Desde o último dia 19, a água do Rio do Brás tem desembocado no mar em Canasvieiras e afetado uma das principais regiões de Florianópolis. Moradores e turistas reclamam do mau cheiro e da sujeira, enquanto comerciantes falam que o movimento reduziu desde que a barreira que continha as águas do rio rompeu.

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O biólogo e oceanógrafo Paulo Horta alerta, ainda, que “não é seguro do ponto de vista sanitário” utilizar a região para “contato primário [com a água], nadar ou brincar”. Segundo ele, há risco de gastroenterites, doenças de pele, micoses, leptospirose e até hepatite A.

A estrutura que separava o rio da praia foi construída em 2018 pela prefeitura de Florianópolis por uma necessidade. Desde então, é comum que com alto volume de chuva, a barreira se rompa – o que aconteceu pela última vez em 19 de dezembro do último ano. Para tentar resolver a situação, a prefeitura iniciou a limpeza da rede de drenagem que escoa a água das ruas no rio e a fiscalização da rede de esgoto perto do local.

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No entanto, a cor marrom, o cheiro fétido e a sujeira seguem sendo os companheiros dos turistas. Uma pequena “piscina” marrom se formou onde era faixa de areia. Isso faz com que as pessoas precisem atravessar o rio para se deslocar e quem deseja passar um tempo no local precisa se espremer nos espaços que restaram de areia.

Moradores e turistas reclamam do mau cheiro do rio (Foto: Tiago Ghizoni / DC)
Rompimento do rio criou uma espécie de lago na areia, separando os turistas dos bares da região (Foto: Tiago Ghizoni / DC)
É preciso passar pela parte do rio que rompeu para chegar à praia (Foto: Tiago Ghizoni / DC)
Crianças têm brincado e nadado no rio que rompeu (Foto: Tiago Ghizoni / DC)

Belen Echegoyen, 39 anos, saiu da cidade de Mar del Prata, na Argentina, para conhecer o litoral catarinense, mas se surpreendeu com o visual que encontrou.

— Se vê bastante sujo, revolto, traz bastante sujeira e a cor é escura. Às vezes se sente o cheiro — afirma a argentina.

Perto dela, apesar do péssimo aspecto da água, algumas crianças se banhavam no local.

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Outra família, que veio de Feliz, no Rio Grande do Sul, conseguiu um lugar para sentar na beira de onde o rio desemboca no mar.

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— Gostei da praia, muito boa. O rio é uma coisa que não achei legal. Como daquele lado [da praia] é bem movimentado, a gente opta por este lado mas aí tem que passar por esse rio que é marrom, é um aspecto não muito bom — conta Tania Henz, 42 anos, que está pela primeira vez em Florianópolis.

Para além de quem tenta aproveitar alguns dias de descanso, quem trabalha na região sofre graves impactos da situação no rio do Brás. Alexandre Deivisson, 35 anos, veio de Belo Horizonte para trabalhar na temporada em um bar ao lado do rio e conta que o problema afetas o movimento no local.

— Está prejudicando muito o movimento, diminuiu 70%. Levou toda a nossa faixa de trabalho, agora tem que ficar em volta da podridão — lamenta o garçom.

— Difícil atravessar o dia inteiro nessa água com esgoto que pode dar várias doenças para gente, como frieira e coceira. As famílias para atravessarem aqui no nosso comércio também tão sentindo nojo de pisar na água. Está complicado. Sem contar o mau cheiro que sobe em partes do dia — desabafa Alexandre.

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Para quem vive há mais tempo no bairro, infelizmente, esse caso já é bem conhecido. Michel da Cruz, 31 anos, mora na rua à margem do Rio do Brás, há três anos e conta que já viveu outras situações parecidas, mas que, desta vez, parece estar pior. Ele ainda comenta que o “estrago é além de visual porque afeta a flora” e também a “qualidade de vida”.

— Você acorda de manhã cedo, abre a tua porta e se depara com um cheiro terrível. Há um tempo atrás a gente tinha uma flora bem bacana, tinha animais e acabou se indo, não tem peixe, não tem qualidade de vida. Você nunca sabe se vai transbordar numa rua e o esgoto vai invadir a tua casa ou não — desabafa o morador.

O que dizem os órgãos oficiais

A Prefeitura de Florianópolis atribui a poluição do rio às estações de bombeamento de esgoto da Casan, responsáveis por conduzirem os efluentes da região ao local adequado para tratamento.

Procurados pela reportagem, a equipe de fiscalização inspeção ambiental municipal afirmou que segue “percorrendo imóveis da região para localizar ligações irregulares e continua a limpeza dos canais artificiais do Papaquara”.

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A prefeitura também afirmou que não há previsão para reconstrução da barreira que impede o rio de desembocar no mar.

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A Casan chegou a ser multada com R$ 1,5 milhão pela prefeitura em dezembro. O motivo seria que a Estação Elevatória de Esgoto (EEE), localizada ao final da rua Madre Maria Milac, junto ao leito do rio da Brás, estaria inoperante, causando o lançamento de esgoto bruto na água.

A empresa recorreu a punição e negou a informação: “Não havia prova, registro ou qualquer coisa que comprovasse a afirmação”. O órgão também afirmou que as ações de infraestrutura do rio são de responsabilidade da gestão municipal, além de reafirmar que o sistema de esgoto de Canasvieiras tem 96% de cobertura.

Como pode ser resolvido

O biólogo e oceanógrafo Paulo Horta comenta que há uma proposta em discussão avançada para conseguir o financiamento europeu. Esse projeto seria para aperfeiçoar e complementar o tratamento da rede de esgoto, removendo os nutrientes dissolvidos e usando algas.

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— Essa alternativa é super eficiente para remover nutrientes dissolvidos e produz o O2 que o rio precisa. Precisamos também restaurar a vegetação do estuário (faixa de água entre o rio e o mar) para que ele possa a exercer plenamente suas funções ambientais — explica Horta.

Para que a ideia saia do papel é necessário tanto recursos financeiros, quanto da criação de um comitê emergencial, que reuniria a sociedade civil, técnicos, pesquisadores universitários e também o poder público, segundo o especialista.

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