Desde a primeira morte por coronavírus registrada em Santa Catarina, em 25 de março, passaram-se 57 dias até que o Estado atingisse a marca de 100 perdas. Foram necessários apenas 22 dias a mais para o número dobrar e 123 dias desde o primeiro óbito para se chegar a milésima vida perdida. Depois disso, menos de 30 dias se passaram, no período em que se atravessa o auge da doença, para o Estado se aproximar da marca de 2 mil mortes pela doença.
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Entre as principais razões apontadas por especialistas para explicar o que levou ao aumento acelerado de casos e óbitos no Estado estão a alta taxa de contágio, o baixo índice de isolamento social e a falta de clareza na condução da pandemia entre Estado e municípios. Segundo dados do In Loco, desde 11 de maio Santa Catarina teve dificuldades em manter uma taxa de isolamento acima de 40% nos dias úteis. O ideal seria ter, no mínimo, 50%.
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O Estado também chegou a ter um dos maiores índices de contágio do país entre o final de julho e início de agosto. Em apenas um dia, em 20 de julho, 3.834 pessoas relataram sentir os primeiros sintomas do coronavírus. Desde então, pelo menos 44 mil pessoas se infectaram. Os resultados foram percebidos semanas depois, com o agravamento de alguns casos, levando à superlotação de UTIs e à morte entre os pacientes com quadros mais severos.
Essa velocidade constante na multiplicação das vítimas do coronavírus é atribuída à característica de propagação exponencial da doença pelo ex-diretor do Departamento de Imunizações e Doenças Transmissíveis do Ministério da Saúde, Julio Henrique Croda. Também professor da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul e pesquisador da Fundação Osvaldo Cruz (Fiocruz), Croda avalia os resultados de agora como consequência do alto índice de contágio registrado nos últimos dois meses – a taxa de letalidade se manteve pouco abaixo de 2% desde junho, mas o aumento de infectados, proporcionalmente,pode representar mais mortes.
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Chefe do Departamento de Saúde Pública da UFSC, Fabrício Menegon, atribui a aceleração da doença também ao que considera ausência de um plano estratégico de enfrentamento à pandemia, que leve em conta a necessidade urgente de promover distanciamento social. Quanto maior o número de pessoas infectadas, sejam elas sintomáticas ou assintomáticas, maior a velocidade de transmissão e, consequentemente, o de óbitos, exemplifica o professor do mesmo departamento, Lúcio Botelho.
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– É um conjunto de fatores que nos trouxe ao que vemos hoje. Esse conjunto passa pelo não isolamento social. E a maioria esmagadora de pacientes assintomáticos são os jovens, que mais se expõem e que transmitem para pessoas sem as mesmas condições que as deles. Essas pessoas são as que demandam de atendimento especializado e são as que vão saturar os atendimentos e aumentar o número (de óbitos) – explica Botelho.
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Taxas de isolamento precisam ser ampliadas
Os especialistas são unânimes ao apontar que ampliar o distanciamento e isolamento social ainda é essencial para pôr um freio na taxa de multiplicação de casos e mortes. Para Menegon, um decreto mais rígido, como um lockdown, é necessário novamente, mas não pode existir sem um plano de contingência bem definido.
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– É importante porque antevê as ações colocadas em práticas. Desde a data, o tempo de duração para que os empresários se programem e não vivam com a angústia de não saber o que está por vir, um plano para os mais vulneráveis. Hoje a gente sabe o histórico do vírus, o tempo de incubação. Agora já se tem um acumulado de conhecimento que nos permite dizer o tempo necessário para controle – sugere.
Veja abaixo, em cinza, a linha que mostra o índice de isolamento social em Santa Catarina. Desde maio, a taxa tem ficado abaixo de 40%, enquanto o total de novos casos subiu (em verde).
Mas o secretário de Saúde de SC, André Motta Ribeiro, afirma que depois de cinco meses de imposições e flexibilizações não é viável aumentar as proibições como ocorreu no início da pandemia, com o decreto de emergência do governo estadual:
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– A gente já restringiu atividades e tornamos público a necessidade do enfrentamento, do distanciamento social. A população ou não entendeu a gravidade ou não aguenta mais essa situação. Quando impomos novas restrições, criamos outros problemas de clandestinidade de atividades. E não faz mais sentido colocarmos a polícia dentro da casa das pessoas, como já ocorreu – diz.
Ribeiro avalia que no início da pandemia o fechamento da maioria dos serviços serviu para prorrogar a aceleração do vírus a tempo de preparar o sistema de saúde. No entanto, neste momento, se atua para evitar uma segunda onda ainda mais agressiva do vírus, com outras estratégias.
– É um momento difícil em SC. Mas vamos passar por esse momento uma vez só, considerando a efetividade da vacina que deve chegar nos próximos meses e com essa corresponsabilização de gestão de crise de Estado e municípios, para que os regramentos das atividades sejam suficientes – pontua Ribeiro.
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Para o secretário, o Estado ainda é exemplo no combate à pandemia, porque nenhum catarinense morreu por complicações do coronavírus sem acesso ao sistema de saúde:
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– Aumentamos os leitos para covid-19 adulto em 144%. O que está ativo é suficiente para o atendimento da população, neste momento, mesmo com a concomitância das doenças. O que está estruturado é robusto. As pessoas, mesmo graves, estão recebendo altas. Nenhum outro Estado fez isso – defende.
Indicadores sinalizam estabilidade, mas cautela e distanciamento social são importantes
Até agora, o dia que registrou mais mortes em 24 horas foi 1º de agosto. Foram 54 vidas perdidas (veja detalhes no gráfico abaixo).
A média móvel de novos casos divulgados pelo Estado atingiu o ápice em 2 de agosto e começou a cair (veja mais abaixo e acompanhe a média móvel da sua região).
A taxa de contágio do coronavírus também aponta para queda. Esse índice chegou a 1,32 em julho, um dos maiores índices no país, quando cada 100 doentes eram capazes de infectar outras 132 pessoas. Nesta semana, o Estado apresentou uma taxa abaixo de 1, o que indica desaceleração na propagação do vírus.
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Houve também um fôlego na ocupação de leitos de terapia intensiva nas redes pública e privada.
Na avaliação de Croda, pesquisador da Fiocruz, os dados atuais apontam para uma estabilidade da pandemia em Santa Catarina. E que provavelmente levará mais tempo até alcançar 3 mil mortes. No entanto, ainda não quer dizer que a situação melhorou, mas que a velocidade de subida da curva pode ter reduzido. Ele pontua que é necessário observar essa tendência ao longo de um mês para ter certeza se é uma queda consistente.
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– Ainda não tem tendência clara de queda para Santa Catarina. Pela intensidade da circulação do vírus, ainda não existe a luz no fim do túnel de que as coisas vão melhorar nas próximas duas semanas. Em termos de casos, Santa Catarina está estável. Em óbitos, parece que iniciou uma queda. É muito pouco tempo para fazer uma projeção e existem muitas pessoas ainda suscetíveis ao vírus – ressalta Croda.
O secretário de Estado da Saúde, no entanto, é mais cauteloso. Ele afirma que as próximas semanas ainda serão de extrema atenção. Cálculos estatísticos da Secretaria da Saúde estimam que somente quando 20% da população do Estado testar positivo para coronavírus a transmissão realmente começará a cair.
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