Uma semana após ser atacada por uma capivara ao mergulhar na lagoa da Lagoinha do Leste, em Florianópolis, a psicóloga e escritora Fabiana Lenz, de 32 anos, segue em recuperação dos ferimentos graves sofridos no abdômen, na nádega e no braço direito. Ela foi socorrida de helicóptero e levada ao Hospital Universitário, no bairro Trindade, onde passou por exames e iniciou tratamento para evitar infecções.

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Fabiana afirma que não havia visto a capivara antes do ataque e que foi surpreendida pelo animal, que estava submerso na água. Ela conta que escapou por pouco de consequências mais graves.

— Por meio milímetro não furou o meu intestino. Eu fiquei com o nervo da perna exposto. Poderia ter perdido a mobilidade da perna, mas nada disso aconteceu — relata, com alívio.

Ataque aconteceu na lagoa

O ataque aconteceu por volta das 13h da última segunda-feira (8), em um dia de calor. Fabiana estava acampada na Lagoinha do Leste havia dois dias e entrou na lagoa para um último mergulho antes de deixar o local.

Já na saída da água, decidiu molhar o cabelo mais uma vez, quando foi surpreendida pelo animal.

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— Quando eu me molho e saio com a cabeça para fora da água, com a água na altura do peito, eu sinto um soco na minha barriga e uma dor, assim, absurda. No primeiro segundo, eu não entendi, parecia que eu tinha batido num tronco.

Veja fotos do caso

Mulher tentou reagir ao ataque

Em seguida, a capivara saiu para fora da água e foi em direção ao rosto de Fabiana, que reagiu com socos e chutes. Depois, o animal mordeu a nádega de Fabiana, arrancando parte do tecido.

O ataque durou cerca de oito a 10 segundos, até que o namorado conseguiu puxá-la para fora da água.

— Foi apavorante. Eu estava na beira da lagoa, com a barriga aberta, sangrando, vendo a gordura, a beira das vísceras. Foi um choque, um desespero — recorda.

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O casal começou a gritar por socorro e os guarda-vidas chamaram o Corpo de Bombeiros (CBMSC), que chegou após cerca de 15 minutos. Fabiana foi resgatada de helicóptero e levada ao Hospital Universitário Polydoro Ernani de São Thiago.

Veja vídeo do socorro

Recuperação é lenta

No hospital, Fabiana passou por tomografias e outros exames que descartaram lesões internas mais graves. No total, ela levou 19 pontos de aproximação e segue de repouso absoluto, uma semana após o ataque.

— Ela dilacerou o meu abdômen, na parte direita. Sabe quando a pessoa faz uma cirurgia de apendicite? É isso aí, mas três vezes maior. Ela também dilacerou uma nádega direita, mordeu para dentro e arrancou um pedacinho — descreve.

O fechamento das feridas exigiu cuidados especiais. Segundo Fabiana, nem todas puderam ser completamente suturadas devido ao risco de infecção. Além dos pontos, ela iniciou um protocolo com vacinas antirrábica, além de medicamentos antibióticos, antivirais e analgésicos.

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Apesar da dor, principalmente no lado direito do corpo, Fabiana afirma que a evolução do quadro tem sido positiva.

— Eu consigo sair da cama e ir até o banheiro e consigo, com ajuda, sair de casa para ir até o postinho fazer o curativo. Mas mais do que isso, estou bastante travada — conta.

Surpresa com o ataque

Frequentadora da Lagoinha do Leste há muitos anos, Fabiana diz que sempre nadou na lagoa e nunca havia visto capivaras no local. Ela relata, ainda, que só tomou conhecimento da presença do animal no início deste ano, após saber de um ataque a um homem que tentou separar uma capivara de um cachorro.

A vítima afirma que o ataque a ela foi completamente inesperado. Uma das hipóteses levantadas por guarda-vidas é que a capivara pudesse estar em comportamento defensivo, possivelmente relacionado à proteção de filhotes — embora nenhum tenha sido visto.

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Enquanto se recupera, Fabiana pensa em ações preventivas que podem evitar novos acidentes.

— Muitas pessoas falaram: “não, agora a gente tem que extinguir elas, matar elas”. E eu sou mais uma via diplomática. Acho que existem lugares que são mais adequados e seguros para elas, até porque elas causando isso para nós, eu sei que elas também vão estar em risco. Eu acho que vale a pena, por exemplo, botar placas, avisando — pontua.

Floram diz que caso é isolado

Em nota, a Fundação Municipal do Meio Ambiente de Florianópolis (Floram) afirmou que o episódio pode ser tratado como um caso isolado e que ocorrências desse tipo são raras. Segundo o órgão, a capivara é um animal silvestre herbívoro e não apresenta comportamento predatório.

“No caso específico, os elementos observados e veiculados indicam que a capivara foi surpreendida dentro da água, ambiente utilizado pela espécie como área de refúgio e reprodução. Situações de aproximação inesperada nesse contexto podem desencadear reações de defesa, sobretudo quando o animal percebe risco iminente. Ressalta-se que não se trata de comportamento predatório, uma vez que a capivara é uma espécie estritamente herbívora. As reações registradas caracterizam-se como respostas defensivas a estímulos percebidos como ameaça, e não como ataques intencionais”, declarou a Floram.

Insituição nega superpopulação de capivaras

A Floram reforçou também que não considera haver uma superpopulação de capivaras na Ilha. De acordo com a fundação, os animais são nativos e têm voltado a ocupar áreas naturais e urbanas devido à ausência de predadores e à existência de ambientes favoráveis, como rios e lagoas, mantendo-se dentro de padrões esperados para a espécie.

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Recentemente, a Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável de Florianópolis criou o Projeto CAPI – Capivaras na Ilha para definir estratégias de manejo responsável da espécie. 

“O Projeto CAPI Floripa reforça que não há, atualmente, indicativos técnicos que justifiquem medidas de manejo populacional, como realocação de populações, e controle populacional”, informou a Floram.

Segundo a Floram, o município já instalou 17 placas informativas em áreas com presença de capivaras, como o Manguezal do Itacorubi, o Parque Central de Jurerê, o Parque Ecológico do Córrego Grande e o Jardim Botânico. A fundação afirma que a sinalização deve ser ampliada conforme novos pontos forem identificados e que as orientações também são reforçadas por meio de ações educativas e materiais informativos.

Orientações à população

  • Não entrar na água quando houver capivaras ou outros animais silvestres nas proximidades;
  • Manter distância mínima de 10 metros das capivaras, evitando qualquer tentativa de aproximação;
  • Não tocar, alimentar ou tentar interagir com os animais;
  • Redobrar a atenção com cães, uma vez que a presença de pets pode ser interpretada como ameaça, aumentando o risco de conflitos;
  • Em caso de acidente com qualquer animal silvestre, incluindo arranhaduras ou mordeduras, procurar imediatamente atendimento médico.

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