Há quase 40 anos, no dia 10 de setembro de 1984, o Brasil vivia uma das piores tragédias na mineração de carvão. Naquela segunda-feira, 31 trabalhadores perderam a vida após uma explosão na Mina Santana em Urussanga, no Sul de Santa Catarina.
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O fato aconteceu por volta das 5h20min, no Painel 6, onde 28 trabalhadores morreram do lado de dentro. Outros três, que estavam na entrada, também não resistiram à explosão. Sérgio Maccari, eletricista de subsolo e um dos sobreviventes, relembra como a tragédia aconteceu.
— Aquele era um dia até especial para a gente porque era dia de pagamento. Estava todo mundo contente. Ao chegar na mina, o guarda já veio ao meu encontro e disse que no dia anterior tinha dado problema na mufla de alta tensão, equipamento que sai do transformador. A Celesc, à época, teve que desligar a energia para resolver o problema — conta.
O sobrevivente explica que os exaustores grandes não voltavam a funcionar automaticamente e precisavam ser acionados de forma manual. Sérgio passou as instruções para a equipe de eletricistas e todos desceram para o subsolo.
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— Às 5h20min, deu-se o fato. Fomos jogados, ficou tudo escuro, apagou-se as luzes. Acionei a minha lanterna, ainda meio atordoado por causa do deslocamento de ar — relembra o eletricista.
Silêncio
Sérgio explica que, ao contrário do que muitas pessoas imaginam, não houve barulho de explosão. Para quem estava no subsolo, o som é abafado. É como a pressão no ouvido que sentimos ao mergulhar na água. Depois, um vento forte os tirou do lugar. Aos poucos, a equipe retomou os sentidos e foi entendendo o que tinha acontecido.
— As chaves do painel 5 estavam ligadas. No painel 6, duas estavam desarmadas. Desarmei a terceira, porque era um procedimento de segurança. Continuamos até chegar à entrada do painel 6. Lá, tinha muita fumaça. A gente tentou entrar e passou mal. Imediatamente, voltamos e contatamos a central em Santana — relata.
Causa
O acúmulo de gás no interior da mina foi apontado como a causa do acidente. Isso combinado ao fato de que pelo menos oito caixas com dinamites prontas estavam no local. Em contato com o gás, houve a explosão.
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— Uma detonação no sábado à noite, provavelmente, deve ter pegado uma reserva de gás. Como houve a falta de energia, não teve ventilação. Esse acúmulo de gás ficou dentro do painel. No momento que foi acionada a máquina ou a correia transformadora, inflamou o gás — explica Sérgio.
Segurança
A tragédia em Urussanga revelou muitas falhas de segurança, que foram corrigidas nos anos seguintes. Naquela época, não havia, por exemplo, um equipamento que medisse a quantidade de gás dentro da mina, algo que hoje é bastante utilizado. Por isso, para o sobrevivente, há claramente um “antes e depois” do acidente.
— A morte deles ocasionou esse tipo de mudança, uma visão que não se tinha na época. Como nunca tinha acontecido nada, continuava assim. Houve uma revolução na questão de segurança — reforça.
A vida depois da tragédia
O eletricista conta que depois do acidente continuou trabalhando na mineração por mais um ano. Depois, acabou saindo por pressão da família, que entendia que esse tipo de trabalho era muito perigoso.
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— Tentamos tocar a vida, mas isso não sai da cabeça. De tempos em tempos, retornam as imagens que a gente viu das pessoas, do que aconteceu e do que a gente passou naqueles dias. Não tem como apagar — conclui.
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