Situado no Extremo Sul de Santa Catarina, o Rio Araranguá é famoso por trocar de cor e passar por toda a cidade, desembocando no mar. Além de ser um berço da pesca em água doce e um dos principais pontos turísticos naturais da região, o manancial tem uma relação direta com moradores antigos do município. Algumas pessoas relatam que na juventude costumavam atravessar o rio de um lado ao outro nadando. 

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O rio possui uma profundidade que pode variar entre 10 e 18 metros e conta com diversas particularidades. O local que reúne pescadores de toda a região é também um ponto de atividades náuticas e radicais. Além do Centro de Araranguá, o bairro Barranca também fica às margens do rio, tendo a cultura totalmente ligada ao manancial. 

A infância de moradores no local

Dona Maria Correa Lupin, de 82 anos, é uma dessas moradoras locais que passou a infância se banhando no local e se arriscando com as travessias a nado de um lado ao outro do rio. 

Em julho deste ano, após 65 anos, ela retornou às águas para realizar um sonho: atravessar o manancial mais uma vez. No entanto, dessa vez, a travessia foi com a ajuda de uma canoa. Com o auxílio de bombeiros, ela remou e aproveitou o momento. 

— Eu tinha 17 anos e passava por ali para ir ao banco. Eu não sei como meu pai deixava, mas eu atravessava. Com 80 anos fazer o que a gente fez com 17 é muito legal. Uma felicidade — conta dona Maria. 

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Rio que troca de cor

Considerando a sua nascente, no Rio da Pedra, no Parque Nacional da Serra Geral no Rio Grande do Sul, e a sua foz, no Balneário Morro dos Conventos, em Araranguá, são aproximadamente 110 quilômetros de extensão, o rio ainda margeia dunas e a praia, até o encontro com o mar, formando a barra. Como o Rio Araranguá atravessa toda a cidade, é necessário o uso de balsa para passar de um lado ao outro do município.

O manancial possui cinco ou mais cores, e elas podem variar em tons de azul e verde. Essa mudança se dá devido a diversos fatores naturais. No entanto, Carlyle Torres Bezerra, engenheiro de minas e professor do curso de graduação em Engenharia Ambiental, na Universidade do Extremo-Sul Catarinense (Unesc), explica que essas alterações da coloração também são causadas por ações humanas, como a mineração de carvão ou efluentes da indústria química e têxtil.

— Além dos fatores naturais, como a composição química e mineralógica da água e da geologia da região, além da decomposição da matéria orgânica, outros fatores influenciam a sua coloração. Entre eles, a presença de metais pesados, sulfatos, variação do pH, falta de saneamento e o uso intenso de agrotóxicos, além da presença de microrganismos. A cor sob determinadas condições pode indicar o crescimento de fitoplâncton ou algas devido ao aumento de nutrientes, processo conhecido como eutrofização — explica o professor.

O engenheiro ainda conta que variações de cores podem ocorrer em outros rios, que sofrem degradações por conta da mineração de carvão e outras atividades no seu entorno, tais como nas bacias hidrográficas dos rios Urussanga e Tubarão, além do complexo lagunar.

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— É importante mencionar que esta degradação pela mineração se deve em grande parte aos passivos ambientais da mineração de carvão que ainda não foram recuperados, e os seus efeitos sobre os recursos hídricos da região. Essas questões não deveriam ser tratadas de forma simplista, sem buscar antes o conhecimento técnico e científico. Vários fatores contribuíram para isto, e exige muitas ações.

Veja fotos do rio de cinco cores

Tradição da pesca

O Rio Araranguá é o principal ponto turístico da cidade, mas, além disso, é um local de atividades econômicas. O manancial reúne pescadores de toda a região Sul do Estado, e até mesmo do Rio Grande do Sul. Rodrigo Correia, morador de Morro da Fumaça, é eletricista de caminhões e conta que tem as suas pescas durante as noites de sexta-feira na barra do rio como uma renda extra.

— Eu venho para o Rio Araranguá com o meu barco, geralmente com um amigo meu. Nós pescamos robalos, tainha, anchova, corvina, savelha, linguado e outras espécies. Nós pescamos de tarrafa, mas vemos muitos pescadores com vara e em caiaques. Eu levo para casa e a minha esposa faz filés para vendermos na cidade — conta Rodrigo.

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O rio ainda é ponto de motos aquáticas, caiaques e outras pequenas embarcações. Pessoas fazem passeios e roteiros turísticos que passam por toda a extensão do manancial.

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