No segundo dia da 21ª Feira do Livro, quem sobe ao palco é Raphael Montes, autor da novela “Beleza Fatal” e diversos livros bestsellers. Em entrevista ao NSC Total, o autor revelou detalhes sobre suas obras. Nesta sexta-feira (30), Raphael encontra os leitores às 19h, no palco do Expocentro Edmundo Doubrawa.
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Carioca, o autor de 34 anos vem pela primeira vez ao maior evento literário de Santa Catarina. Raphael Montes escreveu os bestsellers “Suicidas”, “Dias Perfeitos”, “Jantar secreto” e “Uma mulher no escuro”. Seus livros foram traduzidos para mais de 25 países e um deles foi adaptado como série para a Netflix: “Bom dia, Verônica” estreou em 2020 e teve a terceira e última temporada em 2024.
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Das páginas dos livros para as telas, o sucesso mais recente de Raphael é a novela “Beleza Fatal”, adaptada para um streaming. O escritor atuou como criador, roteirista-chefe e produtor-executivo. A repercussão nacional colocou o autor em evidência e um público ainda maior passou a acompanhar seu trabalho.
Confira abaixo a entrevista exclusiva com Raphael Montes na Feira do Livro de Joinville:
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Antes de começar a escrever, você já lia muito suspense policial e foi influenciado pelo gênero. Como você cria personagens tão complexos e interessantes em seus livros? Qual é o segredo para criar um suspense tão envolvente, na sua visão?
Se eu contar vou ter que te matar. (risos) Estou brincando. É que eu escrevo histórias de crime, né? Por isso que a resposta foi essa. Mas falando sério, eu acredito que uma característica que eu tenho como escritor é ser muito empático. Eu gosto muito de ouvir a opinião dos outros e como os outros pensam, por mais que as pessoas eventualmente pensem diferente de mim. Então, eu gosto nesse sentido de criar personagens que são complexos. Mesmo os personagens maus não são tão maus, eles têm um lado muito humano. E os personagens bons também, por sua vez, também não são o suprassumo da bondade, porque eu também não acredito no suprassumo da bondade. Eu acho que todos os personagens, assim como os seres humanos, somos meio cinzentos, somos potencialmente bons e potencialmente maus. Então me interessa sim essa ideia de criar personagens complexos. Quando você lê meus livros, você ora torce por um, ora torce por outro.
Recentemente você esteve à frente de um grande projeto, a novela Beleza Fatal. Como foi a experiência de trabalhar como criador, roteirista-chefe e produtor-executivo? O que você achou da repercussão?
“Beleza Fatal” foi uma alegria completa, porque o “Bom Dia, Verônica” foi muito legal de fazer, mas é baseado em um livro. O “Beleza Fatal” não, ele vem de uma de uma ideia original minha e de uma demanda da HBO Max de querer fazer uma novela para o streaming. Então, eu tive que pensar muito como é que seria essa novela de 40 capítulos feita para o streaming. Então, não teria que ter, por exemplo, reiteração, que é uma coisa que novela tem muito. (…) No caso do streaming, a pessoa que liga para assistir, ela está assistindo aquela ali e em tese, quando ela quer parar para ir no banheiro, ela só dá pause. Então, eu não preciso ficar me repetindo. Eu quis criar uma narrativa ágil que tivesse muito suspense, muita ação, muito mistério, mas também muito humor. É uma novela para cima. (…) Foi uma novela que eu realmente me dediquei muito. Eu sou um apaixonado por novelas, cresci vendo novelas. Antes de gostar de literatura, o que eu mais via e consumia de narrativa eram as novelas. Para mim foi a realização de um sonho fazer Beleza Fatal e, claro, quando o público abraçou a história e a gente viu a criação de memes, as personagens. As pessoas se fantasiaram no carnaval. (…) Falei: “Cara, isso é muito legal”, ou seja, quando uma novela chega na população desse jeito. Quando vira cultura pop, é muito interessante.
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Sabemos que o cinema segue as bases da literatura. Mas a escrita e construção de roteiros para o audiovisual são diferentes. Qual o maior desafio em se adaptar entre esses mundos?
Eu brinco que são duas disposições distintas que eu tenho que ter quando eu vou escrever um ou outro. Para escrever um livro eu sei que o que eu estou escrevendo ali é o produto final. Ou seja, eu estou escrevendo e o que eu colocar na página vai ser o que você em casa vai ler quando comprar meu livro. Seja “Uma mulher no escuro”, “Suicidas”, todos os meus livros, enfim. Quando eu faço um roteiro, ele é exatamente o que está no nome: roteiro. Ele é um guia para que dezenas, centenas de profissionais façam o seu trabalho. Então, através do roteiro, o figurinista trabalha, o diretor de arte trabalha, o diretor trabalha, o ator trabalha, as atrizes trabalham. Tudo vem daquele roteiro. O roteiro tem a função de ser um guia. Então, eu procuro muito ser claro, objetivo no que eu preciso no roteiro. Enquanto na literatura eu não tenho nada disso. A linguagem mesmo que eu uso é diferente.
Suas obras têm grande repercussão nas redes sociais. Qual é o desafio de levar a leitura até o público em um país que lê pouco quando comparado a outros?
Eu acredito que infelizmente a literatura ainda é vista por muita gente como algo para poucos, é algo da elite, é uma coisa difícil e chata. Isso se deve muito por causa das leituras adotadas já nas escolas. Eu acho que muitas vezes você apresenta livros para as crianças e faz a criança não gostar de ler. Porque imagina, ela pode jogar videogame, jogar bola e aí ela vai ter que ler um clássico com uma linguagem que não tem nada a ver com ela, sobre um assunto que não a interessa e ainda tem que fazer uma prova. Ou seja, realmente a gente faz de tudo para uma criança não gostar de ler, né? Então, eu acho que, infelizmente, somos responsáveis pela formação de não leitores, às vezes. E, claro, bons professores, bons bibliotecários, pessoas que amam literatura e falam de literatura de um jeito natural, mostrando o quão bom o livro é para todo mundo, conquistam leitores. Nesse sentido, as redes sociais foram muito importantes para minha carreira, porque você tem o BookTok, o BookTube, o BookGram, pessoas que têm perfis dedicados a livros e, nesse sentido, como eu brinco, espalha uma palavra: indicam o meu trabalho por aí e fazem que meus livros cheguem a mais e mais pessoas.
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O que você acha da Feira do Livro de Joinville e como você vê o papel desses eventos no incentivo à literatura?
Sem dúvida essencial, justamente para fazer isso que a gente falou de desmistificar o que é a literatura. Outro dia eu li no Twitter um comentário que achei hilário, a pessoa falando: “Gente, eu jurava que Raphael Montes era um senhor de 90 anos. Fui ver a foto, é um cara de 30”. (risos) Por que ele achava que era um senhor de 90 anos? Porque é isso, porque se é um autor que as pessoas conhecem, provavelmente é um senhor que é emburrado. Existem autores de 20, 30 anos escrevendo sobre assuntos de hoje em dia, ou seja, tentando as novas gerações, as novas linguagens e fazendo boa literatura.
Para finalizar, podemos ter um “spoiler” de um próximo projeto?
É claro… que não. (risos) Infelizmente eu não posso contar o que virá. Mas posso contar uma coisa que foi anunciada. Em breve, eu vou escrever um filme da Elize Matsunaga para a Netflix. Começamos a filmar muito em breve e na semana que vem tem uma leitura com o elenco, então estou bem animado.
Confira a programação da Feira do Livro para o fim de semana
Para o fim de semana, o evento promete diversas atividades ao longo do dia para todos os públicos. São promovidas atividades culturais, rodas de conversas e contação de histórias. Abaixo, saiba os destaques do fim de semana.
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Principais atrações no sábado (30):
- Encontro de Clubes de Livros com Paulo Ratz, às 9h, no palco;
- Encontro de Influencers literários com Paulo Ratz, Paola Aleksandra, Rodrigo De Lorenzi, Taynara Les e Susana, às 14h, no palco;
- Encontro com o autor Fabrício Carpinejar, às 19h, no palco.
Principais atrações no domingo (1°):
- Encontro para pintura de Bobbie Goods, às 10h;
- Conversa sobre o livro “O roubo em três atos” com Paola Aleksandra, às 11h, no palco;
- Palestra “Amor Exigente”, com Eliete Philippi, às 15h, no palco;
- Encontro com a autora Fernanda Alves Vieira, às 16h, no palco.
*Sob supervisão de Leandro Ferreira
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