Mesmo com o avanço da pandemia da Covid-19, Santa Catarina teve o excesso de mortes em 2020 abaixo da média nacional. É o que aponta um estudo feito por pesquisadores da Fiocruz divulgado nesta semana. A maior taxa no Estado esteve relacionado as mortes mal definidas.
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O excesso leva em conta a quantidade de óbitos que ficaram a cima do estimado para o período — o número teve como base a tendência linear de mortes que ocorreram entre 2015 e 2019.
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O estudo teve como objetivo estimar o excesso de mortalidade no país durante a pandemia, em 2020. Além disso, a pesquisa também apontou uma quantidade abaixo do esperado em alguns grupos de causas de morte.
Os dados foram coletados pelos pesquisadores em maio deste ano, quando o Ministério da Saúde disponibilizou a versão final dos microdados do Sistema de Informação de Mortalidade (SIM). Ao todo, o Brasil registrou 1.556.824 mortes — para os pesquisadores, houve um excesso de aproximadamente 190 mil óbitos no país, ou uma taxa de razão de mortalidade padronizada (SMR) de 1,19.
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No período, Santa Catarina teve 46.374 mortes, segundo dados do SIM – o excesso, conforme o estudo, foi de aproximadamente 1,15, dentro da taxa de SMR, bem abaixo da média nacional.
A diferença entre a média nacional e os Estados também foi vista em outras unidades da federação. Conforme a Fiocruz, o Norte foi o que concentrou a maior razão de mortalidade padronizada, sendo que o maior excesso foi registrado em Roraima. Em contrapartida, o Sul e o Sudeste apresentaram as menores taxas, com a menor registrada no Rio Grande do Sul.
Para os especialistas, os dados mostram qua a pandemia impactou não só nas mortes em decorrência a Covid-19, mas também nas enfermidades em geral.
— Algumas causas de morte têm relação com a desassistência provocada pela reorganização da rede assistencial, outras com a mudança nos padrões de interação social na população. Esse diagnóstico é importante porque indica a necessidade de os sistemas locais de saúde serem mais resilientes, para que possam sustentar serviços essenciais de saúde durante crises, incluindo sistemas de informação de saúde mais consistentes — destaca o pesquisador da Fiocruz Raphael Guimarães.
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Em SC, causas mal definidas concentram maior taxa
O estudo levou em conta a taxa de mortalidade para os seguintes grupos: doenças infecciosas e parasitárias, neoplasias, causas endócrinas, transtornos mentais, doenças cardiovasculares, doenças do aparelho respiratório, doenças do trata geniturinário, mortes na gravidez, parto e puerpério, causas externas e causas mal definidas.
Entre os fatores, o que apresentou a maior taxa em Santa Catarina foi a morte com causas mal definidas, com 5,02. Já as demais tiveram os seguintes resultados:
- Doenças infecciosas e parasitárias: 4,50
- Neoplasias: 1,06
- Endócrinas: 1,09
- Transtornos mentais: 0,92
- Doença cardiovascular: 1,11
- Doenças do aparelho respiratório: 0,77
- Doença do trato genitourinário: 1,09
- Gravidez, parto e puerpério: 1,19
- Causas externas: 1,00
- Mal definidas: 5,02
Sobre as causas mal definidas, Guimarães destaca:
— Isso tem relação direta com a dificuldade na oportunidade de preenchimento das declarações de óbito e é possível que boa parte destas tenha relação direta com a Covid-19.
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Em nível nacional, a pesquisa mostrou que alguns grupos apresentaram número de óbitos abaixo do esperado. É o caso, por exemplo, das doenças do aparelho respiratório que ficaram 10% abaixo do estimado, ou as mortes por causas externas, que tiveram 4%. Esta última, segundo os pesquisadores, teria relação com a adoção de medidas de distanciamento físico.
O estudo salienta, ainda, que as quedas na mobilidade também impactaram nos acidentes de trânsito, já que em casa, as pessoas correm menos riscos para esses eventos. Porém, os pesquisadores dizem que as diminuições de causas violentas são menos óbvias, já que há a tendência de um aumento em médio e longo prazo, especialemnte os suícidios e por violência doméstica.
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