A Voepass deixou de fazer a rota que conectava Cascavel, no Paraná, a Guarulhos, em São Paulo, a mesma do acidente que matou 62 pessoas há um mês. Desde o começo de setembro, nenhum avião da companhia pousa ou decola de Cascavel. As informações são da Folha de S. Paulo.
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Desde 9 de agosto, quando o avião da companhia caiu em Vinhedo, interior de São Paulo, deixando 62 vítimas, a Voepass deixou de operar também em Fortaleza (CE), Cofins (MG) e em Porto Seguro (BA). A partir de 26 de agosto, rotas que tinham Salvador (BA), Natal e Mossoró (RN) como origem ou destino também deixaram de operar. Em 2 de setembro, a operação foi suspensa em São José do Rio Preto (SP), Cascavel (PR) e em Rio Verde (GO).
Cenipa divulga relatório preliminar do acidente aéreo da Voepass em Vinhedo
Segundo a companhia, a medida visa garantir “uma melhora significativa na experiência dos passageiros, minimizando eventuais atrasos e cancelamentos”. Passageiros que compraram bilhetes para os trechos cancelados podem requerer reembolso em até 12 meses, considerando a atualização monetária.
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O que se sabe sobre queda de avião em Vinhedo
Uma coletiva de imprensa do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) divulgou o relatório preliminar sobre a queda do avião da Voepass em Vinhedo no dia 9 de agosto.
A aeronave envolvida no acidente foi fabricada em 2010, e incorporada à frota da empresa em 2022, caracterizada pelo uso em voos regionais e com capacidade de altitude máxima de 25 mil pés. Os registros técnicos de manutenção estavam atualizados e o certificado de verificação de aeronavegabilidade estava válido. A última revisão foi feita em 24 de junho de 2023. A aeronave era certificada para voos em condições de gelo.
Informações meteorológicas previam condições de gelo na rota que a aeronave faria naquele dia, com queda de temperatura e aumento de umidade na área do trajeto do voo.
A aeronave fez a primeira chamada ao Controle de Aproximação de São Paulo às 13h05, e reportou que estava no ponto ideal de descida às 13h18, sem relatar qualquer problema. O Controle instruiu a aeronave a manter a altitude por conta da presença de outra aeronave em rota convergente.
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Às 14h20 o Controle orientou novamente a manter a altitude e que a descida seria autorizada em dois minutos. O controle da aeronave foi perdido e o acidente aconteceu às 14h22.
A partir de então, o Cenipa foi notificado e mobilizado, com acionamento de órgãos internacionais, mobilização de equipes no local do acidente e remoção das caixas-pretas, motores e outros componentes da aeronave.
O pack do motor esquerdo estava inoperante, apontou o Cenipa, contudo isso não impossibilitava o voo. O órgão também detalhou quais eram os recursos do avião para enfrentar condições de gelo.
Ao longo do percurso, o aviso do detector de gelo foi acionado algumas vezes, e os pilotos ativaram o sistema existente na aeronave para reverter a situação por três vezes. Em um desses momentos, o copiloto comentou em áudio gravado pela caixa-preta que havia “bastante gelo”. Já próximo da hora do acidente, é possível ouvir vibrações na aeronave e o alarme de estol, fenômeno em que a aeronave perde a sustentação.
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Os pilotos teriam comentado sobre um problema no sistema antigelo logo no início do voo, conforme consta nas gravações da caixa-preta, mas o Cenipa ainda não confirmou, nem descartou, a existência de alguma falha.
Quando o avião fazia a curva à direita para se posicionar sentido Aeroporto de Guarulhos, houve uma reversão na curva, que o Cenipa ainda não sabe se foi feita pelo próprio piloto ou pela aerodinâmica, seguida de outra reversão e do avião entrando em parafuso.
As considerações apresentadas pelo Cenipa são de que a aeronave estava certificada para voar, e a tripulação era certificada e qualificada. Havia informações meteorológicas de formação de gelo severo no trajeto. A tripulação não declarou emergência, e a perda de controle da aeronave ocorreu em condições de formação de gelo.
Os próximos passos da investigação devem ocorrer através de exames de materiais, testes funcionais e interação com a própria companhia aérea, fabricante da aeronave e representantes internacionais. Novos dados ainda podem surgir, devido a complexidade do acidente, aponta o Cenipa.
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Gravações da caixa-preta
Gritos e uma fala do copiloto sobre “dar potência” para o avião estariam entre os registros da caixa-preta do avião, de acordo com o Jornal Nacional, que teve acesso ao material.
O laboratório de leitura e análise de dados do Centro de Investigação e Prevenção e Acidentes (Cenipa) transcreveu as duas horas de gravação. As informações indicam que o avião teve uma perda de altitude repentina. Somente pelo áudio da cabine, contudo, não é possível indicar a causa de uma queda.
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O copiloto Humberto de Campos Alencar e Silva teria percebido que algo estava errado e perguntou o que estava acontecendo, momento em que disse que era preciso “dar potência” para estabilizar a aeronave.
O tempo entre a perda de altitude e a colisão com o solo foi de cerca de um minuto. As gravações mostram que, nesse intervalo, a tripulação tentou reagir. Gritos e o barulho da batida no chão se seguem.
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62 pessoas à bordo morreram
Ao menos dois catarinenses morreram no acidente. Um deles é o engenheiro sanitaristas Paulo Henrique Silva Alves, de 41 anos, nascido em Florianópolis. Rafael Fernando dos Santos e a filha Liz Ibba dos Santos também estavam no voo COO 2283. Rafael tinha 41 anos e foi buscar a menina de 3 anos em Cascavel, onde ela morava com a mãe, para passarem juntos o Dia dos Pais.
Uma força-tarefa da Polícia Técnico-Científica de São Paulo fez a identificação dos corpos das vítimas e constatou a causa da morte. De acordo com superintendente Claudinei Salomão em entrevista à Folha de S. Paulo, a maior parte das vítimas morreu de politraumatismo.
— A maior parte, sem dúvida nenhuma, foi por politrauma. E, consequentemente, com a explosão da aeronave, alguns foram atingidos pelas chamas. Então, temos uma porcentagem de cadáveres que têm uma carbonização parcial — afirmou.
Cerca de 30 profissionais atuaram com auxílio de profissionais da Polícia Civil de São Paulo. Médicos radiologistas, auxiliares de necropsia, atendentes de necrotérios e papiloscopistas também compuseram a equipe.
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