A tragédia da cidade de Manaus, em que as pessoas estão morrendo asfixiadas nos hospitais por falta de suprimento de oxigênio, é o ápice de um modelo de gestão da pandemia que ‘estica a corda’ até o limite de exaustão do sistema de saúde. Com experiência de quase um ano no enfrentamento à Covid-19 no país, não é mais possível dizer que estamos aprendendo a lidar com o vírus. A calamidade é fruto das escolhas que fizemos no Brasil.
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Em entrevista ao Estadão, o epidemiologista Jesem Orellana, da Fiocruz-Amazônia, disse que desde agosto os pesquisadores alertavam o governo para o risco de um novo colapso. Naquela época, cinco meses atrás, eles perceberam a mudança na evolução das contaminações. Mas os cientistas foram solenemente ignorados pelos governos e destratados por uma parte da população.
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Especialistas que ouvi nesta sexta-feira apontam que evitar o caos no Amazonas passaria por dois caminhos: planejamento de distribuição e efetivação de recursos por parte das diferentes esferas de governo e, principalmente, redução da circulação do vírus. Se aceitamos, por diferentes razões, que o coronavírus circule e contamine um número elevado de pessoas ao mesmo tempo, empurramos o sistema de saúde para o colapso.
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É uma questão matemática porque, se o crescimento no número de hospitalizações for abrupto, como foi no Amazonas, onde a média móvel de casos subiu 85% em uma semana, a quantidade de insumos nunca será suficiente. Faltou oxigênio. Poderia ter faltado outra coisa.
A única maneira realmente efetiva de conter tamanha pressão sobre o sistema de saúde, que leva cidadãos brasileiros a morrer por sufocamento e profissionais de saúde ao limite do esgotamento, é evitar que tantas pessoas sejam internadas ao mesmo tempo. Diversos países no mundo já nos mostraram como se faz.
No fim do ano, uma tentativa do governo do Amazonas de impor algumas restrições de circulação – que não passam nem perto do conceito de lockdown, muito mal usado aqui no Brasil – foram interditadas por pressão de pelo menos três categorias com motivações diferentes: os que ainda amargam prejuízos desde a primeira onda, os “cansados da pandemia” e os negacionistas.
Nos dois últimos grupos estão autoridades e grupos políticos que gostam de debochar das máscaras, que fazem pouco caso das medidas mínimas de distanciamento físico, que apostam em soluções milagrosas e que, agora, assistem o drama de longe. Com a tragédia montada, salve-se quem puder. É o resultado de uma política calcada em mentiras, que empurra brasileiros para a morte.
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Se tem algo que as cenas dolorosas de Manaus nos ensinam, é que permitir uma contaminação sem limites tem consequências. E elas não são aceitáveis.
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