Em um panorama onde a Ciência e a Medicina avançam juntos, é paradoxal observar a hesitação em abraçar uma das mais eficazes ferramentas de prevenção de doenças infecciosas: a vacinação. Este fenômeno não é exclusivo. Ele se manifesta em diversas doenças infecciosas, mas aqui se faz necessário citar duas principais da atualidade, e que preocupam muito: a luta contra a dengue e a remanescente Covid-19, que refletem os desafios e consequências na saúde dos brasileiros.
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A dengue, uma doença transmitida pela picada do mosquito do gênero Aedes aegypti, tem sido um desafio e tanto, que por décadas exige o máximo de esforço no controle vetorial. Em pleno ano de 2024 a vacinação surge como uma estratégia complementar essencial nesta prevenção, e gratuita disponibilizada pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
Contudo, a cobertura vacinal contra a dengue permanece notavelmente baixa em Santa Catarina. De acordo com a Dive-SC, a cobertura vacinal na região Nordeste do estado é de 40,86%, na Grande Florianópolis diminui para 25,04 %, na região Oeste do Estado é de 18,76%, e o pior índice de cobertura vacinal está o Médio Vale do Itajaí com apenas 15,07%. Isso se deve a uma combinação de fatores que, infelizmente, herdamos da pandemia e o principal é a hesitação vacinal, alimentada por desinformação e medo de efeitos adversos.
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A baixa cobertura vacinal em ambas as frentes têm consequências diretas na saúde pública. No caso da dengue, resulta no pé que estamos hoje: uma epidemia sem precedentes em Santa Catarina e no Brasil como um todo, na sobrecarga dos sistemas de saúde, aumento de demanda dos profissionais de saúde e uma contínua luta contra o vetor, ainda sem resultados significativos.
Confrontar a baixa cobertura vacinal exige uma abordagem com várias frentes. Primeiramente, é necessário investir em educação pública, afinal de contas como vamos eliminar os criadouros de mosquito se o exemplo que estamos vendo, de nada nos ajuda?
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É neste momento, que entra a educação
Afinal de contas, educação vem de casa. Por segundo, é necessário desmistificar mitos sobre vacinas: destacando principalmente a segurança, e eficácia, um assunto não questionado nos bons tempos pré-pandemia. Aliás não me recordo de meus pacientes me questionarem onde eram fabricadas as vacinas, ou em quanto tempo elas foram estudadas. Percebo que a confiança na Ciência já não é mais a mesma, e quem paga por isso é toda comunidade.
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Precisamos lembrar que a vacina da dengue é recomendada na faixa etária de quatro até 60 anos, e que o Ministério da Saúde está priorizando crianças de 10 a 14 anos, justamente naqueles que não podem responder por si, e sim pelo discernimento dos pais e responsáveis para os levarem à vacinação.
O que é difícil de compreender é como esta hesitação vacinal chegou no nível que aqui estamos. O combate à dengue vai além da Medicina. É uma questão de educação, moralidade e confiança na ciência. A vacinação é uma das ferramentas mais poderosas de que dispomos para proteger não apenas a nós mesmos, mas também os nossos.
Ignorar isso é ser conivente com mortes e com um cenário cada vez mais descontrolado das doenças infecciosas que são, sim, facilmente evitadas com vacinação.
Por Sabrina Sabino, médica infectologista, formada em Medicina pela PUCRS, mestre em Ciências Médicas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e professora de Doenças Infecciosas na Universidade Regional de Blumenau.
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