Foi por meio de uma conversa honesta entre um menino de seis anos e a mãe que supostos abusos de um professor de uma creche municipal de Florianópolis contra os alunos vieram à tona. No dia 5 de junho, o garoto contou que havia sido tocado de forma inapropriada durante a hora do soninho, quando outra professora da turma cumpria o horário de almoço.

Continua depois da publicidade

O caso gerou uma onda de denúncias que levou à prisão em flagrante do homem de 34 anos por pornografia infantil, na terça-feira (1º). Ele confessou os abusos e deve ser indiciado por estupro de vulnerável, conforme o delegado Rodrigo Maciel, titular da Delegacia de Proteção à Criança ao Adolescente, à Mulher e ao Idoso (DPCAMI). A prisão preventiva foi decretada pela Justiça na quarta-feira (2).

— Eu estava lutando pela vida do meu filho. Como também sou professora, é o meu dever proteger as outras crianças também — conta a mãe que fez a primeira denúncia, que trabalha em outra escola infantil.

Logo após ouvir o relato do filho, ela contatou a escola e registrou um boletim de ocorrência. No dia 6 de junho, o professor foi afastado do trabalho. Cinco dias depois, ela enviou um áudio no grupo de familiares da turma contando o que havia acontecido e pedindo para que eles também ouvissem seus filhos.

“Se você deixar eu posso tocar”

Seis meninos relataram os abusos que deram origem aos boletins de ocorrência. A maioria contou que o crime ocorria em um momento de vulnerabilidade, quando a sala estava escura e eles estavam se preparando para dormir. No período entre o meio-dia e 12h30min, o homem ficava sozinho com as vítimas enquanto a outra professora almoçava, conforme os familiares.

Continua depois da publicidade

Os abusos aconteciam sob pretexto de brincadeiras e carinhos, de acordo com o relato das crianças às famílias. Como os alunos eram frequentemente aconselhados a não deixar ninguém tocar neles sem permissão, inclusive durante as aulas, o professor desenvolveu uma estratégia para abordá-los.

— Ele dizia: “Eu não posso tocar se você não deixar, mas se você deixar eu posso tocar”. Falava que era um carinho para eles dormirem — diz a mãe.

Outra mãe conta que o filho, um menino autista de cinco anos, relatou que o professor inventava brincadeiras para tocar as crianças de forma inapropriada. Na brincadeira “de caverna”, por exemplo, ele “escondia” a mão embaixo da cueca dos alunos.

— Ele levava muito no lúdico — diz a mãe.

O filho dela era aluno do professor há cerca de quatro anos, desde que ele começou a frequentar a escolinha. Ela suspeita que os abusos aconteçam desde essa época.

Continua depois da publicidade

— A gente confiava muito nele. Porque as crianças adoravam ele, porque ele era atencioso, fazia desenhos… Elas não entendem que foi um crime — diz.

Confissão

O professor foi preso na terça-feira. No celular dele, a polícia encontrou cerca de 5 mil imagens de pornografia infantil, incluindo vídeos que produziu com os seis alunos da escola que abriram boletins de ocorrência. O homem confessou que aproveitava o momento em que levava as crianças até o banheiro para tirar as fotos.

— A gente inclusive tem que identificar duas crianças que não estão nos boletins de ocorrência e são da mesma escola — diz o delegado Rodrigo Maciel.

O delegado disse que ainda não é possível determinar quando começaram os abusos. Não há outros boletins de ocorrência contra o professor.

Continua depois da publicidade

— Ele trabalha no município já tem 15 anos. Mas nunca levantou suspeita — afirma.

Mais dois dispositivos de armazenamento devem ser analisados pela polícia. Na quarta-feira (2), ele teve a prisão preventiva decretada pelo Tribunal de Justiça de Santa Catarina (TJSC) e seguirá preso enquanto aguarda o julgamento do caso. O NSC Total tenta localizar a defesa do professor.

Enquanto isso, as mães buscam reconstruir as vidas de suas famílias.

— Agora que minha luta terminou, a luta é pelo psicológico do meu filho. Ele não tem o entendimento ainda, mas eu sei que se eu não tratar ele agora, isso vai prejudicar ele no futuro — diz a mãe que denunciou os abusos pela primeira vez.

Prefeito se manifesta sobre o caso

O prefeito Topázio Neto (PSD) se pronunciou sobre o caso em um vídeo publicado nas redes sociais nesta terça-feira. Ele afirmou que o professor foi afastado das atividades “na primeira denúncia” e será demitido. Ainda, disse que cada sala tem pelo menos dois professores e que a situação será apurada.

O que diz a secretaria de educação

“A Secretaria Municipal de Educação (SME) informa que, ao receber denúncia no dia 5 de junho de 2025, determinou, de imediato, o afastamento do servidor. No dia 6 de junho foi instaurado processo administrativo disciplinar para apuração dos fatos, com encaminhamento à Controladoria-Geral do Município, seguindo com celeridade todos os trâmites legais e administrativos.

Continua depois da publicidade

Com o objetivo de assegurar a normalidade das atividades escolares e a proteção dos estudantes, a Secretaria promoveu a reposição da vaga do profissional afastado, evitando prejuízos pedagógicos. Desde o primeiro momento, está sendo realizado ainda acolhimento contínuo das famílias envolvidas e de toda a comunidade escolar, por meio de equipes multidisciplinares e com o apoio de escuta especializada, garantindo atenção, apoio psicológico e suporte social adequados à gravidade da situação.

A Secretaria de Educação permanece em colaboração permanente com as autoridades policiais, contribuindo com as investigações e fornecendo todas as informações necessárias. A SME reitera que a proteção integral de crianças e adolescentes é um pilar inegociável da política educacional do município. A rede municipal de ensino é um ambiente seguro, pautado pelo respeito, pela ética e pelo compromisso com o bem-estar de seus estudantes.”

Leia também

Com polêmica em Florianópolis, riscos da presença de cães nas praias vira estudo da UFSC