Um trabalho de levantamento de dados sobre crimes em Chapecó mapeou os casos de homicídios, roubos e abuso sexual na principal cidade do Oeste de SC. A versão mais recente do estudo, divulgada em um anuário com dados de 2024, apontou que o município teve uma taxa de 90% de esclarecimento dos homicídios, o que colocaria a cidade em patamar de países europeus.

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O projeto também inspirou o Mapa do Feminicídio de SC, um panorama dos casos de mortes de mulheres no Estado, em elaboração pelo Ministério Público de Santa Catarina (MPSC), com previsão de lançamento entre o fim deste ano e o início de 2026.

O programa Dados em Evidência é conduzido pelo promotor de Justiça Simão Baran Júnior, da 14ª Promotoria de Justiça em Chapecó. Ele afirma que uma das virtudes do levantamento é conseguir distinguir entre os homicídios quais casos se relacionam com conflitos entre facções, brigas em bar, conflitos de família ou episódios de feminicídio.

O levantamento também permite analisar quais os casos que já foram solucionados, quanto tempo durou a tramitação na Justiça e quais foram as respostas dadas à sociedade. Os dados favorecem também a análise do perfil dos crimes na cidade e a definição de políticas públicas para combate à criminalidade e redução de indicadores na segurança pública.

— Uma questão do Brasil é que às vezes a falta de estatística qualificada faz com que não se consiga comparar, fazer uma gestão baseada em evidências. Muitas vezes, quando se troca alguma administração, perde-se muita coisa. Qualificar esses dados permite amadurecer o combate ao crime — afirma o promotor.

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Outra conclusão do levantamento com dados de 2024, foi de que Chapecó teve a menor taxa de homicídios dos últimos 30 anos, com uma taxa de 10 mortes para cada 100 mil habitantes. O levantamento na cidade recuperou a série histórica de crimes na cidade desde 2006. O programa unifica as estatísticas policiais e judiciais da cidade.

Levantamento ofereceu panorama dos casos na cidade

O presidente do Conselho de Segurança Pública de Chapecó (Consen), Marcio Bueno, afirma que o trabalho do promotor permite conhecer o cenário da violência na cidade de forma mais aprofundada. Ele lembra que o promotor precisou levantar informações caso a caso de boletim de ocorrências, para elaborar um panorama histórico dos crimes na cidade.

— O trabalho para nós se mostrou de extrema importância porque demonstrou os locais que têm mais crimes, os tipos de crimes que mais afrontam a sociedade chapecoense. No nosso caso, descobrimos que a maior parte [dos homicídios] são por causa banal, por brigas de família ou casos de trânsito, por exemplo — explica.

Números em queda e diagnóstico da segurança na cidade

Embora o primeiro anuário com base no projeto tenha sido lançado no fim de 2024, os números parciais deste ano já indicam redução nos indicadores de violência. O presidente do Conselho de Segurança Pública afirma que as mortes violentas tiveram queda de 50% no primeiro semestre deste ano, caindo de 16 para oito na comparação com os seis primeiros meses do ano passado.

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O Conselho de Segurança Pública foi criado em 2023 e reúne a Polícia Militar, órgãos estaduais da segurança como as polícias Militar, Civil, Científica e Penal, órgãos federais como a Polícia Rodoviária Federal e Polícia Federal, além de Ordem dos Advogados do Brasil e prefeitura. O grupo define ações estratégicas na área da segurança, como fiscalizações específicas a problemas que se acentuam na cidade.

Os casos de feminicídio

Outra vertente que é avaliada no projeto estatístico do promotor Simão Baran Júnior são os casos de feminicídio, que agora ganharão um mapeamento estadual por parte do MP. No caso da situação constatada em Chapecó, o promotor avalia que o a resposta das investigações aos feminicídios consumados foi considerada satisfatória, com casos julgados em até três anos e condenação na maioria dos casos. A solução para a redução deste tipo de crime, segundo ele, no entanto, envolve outros fatores.

— Os casos não caem porque há fatores sociais, estruturais de machismo. A partir disso, fizemos trabalhos de reforço de conscientização de combate à violência contra a mulher, com abordagem sobre questões de gênero. A punição é importante e essencial, mas não é suficiente — defende.

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