O maior polo moveleiro do Brasil, constituído por três cidades catarinenses, Campo Alegre, São Bento do Sul e Rio Negrinho, trabalha para aliviar os impactos do tarifaço de Donald Trump, que entrou em vigor em 6 de agosto. O Sindicato das Indústrias da Construção e do Mobiliário (Sindusmobil) firmou um contrato de lobby advocatício para representar os interesses do mercado durante a negociação do governo brasileiro junto à Câmara Americana do Comércio.

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Advogados que estão à frente do caso devem reunir informações do setor moveleiro, como números de empresas, funcionários e resultados, para abastecer o governo do Brasil com dados suficientes na intenção de realizar uma defesa fundamentada, contra a taxação, junto aos Estados Unidos.

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Para o presidente do Sindusmobil, Luiz Carlos Pimentel, o setor precisa realizar a sua própria defesa para garantir direitos e a diminuição dos impactos durante as conversas e acordos entre as duas nações. De acordo com Pimentel, a indústria catarinense tentará mostrar que a repercussão da taxação pode ser negativa também para o consumidor estadunidense.

— Uma vez que seja tarifado esse portfólio de imóveis, que sai daqui e vai para os Estados Unidos, que isso vai trazer consequências para o consumidor americano. É isso que precisamos mostrar para eles, porque se nós simplesmente ficarmos com o discurso de que o problema é só nosso, que pode gerar alguns problemas para nós, eles não vão se dobrar aos nossos problemas aqui. A gente tem que mostrar que vai ter um impacto muito negativo para o consumidor médio americano — explica Pimentel.

Impactos na prática

O presidente do Sindusmobil ainda revelou que o mercado estava com uma expectativa de que os produtos enviados até o dia 6 de agosto não sofreriam com os primeiros dias de taxação. No entanto, não foi isso o que aconteceu.

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— Todas essas mercadorias que estão chegando lá já estão sofrendo esse adicional de 40%. Então, o cliente americano está absorvendo isso num primeiro momento. Ele tá recebendo essas mercadorias, mas isso tudo é fruto de programação que foi feita lá atrás, lá no passado. O que ocorre é que o cliente, agora, está silencioso. Ele não está renovando os pedidos. Esse que é o maior problema — diz.

Para Pimentel, conforme esse cenário de taxação vai se prolongando, a tendência é de que o setor, de fato, enfrente prejuízos. Por isso, as medidas anunciadas pelos governos federal e estadual, como os R$ 435 milhões anunciados por Jorginho Mello para gerar alívio às indústrias catarinenses, são importantes para os primeiros meses do tarifaço.

— Algumas empresas, aquelas que são mais concentradas no mercado americano, vão ficar sem alternativa. Muito provavelmente, no primeiro momento, vão acionar alguns dispositivos desse pacote [do Governo Federal] que podem auxiliar elas nesse momento — pondera.

Férias coletivas e redução de jornada

O Planalto Norte do Estado, porém, já vive alguns reflexos do tarifaço. De acordo com o presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção e do Mobiliário, Airton Martins Anhaia, aproximadamente mil trabalhadores já foram impactos com as medidas tomadas para reduzir o impacto no setor, o que representa mais de 14% do número de funcionários da região.

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Desse montante, 217 pessoas foram demitidas, o que gerou um saldo negativo em julho no setor moveleiro. A cidade de Mafra foi a que mais registrou desligamentos, com 55 trabalhadores demitidos, seguida por São Bento do Sul e Campo Alegre, cada uma com 49 demissões, e Papanduva com 32. Já Campo Alegre também teve um número expressivo, com 29 demissões.

Segundo os números analisados pela Federação das Associações Empresariais de Santa Catarina (Facisc), todo o Estado registrou um saldo negativo de 600 vagas formais nos setores de madeira e móveis no mês de julho.

Ao NSC Total, o diretor de Relações Internacionais, Evaldo Niehues Junior, afirmou que esse resultado está associado, em parte, pelo aumento do cenário de incerteza econômica gerada com o anúncio do tarifaço específico ao Brasil.

Conforme o presidente da Associação Empresarial de São Bento do Sul (Acisbs), Gabriel Weihermann, o setor também tenta controlar o impacto financeiro com férias coletivas. A medida, no entanto, é temporária e o problema só poderá ser completamente solucionado quando o Brasil e os Estados Unidos entrarem em um acordo comercial.

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— Hoje o mercado americano é o principal mercado da exportação de móveis. É uma relação comercial muito longa entre os países. É um mercado que está sendo desenvolvido, foi desenvolvido e continua sendo desenvolvido há muito tempo. Hoje, em média, 60% das exportações estão indo para os Estados Unidos — afirma Weihermann.

Ainda de acordo com o presidente da Acisbs, empresas da cidade já reduziram a jornada de trabalho para até três dias na semana. A intenção é controlar o volume de produção para evitar perdas e danos ainda mais significativos às receitas.

— A gente precisa negociar e entender como conseguir reduzir efetivamente essas taxas para que a gente tenha, novamente, um cenário competitivo na exportação de móveis para os Estados Unidos. Mas as medidas anunciadas até agora, principalmente no que fala em crédito e liberação de recursos, ajudam com certeza no curto prazo, até para evitar demissões ou uma crise maior — pontua.

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