Dois biólogos de Jaraguá do Sul, Gilberto Ademar Duwe e Christian Raboch Lempek, ficaram famosos nas redes sociais por compartilharem diariamente a rotina do trabalho na Fundação Jaraguaense de Meio Ambiente (Fujama). Uma das principais atividades é o resgate de fauna, que inclui cobras venenosas, lagartos, corujas e o preferido dos seguidores: os gambás. Mas, quem são esses profissionais por trás dos vídeos? 

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Nascidos em Jaraguá do Sul, ambos já eram apaixonados pelos animais desde a infância. Giba, como Gilberto também é conhecido, conta que desde pequeno sonhava em ser veterinário. A vontade de fazer biologia, porém, surgiu logo depois, quando começou a assistir documentários sobre as diferentes espécies.

— Mais ou menos com uns 9 ou 10 anos, eu comecei a gostar muito de assistir documentários sobre animais na TV. Eu sempre tinha muita curiosidade para conhecer as espécies e nos documentários eu via o trabalho de biólogos e cientistas. E foi aí que eu vi que não era veterinária que eu queria seguir, era justamente a parte da ciência, pesquisa e biologia, de realmente estudar os animais. Então, desde pequeno, realmente sempre gostei dessa área — conta. Mais tarde, Giba se formou biólogo na Faculdade Jangada, em Jaraguá do Sul.

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Para Christian a paixão pela biologia nasceu ao longo da infância pela convivência com os animais, tanto os pets que teve, como cães e gatos, mas também porque os avós tinham uma fazenda com gansos e galinhas, por exemplo. A partir deste contato, o amor e a curiosidade sobre eles cresceu.

— Uma vez no aniversário ganhei uma galinha de presente, um periquito, tinha muitos bichos. Então desde pequeno eu tive muito contato com esses animais. Na minha geração fui muito privilegiado porque a gente brincava muito na rua, tive bastante contato com a natureza. Tinha um campinho na frente de casa e às vezes tinham os formigueiros, eu pegava o pote de conserva, botava as formigas ali dentro e ficava reparando como elas iam construir a casa delas. Desde pequeno fui fissurado por bicho — lembra.

Na hora de escolher a faculdade, Christian quase traçou outro destino ao ficar em dúvida entre Educação Física e Biologia. Por fim, a paixão pelos animais falou mais alto e ele foi cursar Biologia na Univille, de Joinville.

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Depois de formados, Giba e Christian conseguiram uma vaga na Fujama. Os dois jaraguaenses começaram na instituição como estagiários. Giba foi efetivado e passou a trabalhar com licenciamento ambiental, já Christian chegou a sair do órgão e voltou logo depois quando surgiu uma vaga para educação ambiental.

A atividade de resgate de fauna acontece paralela às demais atividades dos profissionais desde 2017, segundo Giba. 

— Acabou surgindo essa demanda no município e o presidente aqui da Fujama conversou comigo e o Christian na época e disse “viu, vocês topariam em estar fazendo para nós esse programa aqui na na cidade?”. E a gente aceitou porque gostamos muito dessa área. A Fujama comprou os equipamentos e a gente foi aos poucos buscando conhecimento sobre as espécies daqui, as que a gente resgatava. Aos poucos foi melhorando ainda mais esse trabalho — explica Giba.

Christian conta que foi na prática onde aprendeu muito do que sabe hoje. Conforme os animais iam sendo resgatados, o interesse por eles iam crescendo e a curiosidade sobre as espécies fez com que aprendesse e, agora, pudesse repassar os conhecimentos por meio da educação ambiental e os vídeos que publica.

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— Fui resgatando bicho e criando mais interesse ainda, querendo saber a espécie, onde que o bicho morava, o que ele comia, época de reprodução, alguma curiosidade sobre aquela espécie. E, para mim, era interessante e eu comecei a compartilhar com o pessoal e eu vi que o pessoal também ficou interessado no assunto. Que, às vezes, era uma informação que mudava o pensamento de uma pessoa — relata. Foi assim que, por exemplo, começou a compartilhar os vídeos sobre os resgates na internet. Hoje, Christian soma mais de um milhão de seguidores no Instagram. 

O biólogo conta que, lá em 2008, ele já costumava postar fotos que fazia de animais, paisagens e da natureza em geral no Facebook. Com a mudança do comportamento do algoritmo, mudou a produção de conteúdo para os vídeos em 2016, que chamam a atenção dos seguidores e costumam ser reproduzidos milhões de vezes.

Assim como Christian, Giba também produz vídeos para o Instagram e soma milhares de seguidores e visualizações. 

— A gente percebeu que talvez seria uma ferramenta muito boa e estar compartilhando com mais pessoas aqueles conhecimentos que a gente estava começando a adquirir com relação aos animais da nossa região. Até mesmo para mostrar e divulgar o trabalho que estava sendo desenvolvido — pontua Giba. Foi assim que ambos começaram a criar conteúdo. 

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Desafios da profissão

Ainda que ambos tenham se tornado “famosos” nas redes sociais por esse trabalho de resgate, os dois profissionais desejam que a profissão tenha um maior reconhecimento. 

Christian comenta que a desvalorização é o grande desafio da profissão, principalmente com o mercado de trabalho escasso, falta de vagas e muitos profissionais. O amigo profissional concorda e enfatiza que, muitas vezes, as opções de trabalho se resumem à sala de aula, como professor, ou pesquisador em alguma instituição de ensino, por exemplo, por meio de bolsas.

— Se tivesse realmente um pouco mais de incentivo nesse setor, no Brasil inteiro, com certeza iam ter muitos profissionais competentes que poderiam estar trabalhando com isso [resgate de fauna]. Ia abranger uma necessidade que a gente vê que cresce cada vez mais porque as pessoas estão se importando mais com as espécies que acabam, sem querer, entrando na casa ou no quintal, se ferindo em atropelamentos. Só que precisa ter realmente pessoas habilitadas para estar fazendo o manejo deles — comenta.

Giba ressalta que em muitas cidades os profissionais que acabam fazendo este trabalho são os bombeiros voluntários ou militares, o que é louvável, comenta, mas não é o foco de trabalho, já que se dividem em resgates de pessoas, atendimento a acidentes e incêndios.

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Apesar da falta de incentivo na profissão como um todo, ambos se sentem felizes ao poder realizar o trabalho de resgate de fauna, compartilhar a rotina nas redes sociais ou no contato com as crianças nas ações de educação ambiental.

— É muito gratificante você fazer esse trabalho aqui na região e isso ter crescido realmente a um nível nacional. O Brasil inteiro acaba conhecendo e a gente pode ver realmente que as pessoas se preocupam com os animais silvestres. E é muito bom de ver, principalmente, as crianças se interessando em conhecer, saber sobre eles, desmistificando muitas coisas que a gente aprende de forma errada sobre esses animais — comenta Giba.

Christian também lembra que todos os dias são uma surpresa no trabalho, o que também acaba sendo divertido. Enquanto há dias calmos, outros contam com até 16 chamados e acabam se tornando uma correria das boas

— Esse é um ponto positivo, tu resgatar um animal, levar no veterinário, passar pela habilitação e conseguir devolver para o habitat natural. Isso é muito gratificante, muito gratificante mesmo — finaliza.

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