente. Barbara segue dando aulas, e nunca recebeu ajuda financeira de Nunzio, que ainda não reconhece a paternidade.
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