O anúncio da contratação do técnico Cuca pelo Corinthians nesta quinta-feira (20) foi seguido de diversas manifestações contrárias de torcedores. Corintianos e corintianas citam, em especial, a condenação contra o treinador por atentado ao pudor com uso de violência em caso ocorrido em 1987, na Suíça, envolvendo uma menina de 13 anos e quando ele era ainda atleta do Grêmio.
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Além de relembrar o caso agora, a torcida do Corinthians acusa a gestão de Duílio Monteiro de incoerência com sua própria atuação, por mobilizar campanhas em prol da participação feminina no futebol, caso da “#RespeitaAsMina”, e com a história do clube, com tradição no futebol feminino e protagonismo em movimentos sociais como a “Democracia Corinthiana”.
O Loucas Por Ti, movimento de torcedoras do clube, publicou nota em crítica à contratação. A Camisa 12, uma das torcidas organizadas da equipe, também se manifestou com contrariedade.
“Independente de toda e qualquer justificava, nosso posicionamento jamais mudará se for a contramão daquilo que pregamos. Mais importante que títulos, é manter não somente a essência do clube, mas tudo o que envolve a nossa instituição”, escreveu o Loucas Por Ti.
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“Não aceitamos que esse treinador use a camisa da Democracia Corinthiana, tão representativa em nossa história”, publicou a torcida Camisa 12.
A Gaviões da Fiel, maior organizada do clube e que havia se manifestado pela saída do técnico Fernando Lázaro, devido aos maus resultados esportivos, não se posicionou sobre a chegada de Cuca. O Movimento Alvinegras, de empoderamento das corintianas, também não emitiu opinião.
Em 2020, o Santos desistiu de contratar o atacante Robinho, condenado por estupro coletivo na Itália, após intensa pressão de torcedores e patrocinadores. Já em janeiro deste ano, um caso parecido repercutiu a partir da Espanha, onde o lateral-direito Daniel Alves foi preso e também responde por estupro.
Relembre o caso de Cuca
Em 1987, o clube gaúcho excursionava na Europa e passou pela cidade suíça de Berna, onde uma menina de 13 anos teria ido com amigos à porta do quarto de Cuca e mais três jogadores (Eduardo Hamester, Henrique Etges e Fernando Castoldi) em um hotel para pedir uma camisa do Grêmio. Os atletas teriam expulsado os colegas da vítima e forçado relações sexuais com ela, segundo a investigação policial.
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Os quatro jogadores chegaram a ficar presos por quase um mês na Suíça, ainda na condição de investigados, e foram soltos mediante o pagamento de fiança, quando voltaram ao Brasil e foram recebidos com festa em Porto Alegre, conforme registrou a imprensa à época, que repercutia também acusações de torcedores, dirigentes e jornalistas de que a própria vítima seria a culpada pelo ocorrido.
Cuca não foi identificado pela menina como um dos agressores, conforme registraram reportagens do El País e do UOL, que tiveram acesso aos autos do caso. Ainda assim, ele foi condenado a 15 meses de prisão e ao pagamento de US$ 8 mil, assim como Henrique e Eduardo, por atentado ao pudor com uso de violência, segundo registrou reportagem do Esporte Espetacular, também com acesso ao processo.
Eles foram enquadrados, conforme registrado pelo UOL, no artigo 187 do Código Penal da Suíça, que prevê punição a “qualquer pessoa que se envolva em um ato sexual com uma criança menor de 16 anos, ou incite a criança a cometer tal atividade ou envolva uma criança em um ato sexual”.
Já Fernando foi absolvido de parte da acusação e acabou condenado a três meses de prisão e ao pagamento de uma multa de U$ 4 mil, por ter sido considerado cúmplice do crime.
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Todos eles não cumpriram as penas de detenção, que prescreveram passados 15 anos do crime, e seguiram carreira no futebol. O Brasil não extradita seus cidadãos a outros países, ainda que condenados. O grupo pode, hoje, retornar à Suíça livre de qualquer punição.
O caso havia voltado à tona já em 2021, quando Cuca estava perto de acerto com o Atlético-MG, com histórico de atuação pelas causas sociais, assim como o Corinthians.
Na ocasião, Cuca afirmou, em declaração à jornalista Marília Ruiz, do UOL, ser inocente, o que já dizia à época em que foi preso. Disse que não houve estupro, mas uma condenação devido à menina ter entrado no quarto dos atletas. Acrescentou ainda que havia sido julgado à revelia, quando o réu não se apresenta à Justiça para se defender.
— Não fui julgado e culpado. Fui julgado à revelia, não estava mais no Grêmio quando houve esse julgamento com os outros rapazes. É uma coisa que eu tenho uma lembrança muito vaga, até porque não houve nada. Não houve estupro como falam, como dizem as coisas. Houve uma condenação por ter uma menor adentrado o quarto. Simplesmente isso. Não houve abuso sexual, [não houve] tentativa de abuso ou coisa assim — disse Cuca, na ocasião.
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Também ao UOL, no entanto, o ex-dirigente Luiz Carlos Pereira Silveira Martins, o Cacalo, vice-presidente jurídico do Grêmio à época do episódio, afirmou ter estado presente na ocasião do julgamento na Suíça como representante dos atletas.
Ele disse ainda que um dos jogadores havia tido relação sexual com a menina, mas de maneira consensual. A legislação suíça, no entanto, assim como o Código Penal brasileiro, não faz menção a eventual consentimento ou não para haver condenação em casos que tratem de vítimas com a idade da vítima à época, com 13 anos.
No Brasil, é considerado estupro de vulnerável “ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com menor de 14 (catorze) anos”.
O Código Penal brasileiro também tipifica o crime de favorecimento da prostituição ou outra forma de exploração sexual de vulnerável, no artigo 218-B. Ele trata da seguinte prática: “Submeter, induzir ou atrair à prostituição ou outra forma de exploração sexual alguém menor de 18 (dezoito) anos ou que, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a prática do ato, facilitá-la, impedir ou dificultar que a abandone”.
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