Refugiar-se numa casa no meio do nada, com a pessoa que se ama;
Ouvir os mugidos das vacas, o canto dos pássaros, o latido dos cães;
Sentir o cheiro do mato, o vento que acaricia suavemente o rosto;
Ser surpreendido pelo voo calmo e circular dos gaviões, pelo caminhar trôpego das curicacas pretas e pelo pouso solitário do tucano-de-bico-verde;
Ser seduzido pelo pôr do sol, pelas mudanças de cores no céu, pela lua minguante que surge sobre as montanhas;
Aperceber-se da mudança de temperatura que chega com a noite;
Divisar o céu lindamente estrelado e todo o sossego que ronda o cafofo;
Tomar uma cerveja, comer um baita sanduíche de linguiça, se preparar para a festa do Oscar na TV;
Vibrar com a vitória da cultura e do cinema brasileiros, festejar com um abraço e um beijo no seu amor;
Dormir no silêncio absoluto e reconfortante que a vida urbana tornou desconhecido de todos nós;
Acordar, abrir as janelas e as portas, descortinar o nascer do sol;
Deliciar-se com os sons da manhã e com um café simples, cheiroso e gostoso;
Arrumar a cama, cuidar das plantas sedentas;
Mergulhar no rio, a água gelada e límpida, o sol que brilha e queima;
Ver a Maggie nadar no rio e brincar com as vaquinhas que pastam por perto;
Na varanda, conversar, ouvir, ler o mestre J. M. Coetzee;
Estar livre de Trump, Putin e outros idiotas por alguns dias;
O contentamento por ter escapado dos blocos, que tanta felicidade levam às ruas e tanto me alegraram na infância e na adolescência;
Apreciar os Pereirões, bonecos desajeitados que fazem a farra da criançada no carnaval da pequena cidade;
Os brutalismos
Voltar no fim de tarde para casa, começar tudo de novo. O sol que cai, a lua que surge, as estrelas que nascem, o vento gelado que se aproxima, o jantar simples preparado a quatro mãos, as vozes, os sorrisos, os latidos e os mugidos ao longe, a quietude, a serenidade, o prazer, o amor, o mais completo encantamento nas pequenas coisas.
É como escreveu o líder quilombola e filósofo Antônio Bispo dos Santos: “Quem não sabe dançar e cantar no batuque, quem não sabe fazer uma comida, quem não se emociona com a cantiga de um pássaro, não tem um modo agradável de viver”.
Continua depois da publicidade
Estamos aqui
Por mais incrível que possa parecer, temos personagens que não vibraram com “Ainda Estou Aqui”, o melhor filme estrangeiro do Oscar. É como diria o diretor Walter Salles no discurso que ele perdeu e não leu na maior premiação mundial do cinema: “Governos autoritários surgem e desaparecem no esgoto da História, enquanto livros, canções e filmes ficam conosco. Viva a democracia, ditadura nunca mais”.
A novinha campeã
Mikey Madison, de 25 anos, foi eleita a melhor atriz por sua belíssima atuação em “Anora”. Radicais que se levam muito a sério e fazem parte da corrente filosófica obtusa e cega do “Pachequismo” não perdoaram. Estupidamente falam em etarismo, injustiças, roubalheira, etc.
Mas o melhor mesmo veio de blocos carnavalescos, que cantaram:
“Se você fosse sincera/Oooooô, Anora/Devolveria o meu Oscar/Oooooô, agora”.
Continua depois da publicidade
 
				 
                                    