O comércio da tilápia movimentou R$ 400 milhões em Santa Catarina no último ano. Para 2025, no entanto, o momento é de apreensão frente ao anúncio do tarifaço americano. O peixe cultivado no Brasil também é alvo da tarifa de importação fixada em 50% pelo governo dos Estados Unidos (EUA).
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No Brasil, o setor da tilapicultura depende muito das vendas para o mercado estadunidense. Apesar disso, o impacto não deve ser sentido de forma direta. Os reflexos da queda da exportação para os EUA são mais significativos em relação à mudança no mercado de oferta, que passa de internacional para interno.
Ao g1, Francisco Medeiros, presidente da Associação Brasileira de Piscicultura (PeixeBR), explicou que com a produção redirecionada para o consumo interno, isso tende a ampliar a oferta e pressionar os preços para baixo. No entanto, com a desvalorização do produto aos piscicultores, a tilápia pode encarecer a longo prazo para os consumidores, com o possível freamento do cultivo nacional.
Essa projeção é reforçada pelo fato de o setor já atravessar um período de retração nas vendas no Brasil, consequência da menor procura depois da Semana Santa e da chegada do inverno.
Impactos em Santa Catarina devem ser indiretos, afirma setor
Em Santa Catarina, foram produzidas aproximadamente 44,4 mil toneladas de tilápia em 2024. Os dados são do Observatório Agro Epagri/Cepa fornecidos pela Secretaria de Aquicultura e Pesca do Estado.
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A cidade com a maior produção de tilápias em Santa Catarina fica no Sul do Estado, em Armazém. Na região, a maior parte do volume de tilápias cultivadas é destinada ao consumo interno, principalmente ao Vale do Itajaí. Assim, o setor não deve sentir impactos diretos devido ao tarifaço.
No entanto, outros fatores podem gerar reflexos negativos para os catarinenses, que têm a tilapicultura como principal fonte de renda. Tiago Heidemann Wensing, é um dos cultivadores em Armazém. Segundo ele, o tarifaço pode impactar na oferta geral de peixes, não apenas para a tilápia.
Com a diminuição da exportação para os Estados Unidos, mesmo de outras espécies ou até mesmo de outros estados brasileiros vizinhos (como o Paraná), os peixes ficam no mercado interno, o que pode gerar uma desvalorização local no valor da produção aos piscicultores do Estado.
— Então, diretamente não acaba afetando a tilápia, mas indiretamente acaba sobrando esse pescado do mar, que acaba ofertando um pouquinho mais de peixe no mercado. E consequentemente é peixe. Então, existe indiretamente essa situação, essa especulação — afirma.
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Dessa maneira, o impacto começa a ser sentido pelos produtores e, em seguida, pelos consumidores, por conta da lei de oferta e procura, como argumenta Thiago.
— Do jeito que está acontecendo, esse produto vai chegar lá na gôndola do supermercado cada vez mais caro, porque está desestimulando o produtor, e, lá na frente, vai ter uma menor oferta e o preço, consequentemente, vai subir. Isso já é reflexo — fala.
Além disso, a especulação do mercado, como também explicou o produtor, ganhou força negativa com a decisão do governo federal, em abril deste ano, em importar tilápia do Vietnã. Para Thiago, a competição entre a produção nacional e internacional é outro obstáculo.
— [O tarifaço] é uma forma de dar uma desestimulada grande no setor. Já temos alguns problemas de preço. Já vem um ano se arrastando os preços, não estão contribuindo muito para o produtor. Cada especulação que vem é prejudica cada vez mais — afirma sobre o cenário atual.
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Importância da piscicultura em SC
Conforme Tiago Bolan Frigo, secretário da pasta, a cadeia de produção gera impacto econômico ainda maior ao envolver toda a rede associada, como peixarias, mercados, feiras, fábricas de gelo, ração e equipamentos, produtores de alevinos, frigoríficos e pesque-pagues, que ampliam significativamente o valor agregado e a geração de emprego e renda catarinense.
— A piscicultura tem grande relevância para Santa Catarina, que figura entre os principais polos nacionais de produção. Mesmo com relevo acidentado, clima subtropical e pequena extensão territorial, o Estado reúne cerca de 30 mil piscicultores, responsáveis por uma produção anual superior a 50 mil toneladas de peixes, sendo aproximadamente 80% de tilápia — afirma o secretário.
Ainda segundo Frigo, no cultivo da tilápia, Santa Catarina já ocupa a quarta posição no ranking brasileiro, consolidando a cultura da espécie como uma atividade estratégica para a geração de empregos diretos e indiretos, incremento da renda nas comunidades rurais e fortalecimento da economia do interior.
Medidas de incentivo à tilapicultura em SC
Conforme o secretário Frigo, Santa Catarina vem adotando um conjunto de medidas para fortalecer a tilapicultura e ampliar a competitividade. Entre as medidas está a própria criação da Secretaria Executiva de Aquicultura e Pesca (SAQ). Além disso, foi lançado o Programa Pescados SC, com R$ 100 milhões em investimentos, o maior aporte da história do setor catarinense.
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Especificamente para a tilapicultura, o programa “Tilápia Forte”, irá levar a tecnologia e a genética desenvolvidas pela Epagri aos produtores de alevinos e piscicultores, garantindo mais produtividade e qualidade.
A partir de setembro, o Pronampe Aquicultura e Pesca, também lançado pela SAQ, será operacionalizado pela Epagri, e oferecerá crédito com juros zero e possibilidade de financiamento de até 75% do custeio da produção. Além disso, o projeto “Despesca Fácil” vai entregar equipamentos como redes, caixas plásticas, balanças e caminhões Munck, enquanto o programa “Caminhão Direto da Água” vai aproximar o pescado do consumidor final, incentivando o consumo interno.
Paralelamente, Santa Catarina busca expandir sua presença em novos mercados internacionais, afirma o secretário.
*Sob supervisão de Leandro Ferrreira
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