Semana passada decretei neste humilde espaço: “Recital na Boite Barroco”, de Maria Bethânia, é o melhor disco da música brasileira. Evidentemente não há, nesta avaliação, um pingo de ambição ou pretensão crítica. Esta escolha sustenta-se apenas numa poderosa relação afetiva com esta obra lançada quando eu tinha 7 anos e o Brasil vivia sob a infame ditadura. Ou seja, foi amor à primeira audição.
Continua depois da publicidade
Leia mais de César Seabra no NSC Total
Para surpresa nacional, mundial e interplanetária, os raros leitoras e leitores e colegas da Redação divergiram, sugeriram e enviaram uma chuva de pitacos com seus discos preferidos. É o indestrutível poder da música.
O encantamento da simplicidade
“Construção”, de Chico Buarque (1971), foi o mais citado. É realmente um assombro. Temos ali “Deus lhe Pague”, “Cotidiano”, “Valsinha”, “Desalento” e a obra-prima que empresta o nome ao disco.
Continua depois da publicidade
“Transa”, de Caetano Veloso, também foi muito lembrado, assim como “Acabou Chorare”, dos Novos Baianos; e “Clube da Esquina”, de Milton Nascimento e Lô Borges. Curiosidade 1: esses três discos foram lançados em 1972, quando os militares perseguiam, prendiam, torturavam, matavam e desapareciam com os corpos.
Curiosidade 2: em pesquisa feita recentemente pela revista “Rolling Stone”, “Acabou Chorare” foi eleito o melhor disco do país.
E o que falar de “Chega de Saudade” (1959), de João Gilberto, com “Desafinado”, “É Luxo Só” e “Chega de Saudade”?
E o que dizer de “Elis & Tom” (1974), de Elis Regina e Tom Jobim, com “Águas de Março”, “Só Tinha de Ser Com Você” e “Retrato em Branco e Preto”?
Continua depois da publicidade
E como esquecer “Cartola 2” (1976), de Cartola, com “O Mundo é um Moinho”, “Senhora Tentação” e “As Rosas não Falam”?
Um passo, uma viagem e as lembranças de uma epopeia em Praga
Os mais jovens fizeram uma lista contemporânea e também bela. Eles vão de “O Concreto Já Rachou” (1985), do Plebe Rude, “Cabeça Dinossauro”, dos Titãs, “Dois”, do Legião Urbana, e “Selvagem?”, do Paralamas do Sucesso (esses três de 1986) ; passando por “Da Lama ao Caos” (1994), de Chico Science & Nação Zumbi, e “Bebadosamba” (1996), de Paulinho da Viola; chegando a “A Mulher do Fim do Mundo” (2015), de Elza Soares, ““AmarElo” (2019), de Emicida, e “Afrodhit” (2023), de Iza. É muita coisa boa.
Com uma linguagem deliciosa, a cantora e escritora Eliete Negreiros lançou, em 2022, uma obra belíssima e sensível. “Amor à Música” (Editora Sesc) reúne textos sobre Tom Jobim, Cartola, Luiz Melodia, Nara Leão, Paulinho da Viola, Baden Powell, Candeia, Pixinguinha, Noel Rosa, Vinicius de Moraes, Luiz Gonzaga, Nelson Cavaquinho, Dorival Caymmi, Ataulfo Alves, Dolores Duran, Elisete Cardoso.
O nome do livro de Eliete entrega tudo: afeto, fascínio, benquerença pelo que nossos artistas produzem. Música é alimento, pão e água. Música é saúde, alegria, arrebatamento. Música é paixão e amor. É como escreveu o filósofo alemão Nietzsche, “Sem a música a vida seria um erro”.
Continua depois da publicidade
 
				 
                                    