Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Ecologia na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Larissa Dalpaz foi premiada como a melhor apresentação da América Latina, durante a Conferência sobre Biologia de Mamíferos Marinhos, realizada na Austrália dos dias 11 a 15 de novembro. O evento é o mais relevante da área.
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Essa é a segunda vez que a estudante é premiada nesta categoria. Em 2019, Larissa apresentou a dissertação de mestrado e recebeu o prêmio na edição do evento realizada em Barcelona, na Espanha.
O trabalho consiste em quatro capítulos sobre capturas acidentais. Essas apreensões acontecem quando animais, como golfinhos, baleias e tartarugas, ficam presas em redes de pesca. Segundo a doutoranda, esse é um problema “seríssimo” para esses animais, “que acabam ficando machucados e morrendo”. Capturas acidentais também são um problema para pescadores que, além de não querer que isso aconteça, podem perder seus equipamentos de pesca e terem o sustento prejudicado.
— É um desafio dentro da conservação, que envolve muitas dimensões e exige que a gente tenha um olhar bem amplo pra buscar soluções para os animais, para quem pesca, para quem consome pescados, para as pesquisas e também para as políticas públicas que são necessárias — explica a estudante.
O objetivo da tese é trazer um olhar de diferentes pessoas e animais envolvidos nesse problema. Cada capítulo é um artigo publicado em revistas científicas. O primeiro é sobre as pessoas que fazem pesquisa, para saber o que estão estudando e investigando sobre as capturas acidentais de mamíferos aquáticos (baleias, golfinhos, leões-marinhos, lontras) no Brasil. O segundo é voltado para quem pesca, como a pessoas são afetadas pelas capturas acidentais e como enxergam esse problema. O terceiro aborda a população de botos, que em Laguna são vítimas de capturas acidentais, e tenta entender como eles são prejudicados e como cada animal pode sofrer riscos diferentes nessas capturas. O quarto e último fala da sociedade como um todo e como isso se relaciona com o consumo de pescados e as possíveis soluções econômicas pra esse problema.
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Amor de infância
Larissa se interessou por biologia na infância. Teve a “sorte de viver de brincar muito na rua, de subir em árvore, de brincar na terra, ver e ouvir os pássaros e outros animais, despertando a curiosidade, o interesse e o fascínio” pelas coisas que nos cercam.
— A biologia vem daí como um caminho de continuar tendo esse olhar curioso pro mundo, de observar muito, de fazer perguntas — conta.
A estudante, primeiramente, prestou vestibular para uma engenharia que fosse próxima da área ambiental. Acabou optando pela sanitária e ambiental, em 2009, não por uma vontade intrínseca, mas pelos clássicos comentários que ouviu na época de que biologia não daria futuro. No primeiro semestre do curso, Larissa teve uma disciplina de ecologia e se apaixonou pela área.
— Uma pessoa muito especial na minha vida estava cursando biologia e eu pude acompanhar mais de perto como seria cursar. Isso me deu mais motivação e coragem pra largar a engenharia e ir para biologia. Eu lembro que, mesmo antes de mudar de curso, muita gente já achava que eu era bióloga, porque passava mais tempo lá do que na engenharia — relata.
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Em 2012, Larissa interrompeu a graduação e ingressou no curso de ciências biológicas, que concluiu em 2017. Desde então, a estudante fez mestrado em ecologia e está com o doutorado, na mesma área, em andamento.
O projeto é realizado em parceria entre o Laboratório de Mamíferos Aquáticos (Lamaq) e o Laboratório de Ecologia Humana e Etnobotânica (ECOHE) da UFSC, além do Projeto Ecológico de Longa Duração do Sistema Estuarino de Laguna e Adjacências (PELD-SELA).
A mestra e futura doutora diz que receber prêmios notórios como esse são uma “renovação total na motivação, dando ânimo para seguir”.
— A carreira de pesquisadora é um caminho bem desafiador e, especialmente sendo pesquisadora mulher, tem muitas inseguranças que batem no caminho. Quando recebemos um reconhecimento desses, é tipo um chacoalhão da vida dizendo: tu tá exatamente onde deveria estar, continua! E também, das coisas que aconteceram depois do prêmio, uma das que acho mais emocionantes é ouvir pessoas (especialmente meninas e mulheres) dizendo que isso foi uma inspiração/motivação para elas. Isso não tem preço. Estou representando o nome do Brasil, de uma mulher pesquisadora brasileira — diz.
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Para o futuro “imediato”, pós-tese, a estudante quer dar um breve respiro para retomar o fôlego e seguir com as pesquisas.
— Como diz um professor muito querido, essa trajetória é uma maratona e não uma corrida de 100 metros. Então, precisamos ajustar o passo pra ir devagarzinho e sempre — conclui.
Larissa recebeu uma proposta para continuar trabalhando com a pesquisa do doutorado fora do Brasil, para morar nos Estados Unidos e trabalhar no Sri Lanka. Ela também acrescenta que, apesar de representar, de alguma forma, as mulheres brasileiras na pesquisa, ainda há muita luta para que o espaço da ciência seja ocupado (e premiado) pela diversidade. Isso “enriquece a construção de ciência, uma ciência diversa e potente”.
Confira fotos da pesquisadora em campo e premiações
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