As imagens reveladas pelo “Fantástico”, domingo passado (29/1), cortaram a alma, sangraram o coração, causaram dor, provocaram o choro. Na Amazônia, crianças, jovens e adultos ianomâmis subnutridos, sem o que comer e o que beber, à beira da morte. Os repórteres Sônia Bridi e Paulo Zero acompanharam uma equipe de socorro, e o que vimos foram cenas da tragédia humanitária – cenas do genocídio que dura anos e cresceu com a covardia, a incompetência, a insensibilidade e a prostração do último governo federal.
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Se você viu as imagens e não sentiu desassossego ou tristeza, lamento. Você está morto.
É o caso de Regina Duarte, que nas redes sociais debochou da tragédia. Mas Regina está, sim, morta há muito tempo. Tornou-se um ser desprezível e degradante. Ela também deve ter se divertido com a imagem, publicada pelo jornal “Folha de S.Paulo”, de um avião da Força Aérea Brasileira jogando fardos de comida para os ianomâmis. Detalhe para o absurdo: os fardos continham pacotes de arroz, farinha e sal e latas de sardinha. Afinal, os ianomâmis não têm mais rios para pescar seus frutos, devido à contaminação provocada pelo garimpo ilegal e criminoso de ouro. Latas de sardinha. Simplesmente inacreditável.
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Enquanto Regina e outros seres deploráveis dão risadas, a crise sanitária e de saúde pública, que provoca desnutrição, diarreia, pneumonia e malária, segue sua marcha. Estas doenças são combatidas por médicos e voluntários heroicos e incansáveis na luta pela preservação de vidas. Dão remédios, carinho e conforto, alimentam, choram também. Têm consciência de que lutam contra o tempo.
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Sônia Bridi e Paulo Zero acompanharam a ação para levar comida às comunidades mais afetadas da reserva ianomâmi. Flagraram o resgate de famílias inteiras, todos doentes. Num momento da grande reportagem do “Fantástico”, Sônia carrega um pequeno ianomâmi no colo, em direção ao helicóptero militar. Os olhos ficam marejados.
Veja fotos da situação dos ianomâmis na Amazônia:
Com as palavras, num depoimento a esta coluna, a própria Sônia:
“Na correria de uma gravação – a reportagem toda foi feita em menos de 24 horas – a ficha custa a cair. A gente presta atenção, anota, fica ligado. Mas não nesta reportagem. Na pista onde desci, já uma cena dramática, de um bebê sendo socorrido. No posto de saúde, mais de cem pessoas. Pensei: meu Deus, nem em campo de refugiados vi tanta gente com sinais gritantes de desnutrição. Espanto, uma tristeza profunda, e uma revolta imensa ficam brigando por espaço com o nosso racional.
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Seguro o choro nessas horas, porque acho que eles que estão sofrendo precisam de respeito, não de piedade. Mas no último resgate, na aldeia que estava de luto, o olhar distante das crianças, o abraço da irmãzinha que usa as poucas forças para proteger a irmã, acabaram comigo”.
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Precisamos de mais seres humanos de verdade. Precisamos de mais solidariedade, amor e coragem. Precisamos salvar os ianomâmis, urgentemente.
Para refletir
“A solidariedade é o sentimento que melhor expressa o respeito pela dignidade humana”.
Do escritor Franz Ka fka:
“A coragem é a primeira das qualidades humanas porque garante todas as outras”
Do estadista Winston Churchill
“O verdadeiro herói é aquele que faz o que pode. Os outros não o fazem”
Do escritor Romain RollandContinua depois da publicidade
“Um jornalista é guiado por missão, não por popularidade”
Da jornalista Maria Ressa, Prêmio Nobel da Paz de 2021
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