Você já deve ter passado em algum momento de sua vida por um quadro viral respiratório: tosse, coriza, febre, mal-estar. O quadro deve ter durado em torno de 5 a 7 dias, e na semana seguinte, você estava recuperado. No entanto, em algumas vezes, não é a realidade de grupos vulneráveis como crianças e idosos, que podem evoluir para pneumonia, exacerbação de doenças pulmonares crônicas, hospitalização e morte.

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Com um mês de idade Olivia — minha filha — iniciou na manhã de um domingo quente e ensolarado de Carnaval com tosse seca. Ao longo do dia, passou a não querer mais mamar e, no final da tarde, iniciou com febre alta e com dificuldade de respirar. Como médica, entendi o que estava acontecendo, mas não imaginava a gravidade. Percebi, à noite, que ela estava pior, levei ao hospital e o plantonista me disse: ‘”Você sabe que ela precisa internar, e compreende a gravidade disso, né?”. Jamais esqueci desta indagação.

Ela teve uma bronquiolite grave pelo vírus sincicial respiratório (VSR).

São três os vírus respiratórios que são os responsáveis pelos maiores números de síndrome respiratória aguda grave (SRAG) no Brasil e em Santa Catarina, e o vírus sincicial respiratório (VSR) é um deles. Para você entender a magnitude do impacto em saúde púbica, de acordo com dados da Sivep-Gripe, atualizado no último dia 3 de agosto, o VSR é o maior responsável por casos de SRAG em Santa Catarina com 1.846 casos e 34 óbitos. Comparando com influenza, foram 1.079 casos com 72 óbitos. E a Covid-19, foram 882 casos com 101 óbitos.

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O vírus sincicial respiratório (VSR) é um vírus RNA respiratório, responsável por causar bronquiolite — quadro caracterizado pela inflamação dos bronquíolos, pequenas ramificações dos brônquios que transportam o oxigênio até o pulmão. Além disso, a infecção pode descompensar doenças de base, principalmente dos idosos como: problemas cardíacos, pulmonares, diabetes, dentre outros.

Apesar de que quase todas as crianças são infectadas com VSR pelo menos uma vez até os dois anos de idade, novos quadros infecciosos podem ocorrer ao longo da vida adulta, já que a infecção anterior não proporciona imunidade completa, mas em geral são menos graves. Em idosos, devido à imunossenescência, que nada mais é do que o processo de deterioração do sistema imunológico decorrente do envelhecimento natural do organismo, a gravidade da infecção é, assim como nas crianças, grave.

Recentemente, tivemos um avanço na área de prevenção: a vacina Arexvy da farmacêutica britânica GlaxoSmithKline (GSK) e a Abrysvo da Pfizer foram aprovadas como uma nova ferramenta na luta contra o VSR, oferecendo proteção específica para alguns grupos de risco. As duas vacinas possuem tecnologias semelhantes com uma vacina proteica, recombinante adjuvantadas, e ambas, já estão sendo comercializadas nas clínicas particulares de vacinação.

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A Arexvy é uma vacina recombinante, adjuvada e inativada. O antígeno da vacina é derivado da proteína de fusão do vírus sincicial respiratório, a proteína F. Nos estudos a Arexvy reduziu significativamente o risco de desenvolver doença respiratória grave associada ao vírus sincicial respiratório (VSR) em 82,6%. A vacinação é recomendada para idosos a partir de 60 anos e sem limite de idade.

Já o imunizante Abrysvo, desenvolvido pela Pfizer, é indicado para gestantes de 24 a 36 semanas de gestação fazendo então a imunização passiva da mãe para o bebê, ou seja, quando a mãe recebe a vacina ela passa os anticorpos de proteção para seu bebê, evitando assim a bronquiolite por vírus sincicial respiratório nas crianças. O imunizante é formulado para induzir uma resposta imunológica contra o VSR. Ela contém antígenos específicos que estimulam o sistema imunológico a produzir anticorpos protetores, sem causar a doença. A vacina também é recomendada para idosos acima de 60 anos. A Pfizer informou que o pedido de incorporação ao Programa Nacional de Imunizações (PNI) para aplicação nas gestantes está em análise pelo Ministério da Saúde.

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O VSR é transmitido pelas secreções do nariz ou da boca da pessoa infectada, por contato direto ou por gotículas. A transmissão começa dois dias antes de aparecerem os sintomas e só termina quando a infecção está completamente controlada. O período de maior contágio é nos primeiros dias da infecção. Então, se naquele ano de 2020/2021 eu tivesse a oportunidade de me vacinar contra o VSR, eu teria evitado uma bronquiolite grave pelo vírus sincicial respiratório na minha filha.

Meu conselho?

Se puder, vacinem-se.

Por Sabrina Sabino, médica infectologista, formada em Medicina pela PUCRS, mestre em Ciências Médicas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e professora de Doenças Infecciosas na Universidade Regional de Blumenau.

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