Itajaí liderou em 2020 o ranking de letalidade da Covid-19 entre os maiores municípios de Santa Catarina, com mais de 100 mil habitantes. A cidade foi notícia em todo o país ao optar pela polêmica distribuição de tratamentos ‘profiláticos’ como o vermífugo ivermectina, que é oferecido gratuitamente pela prefeitura com a promessa de prevenir a contaminação pelo coronavírus. Desde julho, mais de 2,2 milhões de comprimidos foram entregues à população. 

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As estatísticas foram reunidas pelo jornalista Cristian Weiss, da equipe de jornalismo de dados da NSC. O índice de letalidade de Itajaí é de 1,76%, com 257 óbitos contabilizados pelo município até 30 de dezembro, de acordo com as informações fornecidas pela Secretaria de Estado da Saúde e monitoradas pelo Painel do Coronvírus. É maior do que a média estadual, de 1,09%. A letalidade avalia a quantidade de mortes de acordo com o número de casos diagnosticados de contaminação pelo coronavírus.

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Foram comparados os dados de Florianópolis, Joinville, Blumenau, São José, Chapecó, Criciúma, Jaraguá do Sul, Palhoça, Lages, Balneário Camboriú, Brusque e Tubarão, além de Itajaí. Os municípios têm taxas que partem de 0,71% de letalidade – índice da cidade de Palhoça. O percentual mais próximo de Itajaí foi o de Lages, com 1,65%, seguido de Tubarão, com 1,46%. Ambas também estão acima da média de Santa Catarina.

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Taxa de letalidade
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Em outro indicador, o de mortalidade, os resultados são parecidos. Porém, Itajaí não está na liderança. Nesse ranking avalia-se a quantidade de óbitos para cada um milhão de habitantes, sem considerar a quantidade de testes que foi feita em cada município.

Tubarão está em o primeiro lugar no Estado, com 1.606 mortes para cada um milhão de habitantes. Em segundo lugar vem Itajaí, com 1.151 óbitos para cada um milhão.

Taxa de mortalidade
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Richelle Parodi, enfermeira responsável pelos agravos agudos na Vigilância Epidemiológica de Itajaí, diz que o número de óbitos na cidade é elevado porque o município testou ou diagnosticou todos os casos suspeitos que resultaram em morte – o que, segundo ela, não é feito em todas as cidades do Estado.

Em nota, Secretaria Municipal de Saúde de Itajaí informou que “segue à risca e com muita transparência todos os protocolos do Ministério da Saúde e do Governo do Estado, fazendo da cidade uma das únicas que testam todos os óbitos para covid-19 com diferentes exames (RT-PCR e testes rápidos). O serviço ainda faz a notificação de óbitos por confirmação clínico-epidemiológico e clínico-imagem. Essa conduta, certamente, reflete em maior número de mortes confirmadas, evitando assim subnotificações e garantindo dados reais. Portanto, fazer um comparativo com demais municípios que não adotam as mesmas ações de combate e testagem de óbitos e não têm o mesmo número de habitantes pode apresentar números que não refletem a realidade”.

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A Diretoria Estadual de Vigilância Epidemiológica (Dive), no entanto, contestou a afirmação do município de Itajaí e informou que todos os óbitos são investigados da mesma maneira em Santa Catarina.

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Tratamento preventivo

Para especialistas ouvidos pela coluna, o índice de mortes em Itajaí é reflexo do afrouxamento em relação a outras medidas de proteção, como o uso de máscaras e distanciamento social, diante da distribuição de medicamentos supostamente profiláticos. A cidade aparece com frequência em perfis nas redes sociais que denunciam aglomerações, por exemplo.

A médica infectologista Sabrina Sabino disse que o resultado não surpreende:

– A cidade adotou uma política de saúde pública para combate ao Covid-19 baseada “no que temos no momento”, julgo até uma política de desespero. O estímulo ao tratamento precoce como o centro de distribuição de ivermectina, ozonioterapia, tratamento com cânfora, sem evidências científicas, aliado a uma população encorajada ao seu uso, fez o município liderar um ranking indesejável. Não há como conter uma pandemia com tanta descrença na ciência – avaliou.

O pesquisador Luiz Gustavo de Almeida, PhD em Microbiologia pelo Instituto de Ciências Biomédicas da USP e coordenador dos projetos educacionais do Instituto Questão de Ciência, ressalta o efeito que os medicamentos podem ter sobre o descuido da população em relação a outras medidas de prevenção. 

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– Possivelmente esse número elevado de letalidade, de 1,76%, venha dessa falsa sensação de segurança. É muito triste, porque estamos prestes a conseguir as vacinas – avalia.

O investimento de Itajaí no tratamento ‘preventivo’ , de mais de R$ 4 milhões, levou o Tribunal de Contas do Estado (TCE-SC) a instaurar um procedimento para analisar se a compra se deu com respaldo técnico. A compra ocorreu com dispensa de licitação.

A coluna procurou o prefeito Volnei Morastoni (MDB), que não quis se manifestar. Informou, por meio da Secretaria de Comunicação, que a resposta de seu gabinete é a nota oficial enviada pela Secretaria da Saúde.


Veja a nota na íntegra:

“O Município de Itajaí, por meio da Secretaria de Saúde, ressalta que vem adotando diversas estratégias no enfrentamento à Covid-19 ao longo da pandemia (ampla testagem, novas estruturas de atendimento, central telefônica e digital exclusivas, centro de reabilitação, treinamentos e contratação de profissionais de saúde, aquisição de insumos e equipamentos, entre outras) e não mede esforços para proteger a população, seguindo as medidas não farmacológicas recomendadas e ainda oferecendo tratamentos profiláticos.

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Além destas inúmeras medidas, é importante destacar o trabalho realizado pela Vigilância Epidemiológica de Itajaí na investigação de óbitos. O órgão segue à risca e com muita transparência todos os protocolos do Ministério da Saúde e do Governo do Estado, fazendo da cidade uma das únicas que testam todos os óbitos para covid-19 com diferentes exames (RT-PCR e testes rápidos). O serviço ainda faz a notificação de óbitos por confirmação clínico-epidemiológico e clínico-imagem.

Essa conduta, certamente, reflete em maior número de mortes confirmadas, evitando assim subnotificações e garantindo dados reais. Portanto, fazer um comparativo com demais municípios que não adotam as mesmas ações de combate e testagem de óbitos e não têm o mesmo número de habitantes pode apresentar números que não refletem a realidade”.

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