A baixa vacinação contra a gripe somada a alta ocupação de leitos de UTIs coloca o sistema de saúde público de Santa Catarina em um cenário preocupante, conforme avaliam especialistas. Isso porque as internações por doenças respiratórias — que possuem imunização disponível — têm lotado os hospitais em todas as regiões.

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Mais de 1,1 mil UTIs gerais estão ocupadas, neste domingo (25), número que inclui leitos adultos, neonatais e pediátricos. Quando se trata de UTIs voltadas apenas para recém-nascidos e crianças, três macrorregiões estão com 100% de ocupação: Extremo-Oeste, Foz do Rio Itajaí e Grande Florianópolis. Em todo o Estado, apenas 100 leitos estão disponíveis: 55 adultos, 28 neonatais e 17 pediátricos.

Na última semana, Santa Catarina decretou situação de emergência na rede hospitalar catarinense. O documento se justifica pelos números, e tem o objetivo de permitir agilidade do Estado na contratação de profissionais e serviços para atender a demanda crescente de pacientes que os hospitais vem enfrentando desde maio.

— Santa Catarina tem defasagem crônica nos leitos de UTIs, ao mesmo tempo que temos o aumento e envelhecimento populacional, o que demanda mais do sistema de saúde. Somado a isso, nos últimos anos, temos registrado baixa cobertura vacinal e isso faz com que as pessoas acabem adoecendo mais, porque essa imunização é o que diminuiria o número de internações — avalia Fernando Hellmann, especialista em Saúde Pública da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

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Decreto de emergência: imagens mostram situação precária de hospitais em SC

Para ele, o cenário do sistema público de saúde é grave em todo o território catarinense. O número de 91% de ocupação, registro da Secretaria de Saúde do Estado neste domingo, requer um acompanhamento constante para evitar possível colapso.

— Temos poucos leitos, uma atenção primária que poderia ser ampliada, uma crise nas vacinas e investimentos na saúde que não acompanham tudo isso. Um cenário que, necessariamente, aumenta a taxa de ocupação das UTIs, o que é muito grave — diz o especialista.

Desde o início de maio, o Estado tem passado por crises agravantes no sistema de saúde e chegou a ter apenas 14 leitos disponíveis, número que representava 98% de ocupação dos hospitais. No caso das UTIs neonatais e pediátricas, na mesma ocasião, apenas três estavam livres.

No dia 30 de maio, por exemplo, o Estado chegou a registrar um leito de UTI adulto disponível para cada 1,3 milhão de pessoas. Na área da pediatria esse número chegava a zero.

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À beira de um colapso desde então, o governo de SC vem tentando equilibrar a situação em uma parceria com hospitais particulares. O que eram, à época, 800 leitos de UTIs ativos em todo o Estado, atualmente são 1,2 mil. Na quarta passada, o governo anunciou a abertura de mais dez leitos adultos no Hospital Marieta Konder Bornhausen, em Itajaí — são os primeiros leitos dos 30 previstos na unidade.

Mesmo na corrida contra o tempo é preciso atenção, conforme afirmam especialistas, já que a a taxa de ocupação se mantém entre 90% e 100%. O cenário, que se assemelha a mesma época de 2022, poderia ter sido previsto, segundo ele:

— Não apenas era previsto [o aumento no número de casos das doenças e, consequentemente, a ocupação dos hospitais] com a chegada do inverno como já era para ter sido previsto por conta das baixas coberturas vacinais contra a gripe. Em Santa Catarina temos uma cobertura vacinal baixa, então era sabido que os casos de internações por doenças respiratórias iriam aumentar.

SC tem déficit histórico de vagas de UTIs, avaliam especialistas

O professor da UFSC Sandro Torres de Freitas diz que Santa Catarina precisaria de ao menos 1,5 mil UTIs disponíveis para estar em um cenário “confortável” no sistema de saúde.

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— Como aumentar leitos de UTIs em curto prazo? A gente precisa de recurso financeiro, equipamentos, o que durante a pandemia mostrou-se que não era um problema porque a indústria tem oferta para alta demanda. [Além disso] tem que ter equipes disponíveis e dispostas a trabalhar no sistema de UTIs — ressalta Freitas.

— A questão é aumentar as campanhas de vacinação, principalmente da influenza, e também garantir novos leitos de UTIs, além de dar atenção à questão primária da saúde para que as pessoas não adoeçam e, consequentemente, não sejam hospitalizadas — conclui Hellmann.

SC emite alerta para risco de gripe com menos da metade da população vacinada

Baixa vacinação

Conforme dados da Diretoria de Vigilância Epidemiológica (Dive), mais de 450 casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) por influenza foram confirmados no Estado em 2023. São todos casos graves e que necessitaram de internação. Dos pacientes, 31 morreram por conta da doença.

Segundo dados do Painel de Vacinação do Ministério da Saúde, apenas 47% da população dos grupos prioritários se vacinaram em Santa Catarina em mais de dois meses de campanha — a meta é vacinar 90%. A campanha segue até 30 de junho, mas as doses devem continuar disponíveis nos postos de saúde até o fim dos estoque. 

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Outra doença que também segue em alerta durante o inverno é a Covid, que registrou apenas 570 mil moradores de Santa Catarina vacinados.

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